sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

DO CHITENGO ONDE MORO: carta para Mariazinha XII



Mariazinha vou passar ess fim de semana na Beira e à maneira antiga, sextas feiras, vou-te escrever mais uma carta, por sinala a primeira do ano.
A vida tem me apertado demais ultimamente e me sobra pouco ar para respirar. Escrever até continuo escrevendo, nas estrelas que me zombam nas noites escuras do Chitengo. Isso mesmo Mariazinha, ao som do rugido dos leões que parecem cada vez mais interessados em conviver com a gente lá no parque. Escrevo e muito. Perdido nas memórias dos tempos que vão se deluindo eu escrevo. Falta Mariazinha é tempo para botar isso no papel ou agora na telinha.
Mariazinha da quei da Beira continua se flando e muito é do MDM que com certeza já deves ter ouvido falar. Sinto que Chiveve anda meio divido. Conquanto todos estejam de acordo que a Renamo deixou de ser opsicao forte capaz de fazer frente a “Frente” e que uma nova forca política precisa-se, é acho que não existe o mesmo n´vel de concordia se Deviz tem ou não que estar a frente desse novo movimento. Eu pessoalmente ando dividido Mariazinha, e já por algumas vezes vim deixar as razões por detras dos meus receios, mas no fim do dia vamos deixar o tempo decidir.
A crise económica mundial chegou a Chitengo Mariazinha. Esta semana se decidiram um “set” de medidas para minimizar os custos e assim fazermos face a crise que apesar do optimismo dos nossos governantes elas chegou e esta nos afectando. Por falar em crise económica mundial recebi a dias um piada no meu email que vale a pena incluir nessa carta, ai vai:

"Um homem vivia à beira de uma estrada e vendia cachorros quentes.

Ele não tinha rádio, televisão e nem lia jornais, mas produzia e vendia bons cachorros quentes.

Preocupava-se com a divulgação do seu negócio e colocava cartazes pela estrada, oferecia o seu produto em voz alta e o povo comprava.

As vendas foram aumentando e, cada vez mais, ele comprava o melhor pão e as melhores salsichas.

Foi necessário também adquirir um fogão maior para atender uma Grande quantidade de fregueses, e o negócio prosperava... Os seus cachorros quentes eram os melhores em toda a região!

Vencedor, ele conseguiu pagar uma boa escola ao filho. O menino cresceu e foi estudar economia numa das melhores faculdades do país.

Finalmente, o filho já formado, voltou para Casa, notou que o pai continuava com a vidinha de sempre e teve uma séria conversa com ele: - Pai, então você não ouve rádio? Você não vê televisão e não lê os jornais? Há uma Grande crise no mundo. A situação do nosso país é crítica. Está tudo ruim. O mundo vai ter grandes problemas.

Depois de ouvir as considerações do filho doutor, o pai pensou: Bem, se meu filho que estudou economia, lê jornais, vê televisão acha isto, então só pode estar com a razão.

Com medo DA crise, o pai procurou um fornecedor de pão mais barato (e, claro, pior) e começou a comprar salsichas mais baratas (que eram, também, as piores). Para economizar, parou de fazer cartazes de propaganda na estrada.

Abatido pela notícia DA crise já não oferecia o seu produto em voz alta.

Tomadas essas 'providências', as vendas começaram a cair e foram caindo, caindo e chegaram a níveis insuportáveis e o negócio de cachorros quentes do velho , que antes gerava recursos até para fazer o filho estudar economia na melhor escola, faliu.

O pai, triste, então falou para o filho: - 'Você estava certo, meu filho, nós estamos no meio de uma Grande crise. '

E comentou com os amigos, orgulhoso: 'Bendita a hora em que eu fiz meu filho estudar economia, ele me avisou DA crise... '

Cada um tire as suas próprias conclusões.

