sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Leia o "Olhar de Mário"

Essa brincadeira precisa ter fim



O jovem na imagem escapou à um linchamento certo na cidade da Beira que se notalizou desde os finais do ano passado em casos de linchamentos.
Estava tudo a posto para que o sujeito na imagem passasse para as estatísticas dos linchados. Acusado de ter roubado alguma coisa foi amarado e posto um pneu no pescoço e asseguir ateava-se fogo nele e deixava-se morrer lenta e violentamente consumido pelas chamas do pneu. Isso aconteceria diante de olhares de seus semelhantes, homens e mulheres, pais e mães. Até crianças teriam o "privilégio" de assistir à esse macabro espectáculo.
Faz tempo que venho repudiando a essa prática. Não olho muito para as causas que são muitas, mas presto mais atenção para a "desumanidade" que lhe é característica.
Será que existe algo que se possa fazer para estancar esse mal? Existindo oque será que se pode fazer? Quem tem que fazer?
Me preocupa mais ainda o facto de deixarmos de ver as consequências "eternas" desses actos. Para mim com cada linchado, cada linchamento, linchamos um pedaço de nós mesmos. Há uma porção da nossa"humanidade" que se perde para sempre com cada acto que presenciamos. O jovem da imagem por exemplo ainda está vivo mas traumatizado para o resto dos seus dias. Como disse na postagem anterior, tendemos a nos psico-adaptar a ponto de perder a sensibilidade. Acabaremos por não nos chocarmos mais diante de imagens como essa.
É urgente acabar-se com essa "brincadeira"

O PAÍS ONDE MORO: Carta para Mariazinha I


Mariazinha vive longe, vive na minha imaginação e quer notícias do país onde moro. Chega mesmo a ser muito exigente. Vou tentar manter-me fiel à promessa que lhe fiz e escrevo algo para ela todas as sextas feira.

