Proteger o ambiente ou desenvolver?
17/01/2008
Olívia Massango
Leu o título, agora siga a viagem. Mas atenção! Não olha a paisagem apenas de uma única janela. Preparados? Então vamos.
Nada vem do nada. Já diziam alguns filósofos e esta afirmação eu não contesto. Sendo assim, pulando a origem do mundo e dos seres vivos cuja a explicação remeto à religião e à ciência, tudo o que o homem construiu desde os primórdios da sua existência colheu na natureza, numa relação que prefiro chamar de não pacífica.
Na actualidade, fala-se muito em protecção do meio ambiente num contexto de protesto às acções de desenvolvimento. como se fosse possível a evolução do homem sem roubar à natureza a sua natureza. Em Moçambique, basta recordar que em 2007 a Justiça Ambiental esteve empenhada em alertar o Governo sobre vários casos que considera constituirem uma ameaça ao ambiente, caso do projecto Mphanda Nkuwa, alegando exposição a riscos ecológicos, sísmicos, sociais e económicos.
Mas não nos esqueçamos de que tudo o que fazemos implica desnaturalizar a natureza. Aos ambientalistas, sem querer refutar os seus argumentos nem entrar para o mesmo tipo de discussão a que se propõem, desafio apenas a pensarem no ambiente de forma mais pormenorizada, isto é, a questionarem-se o quanto custou à natureza cada coisa que desfrutam em seu redor e se existe algo que de facto a poderia compensar por isso.
Primeiro, a casa onde vivemos é feita de quê? Se for de cimento, já é sabido que as fábricas de cimento poluem o ambiente. A arreia, a pedra, o ferro, e todo o resto, incluindo a madeira para os aros, tecto ou mobília, significa uma mexida na natureza. Segundo, questiono sobre o vestuário. Na sua maioria pode ser de algodão, que é uma cultura renovável – menos mal. Mas o calçado, a bolsa, o cinto, o casaco, etc., podem ser de proveniência de animais cujas espécies já estão em vias de extinção, quando toda a espécie é necessária para o equilíbrio do ecossistema, e não só.
Não vou mais além com estes exemplos, porque de facto tudo quanto usamos vem da natureza. Agora, o certo é que, ainda que queiramos, não é possível restituir tudo o que dela tiramos. Quando construímos estradas e erguemos edifícios tiramos o habitat há várias plantas e animais que, assim como os seres humanos, contribuem para o equilíbrio do ecossistema. E assim, a evolução do homem na sociedade faz-se numa afronta arrojada à natureza.
Os países hoje desenvolvidos, na sua maioria, fizeram vista grossa à preservação do ambiente e hoje já se justifica o alarido na matéria. E os países em vias de desenvolvimento, será que se justifica fazerem coro à importância da protecção ambiental? Não há dúvidas que sim, pela importância da própria natureza para a vida humana, mas não tenho certeza se poderemos desenvolver ou até mesmo sobreviver (com os hábitos que criámos) sem a agredir.
Desenvolvimento sustentável é o mais novo termo para tentar incutir nos governantes a ideia de um progresso que tenha em conta a protecção ambiental. Mas o certo é que este conceito, quando despido da sua beleza artificial, o que se vê é o homem num caminhar irreversível de agressão à natureza. Assim se fez o homem e assim vive.
O desenvolvimento pressupõe o alargamento do poder e a consequente conquista de mais espaços hoje verdejantes para os transformar em infra-estruturas... e, nesse sentido, enquanto quisermos energia eléctrica, água potável, infra-estruturas sofisticadas, etc., o desenvolvimento nunca será sustentável.
Então, que opção seguir? A resposta responsável está em cada um de nós e depois é só aceitar a reacção da natureza.
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