Vou agora te pedir que me mandes as tuas “próprias conclusões”.
Deixe-me ficar por aqui, pois uma gripe anda me acompanhando a dois dias e tenho que ir no meu ninho.
Abracitos

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Diabolizando Mugabe


Hoje vou diabolizar Mugabe.
Vou diaboliza-lo tanto, que não sobre oque lhe diabolizarem depois de mim.
Estou consciente que por um sem número de pessoas e por um sem número de razões,sem numero de formas, Mugabe já foi diabolizado, mas eu vou faze-lo do meu jeito.
Não vou voltar assim tanto no tempo revirar a história para cavar os “pecados” do homenzinho. Há muitos que já o fizeram. O passado de Mugabe não me interessa.
Não vou falar da luta pela libertação nem da independência do Zimbabwe.
As confusões da Zanu-PF não me interessam falar.
Não vou falar dos acordos do Lancaster House. Sei tão pouco ou quase nada sobre eles que não correria o risco de revelar minha ignorância.
Não vou falar das “reformas agrárias”. A questão da redistribuição das terra é para mim complexa demais. A violência que acompanhou o processo dessa redistribuição foi doloroso demais. Não sei se a terra confiscada aos farmeiro Brancos foi realmente redistribuida aos Zimbabweanos. Se sim não sei que critérios foram usados nessa redistribuição. Não sei quem a recebeu. Por conta dessa ignorância não vale a pena falar desse assunto. Não vou nem quero falar das sanções impostas pelo ocidente, ao Zimbabwe. É coisa controversa demais para o meu pouco tempo e grande ânsia de diabolizar Mugabe.
Não vou falar da “operação limpeza”. Dos milhares de Zimbabweanos que viram suas casas e bens destruidos.
Não vou falar do surgimento do MDC de Morgan Tsivangirai. É que não sei se o movimento e o lider não são realmente marionettes do ocidente inventados para desestabilizar o calmo, pacífico e próspero Zimbabwe daqueles dias.
Não vou falar da perseguição que os membros e simpatizantes do MDC foram vítimas, as várias prisões de Tsivangirai. É que não sei nadinha da legalidade das detenções dele. Não vou falar das eleições de Março, da demora eternal no anúncio dos resultados. Não vou falar da forma como os Zimbabweanos se deixaram levar pelo medo, e perderam a opurtunidade de tirar Mugabe do poder.
Não vou falar da violência que se seguiu, quando ficou claro que embora por diferença, o MDC tinha vencido as legislativas. Se eu falasse dessas eleições teria que divagar por todas as manobras fraudulentas orquestradas pela Zanu- PF e meu interesse não é esse. Eu quero é diabolizar Mugabe. Dos acordos para o GUN. Estou com medo de falar da mediação de Thabo Mbeki.
Não vou falar da colera. É que uns dizem que foi fabricada pelo ocidente enquanto outros apontam o dedo acusador às condições precárias em que o povo zimbabweano vive. Se eu falasse disso teria que mencionar a falta de medicamentos, do embargo imposto às ONGs interessadas em prestar auxilio humanitário.
Eu não vou falar nada disso tudo, pois já muitos o disseram. Quem não se lembra da confusão surgida na véspera da cimeira Euro-Africana? Quem não se lembra da famosa “diplomacia silenciosa” apoiada por uns e contestada por outros? Quem pode ter se esquecido da felicitação de Edson Macuacua à victória de Mugabe? Eu quero é diabolizar Mugabe e nada mais.
Da inflacção de mais de 9,000,000%, de desemprego
de mais de 90% será que vale a pena falar? Das zimbabweanas que tristemente pululam as cidades de Tete, Beira e Chimoio se prostituindo. Valeria a pena falar?
Bem deixemos o passado. Meu negócio é futuro.
No próximo dia 21 de Fevereiro, este mesmo meu Fevereiro, Mugabe completa mais um ano de vida(85 anos). Todo ser humano tem o direito de comemorar, com festa de aniversário ou não, a data que veio ao mundo. O meu foi ontem, 12 de Fevereiro,passei-o trabalhando. Recebi um sem número de mensagens de felicitação, e um grupinho de amigos me esta organizando um jantarzinho amanhã(sábado). Num passado bem recente, se celebrou o de Guebuza e teve festa. Sendo Mugabe chefe dum estado, também merece uma festa. Mas não devia a festa dum chefe do estado ser medida pela economia do seu país? Li no DM de ontem que o governo zimbabweano anda numa campanha de “doações coercivas” junto das poucas empresas que sobreviveram ao colapso económico do Zimbabwe. Quantidades incríveis de Champagnes especias, lagostas, camarão caviar e outros luxousos(caros) pratos tem de estar presentes na festa do presidente enquanto o povo vai morrendo ou de fome ou de colera. Isso é que é não ter coração. Isso é que é ser do diabo. Isso é que se chama insensibilidade por parte de Mugabe. Isso é que é prova de que Mugabe está nem ai para o povo. E é por essa linha de pensamento que eu vou diabolize-lo. Esse “carasquice” de Mugabe de se regular enquanto o povo more, fla bem claro de quem esse homem é. E isso já não tem nad a a ver com o papo de soberania. Não se pode meter o ocidente nessa história, muito menos Tsviangirai.
O tipo é dos diabos mesmo!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

MAIS UM ANO DE VIDA:E se não fosse a sonico?


Faço anos amanha e quase me esqueci. Graças a SONICO, uma comunidade virtual da qual faço parte, que me mandou um email essa tarde a lembrar que “12 de Fevereiro é o aniversário de Nelson Livingston”.
Caramba! Que mancada como dizem os brazucas!
Bom que é meu aniversário nem? Imaginem só se fosse da namorada, noiva ou esposa. Que Deus me livrasse!
É que o corre corre da vida nos enche com cada uma que coisas bem importantes como essas ficam para lá. Que chatice.
Bem agora que me lembrei, deu para perceber que nasci em Fevereiro. Esse grande das grandes datas:
Fevereiro de Galileu Galilei
Fevereiro do Padre António Vieira.
Fevereiro de Abraham Lincoln
Fevereiro dos nossos Herois, bons e maus. Desejados e indesejados.
Fevereiro da super Terça, das manifestações populares.
Fevereiro da soltura do outro Nelson(46664).
Fevereiro dos amores, dos namorados, do São Valentim.
Fevereiro do Robert Mugabe.
É isso mesmo sim. Ele também veio ao mundo no mesmo Fevereiro que eu. E se fosse pelos mêses que nascemos, que Deus me livrasse.
Bem, amanhã fica registado mais um 12 de Fevereiro da minha vinha ao mundo nos longíquos anos que correm apressados aos esquecimento. Um big Thanks a malta da Sonico que me alertouu. Ai que vergonha!

Do III Acampamento Lusófono dos Direitos Humanos à vitória da Beira


O mano Azagaia escreveu no “Corre e Avisa”, newsletter da Cotonete, algo relacionada com a sua recente participação no Acampamento Lusófono dos Direitos Humanos e sobre a victória de Deviz Simango na Beira. Dada a importância dos assuntos, decide trazer essa mensagem ao “Meu Mundo”.

Quando pensei em escrever-vos, pretendia falar-vos de dois acontecimentos. Primeiro sobre a minha ida a Cabo Verde onde realizou-se o III Acampamento Lusófono dos Direitos Humanos. Segundo, sobre a vitória da Beira, coroada no dia 7 de Fevereiro pela tomada de posse o Eng. Davis Simango. Entretanto, surgiu um paralelismo interessante entre estes dois acontecimentos, que na minha opinião, vale a pena partilhar, abordando de uma só vez os dois assuntos.
De 2 a 6 de Fevereiro na cidade da Praia-Cabo Verde, jovens activistas, juristas, economistas, jornalistas, estudantes (e eu músico) de todos os países lusófonos, sendo que Moçambique e Angola tiveram maior representatividade em termos de número, estiveram reunidos para discutir direitos humanos. Irmanados pela língua e pela mesma causa, trocamos experiências enriquecedoras e interessantes. Senão vejamos: fiquei a saber que em Guiné-Bissau também trafica-se crianças, e conscidentemente, são levadas para aprender o Alcorão nas Madrassas em Dakar-Senegal. Essas crianças são posteriormente obrigadas (pelos Sheikes) a mendigar nas ruas, chegando estes a estipular um valor base que cada uma deve trazer ao fim do dia e claro, as que não cumprem as “metas” são violentadas. Fiquei a saber que em Angola, as sessões do parlamento não são exibidas em directo pela televisão nacional e que pela maioria parlamentar que a MPLA detém, chega a ficar com 80% do tempo durante as sessões…imaginem o que resta para a oposição. Fiquei também a saber que provavelmente, o parlamento angolano é que vai passar a eleger directamente o Presidente da República, parece que a lei já foi proposta, e como o MPLA tem a maioria, penso que o Zédu vai continuar a mandar por lá. Imaginem só se a FRELIMO decide fazer o mesmo!!...Um pouco por toda a lusofonia existem coisas do género que merecem toda a nossa atenção.
Foram dias de discussão e acredito que para além da carta ou comunicado de Praia que foi produzido, penso que através dos órgãos de informação chegará a si, cada um dos participantes tirou as suas próprias conclusões sobre o encontro. De entre as várias conclusões, penso que as mais importantes são: a necessidade urgente de fortalecer a sociedade civil para poder fiscalizar a governação, visto que a democracia em África é usada para favorecer apenas a classe governante. Atenção, isto não é pessimismo, é realidade. Os processos eleitorais, alicerces da democracia em África, são extremamente fraudulentos e o povo não participa na governação desta maneira. O Zimbabué é um exemplo disto. Angola e Moçambique também. Esses políticos não hesitam em trapacear, comprar votos e até mesmo ignorar relatórios internacionais sobre os processos eleitorais, só para se manterem no poder. Por isso, urge a criação de uma nova maneira de nós, povo, participarmos da governação de nossas nações. Fortalecer a sociedade civil é essencial. A regra é: PARA CADA LADRÃO(seja ele político ou não), UM CIDADÃO-POLÍCIA. Isso implica a denúncia constante dos desmandos, roubos e rombos, crimes contra os direitos humanos. Temos jornais independentes (queremos acreditar!), temos a Internet, tudo isto para facilitar o fluxo de informação alternativa, uma vez que os governos africanos controlam boa parte da imprensa. Quem sabe escrever,escreve. Quem sabe falar, fala. Quem sabe fazer, faz. Desde os meios clássicos ao mais tradicionais, podemos e devemos dar o nosso contributo, disseminando informação útil para o cidadão. Sim, esta é a era da informação. De que estamos a espera para usá-la em nosso benefício? O que preocupa não é grito dos maus, mas o silêncio dos bons. Já dizia Martin Luther King. E digo-vos, o silêncio é uma arma a favor dos maus, quando quebrado, encomenda a todos eles. Esse é o nosso objectivo como sociedade civil, ENCOMODAR. Como num jogo de futebol onde não se deixa o adversário respirar, pensar, e quanto mais atacar.
Chegados aqui, é altura de falar-vos como o Acampamento de Praia está ligado a vitória da Beira. Muito simples: a Beira só conseguiu eleger a pessoa que confiava porque tem um povo vigilante, soberano. Uma sociedade civil forte, controladora, atenta. Sim, esses são os adjectivos de que nós precisamos. Não duvido das tentativas de fraude que lá ocorreram. Resultados preliminares contraditórios. Mas a vontade daquele povo foi tão grande e esmagadora, que foi impossível enganá-los. Sim, esse é o exemplo a seguir. É de actos dessa natureza que vos falo. Desde as eleições ao dia a dia. Não basta eleger, é preciso também fiscalizar, estarmos atentos e denunciarmos as irregularidades, exigirmos a punição. Estes sãos os nossos deveres que salvaguardam os nossos direitos.
Por último, quero dizer duas coisas: uma é, que a Corrupção passe a ser considerada Crime Contra os Direitos Humanos porque promove a pobreza, a desigualdade de oportunidades para as pessoas. A segunda é: parabéns à Beira e ao Daviz Simango, continue fiel ao povo que te elegeu e a todos os moçambicanos. É para todos os beirensesses e moçambicanos a música “Corre e avisa”*.

Mano Azagaia

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Saudades do Dede


Na blogsfera(no virtual) é como na “na vida real” mesmo, temos amigos próximos e distantes. Dede é próximo para mim. Para além de trocarmos ideias nos nossos blogs, nos “cruzavamos” em muitas outras virtualidades e de várias maneiras que tinhamos inventado. O seu rico Miradouro era uma das primeiras “janelas” que eu abria para deixar o ar de notícias me inundar os pulmões do cérebro. Sempre que podiamos, trocávamos umas cartas, aqui e lá.
De repente Dede sumiu. O Miradouro parou no tempo e lgo depois de lhe terem remodelado a cara. As cartas nunca mais, e eu, SAUDADES.
Hoje decidi escrever-lhe qualquer coisa. Decidi querer saber onde anda o meu amigo Dede. Quem o souber por favor. Asseguir minhas saudades:


Dede meu caro!
Sumir, sumiste e muito.
Sumiste bem sumido.
Que mesmo bem tentado, não deu para não te perceber o sumisso.
O miradouro “enteando-se”.
As nossas corresponências “entupidas” algures.
Como não te perceber o sumisso?
Queria muito saber é por onde andas.
E por quantas andas.
A vida nos prega dessas eu sei.
Sei tanto caro Dede.
Aquele saber, de saber na pele própria
Quando a gente quer e não pode
Ou pode mas não deve
A vida sabe nos aprontar eu sei.
Consola-me só.
Saber que a vida não pára.
Não pára nunca mesmo não é?
Pára aqui mas continua ali
Continua algum lugar
E como continua!
E quando a vida volta aqui
Tem a mania de voltar com tudo
Por isso eu aprendi a esperar
Doloroso como esperar é
Aprendir a esperar que a vida volte
Vá ela onde tiver ido
E tem essa coisa que chamamos saudades
Caro Dede!
Coisa que sente na ausência
Mas se mede na presença
É que saudades
Só temos do que nos está ausente
E do que já nos deliciou com presença
Saudade do ontem
Que se foi mas continua bem aqui
Caro Dede!
Como nada termina
Vou esperando que voltes.

Nelson Livingston

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

DEIXA-ME SER TEU PAI: pela chegada do Mukendy


O meu amigão(virtual) Bamo do “Insatisfação”, entrou em Dezembro para o clube dos casados e recentemente, com a chegada do seu grande Mukendy,entrou para o clube dos pais. Nessa mania de ornamentar a vida com as palavras, vesti sua pele de pai novato, e com o pincel das letras, pintei esse “DEIXA-ME SER TEU PAI” que dedico aos tres(Bamo, Ilda, e Jordan)

DEIXA-ME SER TEU PAI

Olhar no fundo
Dos teus olhos inocentes
Sugar essa minha minha beleza
Estampada no teu rostinho fofo
Deixa-me aprender

Deixa-me ouvir-te pela noite
Cantar ou chorar com as estrelas
Só nós dois acordados
Falarmos dos segredos da vida
Deixa-me experimentar

Deixa-me entender-te os gestos
Mãos levantadas
Pés pontapeando os céus
Dedinho na bocas
Deixa-te tirar as dúvidas

Tal como nunca foste filho
Nunca fui pai, tu sabes
Deixa-me aprender consigo
A ser o pai que mereces

Nelson Livingston

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Os Pecados do PÚBLICO

Moçambique passou a ter mais um semanário. Chama-se Jornal Público. Sai às segundas feiras ao preço de 20 meticais. Li as duas primeiras edições e me senti compelido a escrever ao director.

Senhor Director!

Um dos perigos da arte de escrever, reside na possibilidade de sermos lidos entendidos e interpretados de forma completamente diferente da que pretendiamos. Homens de diferentes côres,tamanhos e sabores, chegam aos nossos escritos munidos de vários saberes e intenções, por isso senhor director, é quase natural que nos interpretem de formas diferentes. Para evitar o risco de ser mal interpretado por si sr. Director e ou por todos que tiverem acesso a essa carta, quero deixar bem claro que o meu único objectivo é contribuir para a melhoria da qualidade do jornal que o Senhor dirige.

Quero começar por elogiar genuinamente a iniciativa e sua coragem de estar a frente desse empreendimento. Parabens! “Boas vindas e longa vida Jornal Público”.

É sempre com essa atitude que deviamos encarar o nascimento de um novo jornal, novo partido político, instituição de ensino secundário geral/superior privada ou estatal, uma nova empresa, etc. Multiplicam-se as alternativas na escolha do produto a consumir, surge competitividade que resulta em melhoria de qualidade e acabam-se com certos monopólios que geram arogância.

Elogiar genuinamente a um produto novo como me propus a fazer, diferente de “puxar o saco/lamber bota”, deve incluir se necessário, uma crítica construtiva onde se apontam as fragilidades do produto e se sugerem soluções.

Li com a devida atenção as duas primeiras edições do jornal e achei-o com muitos erros de diferentes natureza, contradições, exageros e “inverdades”.

Para não ser generalista e subjectivo, lembre-se, senhor director que o objectivo é melhorar o produto, vou aqui apontar alguns aspectos dos mais gritantes:

Um dos títulos da primeira edição dizia, “Deputada protegia Todinho”. No corpo da notícia fala-se do parententesco da deputada Açucena Duarte com Todinho, parentesco que eu gostaria que fosse aprofundado e apresentado. Acho que não custava muito. Me preocupou ainda falar-se de Açucena Duarte como ex-ministra da justiça. Senhor director, não consegui me lembrar do momento em que Açucena Duarte desempenhou a função de ministra da justiça como o artigo afirma. A minha curta memória se lembra de Esperança Machavele, José Abudo e Ossumane Ali Daudo como antecessores da actual Benvinda Levi.

Havendo realmente parentesco, que como já disse, não custava nada averiguar e incluí-lo no artigo, Açucena não tinha que deixar de dar “último adeus” ao seu parente pelo facto de ter sido um foragido e perigoso cadastrado, e nem pelo facto dela ser governante ou ex-governante. Os condenados a pena capital nos países onde essa pena é aplicável, tem tido o direito à funerais decentes acompanhados pelos familiares seja lá quem forem e que cargos governamentais ocupem.

Senhor director, o argumento da contestação da presença da imprensa por parte de Açucena Duarte é quanto a mim bastante frágil. Por se tratar dum momento de muita dor e consternação acho razoável que os familiares se sintam no direito de interditar a presença dos jornalistas que despidos de qualquer solidariedade pelo defunto ou pelos enlutados, se fazem ao local, pura e simplesmente para produzir e posteriormente vender notícia. Me lembrei senhor director que a cerimónia fúnebre do grande músico sul africano Lucky Dube, foi restrito à familiares, alguns amigos e vedado à imprensa. É uma questão de respeitar a dor dos enlutados eu penso.

Outro grande título tinha a ver com as negociações de rendição de Chaúque. Achei estranho, muito estranho que a vossa fonte tenha dito oque disse sob anonimato. Dizer de boca cheia, com toda autoridade que “ nós não prometemos nada, pedimos que se apresentasse numa das esquadras...nós garantimos que nada de mal iria acontecer” e sob anonimato me deixou com ”uma pulga atrás da orelha” e a foto de José Weng Comandante da PRM da Cidade de Maputo estampada tanto na capa como no artigo, faz-me pensar se não teria sido a fonte. Se não qual é a relevância?

Na página 8, senhor director, me dei com o artigo “ Sonho perdido”. Achei incrível como dum texto curto se podem “coleccionar” mais de vinte erros desde ortográficos, concordância e de estrutura gramatical.

Na página 20, senhor director, no artigo com “Moticomo aposta na música Tradicional” segue-se um parágrafo que nada tem a ver com o artigo, aliás é repetição do artigo da página 12, que trata de fabrico, venda e consumo de bebidas de fabrico caseiro.

Na segunda edição temos a manchete “ Pacheco exprime genreral Pinto”. A imagem, senhor director, sugere “espremer” e não exprimir, embora no corpo da notícia dificilmente se ache algo sobre exprimir ou espremer. Me perguntei se terá o redactor seguido a linha do humorista Castigo Muchanga que numa das galas do Show de Talentos, falou de “exprimir sentimentos” enquanto fazia gestos de espremer o coração. Até que a “confusão” humorística de Castigo fez sentido, se tomarmos em conta que os sentimentos “moram” no coração, há que espremê-lo para exprimí-los(os sentimentos). Erro gritante como esse, senhor director, me coloca na duvida se estamos perante casos de distracção ou pura ignorância.

A carta da página 5 com título “violência nos programas televisivos” debruça-se entre outros assuntos, acerca da imoralidade. Esse assunto é retomado no Editorial, onde se fala de “filtração de imagens imorais, promoção do nú, e cenas de sexo em horas de convívio familiar. Achei pura hipocrisia condenar-se tudo isso no jornal e na mesmíssima edição termos um cantinho para “consultas sexuais” onde a Dr. Maria Matsinhe nos empresta o seu saber sexual. Não vejo muita diferença, senhor director, entre ver e ler uma cena de sexo.

Senhor director para terminar fui analisar o texto da sms que sustenta as ameaças recebidas pelo autor do artigo sobre Açucena Duarte. Não sou perito em seja lá oque for, e nem pretendo negar que tenham havido tais ameaças, quero apenas apontar as fragilidades da prova. O texto começa por uma saudação, quanto a mim, carinhosa demais para ser dum ameaçador. “Oi, tudo bom? Eu tou óptima...”. Vamos mesmo senhor director acreditar que num ambiente de hostilidade como o de ameaça teria o autor tempo de perguntar pela saúde da “vítima” ? Para mim a sms vem duma amiga do autor(a palavra “óptima” e não óptimo como por distracção ou propositadamente transcreveram, me sugere uma remetente). Pretendia a remetente, alertar o autor dos possíveis riscos pelo artigo.

Senhor director, por estes e outros aspectos cheguei à conclusão que o jornal precisa melhorar. E tenho certeza que pode melhorar bastando um pequeno esforço. Teremos que ter mais cuidado na revisão. Continuarmos a ter erros graves como os que aqui apontei, pode significar como alguém disse “desmazelo, falta de bom gosto, falta de brio, de exigência, falta de vontade de fazer bem as coisas que infelizmente, cada vez mais caracteriza a nossa sofrida sociedade”. Erros cometemos todos mas, por favor senhor director, nessa minha carta por exemplo podem existir alguns.

Senhor director, não lhe peço que publique essa carta no jornal, mas também não o proibo. Queria muito, o entanto, que o conteúdo fosse compartilhado com seus redactores.

Com os melhores comprimentos.

Nelson Livingston

P.s: Vou deixar uma cópia no meu blog site. Meu Mundo: http://meumundonelsonleve.blogspot.com