Olha Mariazinha, tens a mania de me crucificar acusando de nunca te mandar notícia daqui do país onde moro. Tens que entender que as vezes nos habituamos nas coisas de tal maneira que deixamos de ver a "notícia" que elas podem ser para quem não as vive como é o teu caso. Pense nos linchamentos por exemplo Mariazinha, acontecem tão frequentemente que que a gente acaba se habituando a eles, já não nos causam a repulsa de antes. Se vou-te contar do Mário por exemplo é porque ele não chegou a ser linchando. Era apenas um rapaz(22 anos) a quem os deuses tiveram misericórdia suficiente e moveram tudo para que mesmo depois de lhe terem colocado o "colar da morte" ele não chegasse a morrer. Podes ver a foto dele lá no meu cantinho das palavras dá para perceber que Mário viverá o resto dos seus dias marcado pela experiência de ontem.
Olha Mariazinha, notícia que é noticia mesmo é velho caso do nosso PGR. Esse mesmo sim o famoso Augusto Paulino que se tornou famoso de pois de ter julgado o famoso caso Carlos Cardoso. Dizem que ele usou mal uns 300 paus do tribunal. 300 paus Mariazinha deve ser uma ninharia para gente grande como ele "mas a ocasião faz ladrão" sabes como é Mariazinha. Esse assunto é importante porque já muito tinta correu a sua volta. Falou-se e escreveu-se muito em torno disso.
Sabes como as pessoas olham as coisa de forma diferente Mariazinha. Uns juram de pés juntos que o PGR é inocentíssimo. Se desses uma olhada para os artigos do velho Paul Fauvet lá no allAfrica ficavas a saber como ele tem a certeza que o Zambeze(semanário da esquerda ou direita, nem lembro mais que lado é qual) está numa campanha de difamação contra o santíssimo PGR. O próprio PGR Mariazinha chegou a "ameaçar" processar o jornal.
Mariazinha eu penso que desta vez(Paulino no banco dos réus) fomos de novo enganados. Não é fome de justiça que fez com que decidissem "julgar" Paulino e com a urgência que parecem ter, eu penso que pretendem apenas lhe "limpar o traseiro" bem antes de ir ao parlamento falar do "estado bom" da justiça em Moçambique. Quem não sabe que os "chatos" dos deputados da oposição não deixariam passar essa de PGR arguído mal esclarecido? Vamos esperar para ver Mariazinha e sempre que a notícia me parecer notícia eu te mando alguns recados.
Olha Mariazinha o país onde mora não anda como nos dias de ontem não. Sabe como o povo era pacifico? Engolia sapos e calava? Olha que desde o 5 de Fevereiro a coisa mudou. Há muita gente revoltada e expressando essa revolta. O barulho dos chapas não parou ainda não e pelo que vejo cedo não vai parar. Enquanto isso Mariazinha o nosso presidente foi dar um voltinha lá pelo "the Netherlands", precisa de ar fresco sabe como é? O ar de Moçambique anda todo pesadinho, poluído pelos fumos de pneus queimando nas ruas das manifestações ou nos pescoços dos Mários. Mariazinha uma notícia mais minhas, voltei á escola e só está sendo bom. Tenho um monte de colegas com os quais discuto mundos que pouco ou nada tem a ver com o curso. ontem por exemplo falamos da recente conferência Internacional de Lésbicas. Como podes imaginar uns ficaram dum lado e outros ficaram doutro. Oque penso que falta e falta é a capacidade de argumentar. Defender de forma lógica oque pensamos. O homossexualismo não presta? Porque? E basta eu perguntar porque alguém acha que não presta, pensam que quero com isso dizer que presta. E se presta como defender isso com argumentos claro. Essa vida de estudante vai me proporcionar bons momentos para conhecer as pessoas e logicamente me conhecer a mim mesmo. Vou terminar Mariazinha. Correndo tudo bem voltamos a falar na próxima sexta feira. Por falar de sexta feira quero que saibas que estou me ajustando a nova realidade de estudante e as sextas feira, os fins de semanas passaram a ter um novo significado.
Até lá um abraço

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Meu Mundo Cresceu



Meu mundo cresceu. Para além de tudo que já vinha fazendo, passei a partir de ontem a ser estudante do curso de inglês na Universidade Pedagógica delegação da Beira. Tenho certeza que essa nova dimensão do meu mundo vai ser rica de experiências. Cresce meu mundo. Cresce o espaço de fricção. Cresce o número de pessoas que vão se "esbarrar" comigo. Comentários, criticas, elogios e por ai em diante. Ontem mesmo já conheci algumas das pessoas que farão o meu quotidiano de estudante. Vou conviver com essas pessoas nas mais diversas circunstâncias. Vou dar e receber.Vou crescer.
Olho para as pessoas como presentes que nos são dado pela vida. E diante de presentes queremos abrir e descobrir, desvendar e por ai em diante. Os presentes são naturalmente diferentes uns dos outros. Há presentes caros e outros mais vulgares. Uns vem de longe e outros de perto. Fáceis de abrir e outros mais difíceis. Alguns presentes vem "danificados". Passaram por algumas mãos antes de chegarem à nós e trazem marcas vivas dessas mãos. Há que entender esses presentes mas há que entender-me a mim mesmos antes de entendê-los.
Vou, tenho certeza, trazer para este meu mundo, o mundo que o meu mundo de estudante vai me proporcionar.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Um mal chamado Alzheimer.


Caiu-me na caixa de correio a mensagem que se segue e decidi trazê-la ao meu mundo. O meu obrigado ao Ruben Rodriguês que do Brazil tem trocado ideias comigo.


"Roberto Goldkorn é psicólogo e escritor.

Meu pai está com Alzheimer.
Logo ele, que durante toda vida se dizia "o Infalível".
Logo ele, que um dia, ao tentar me ensinar matemática, disse que as minhas orelhas eram tão grandes que batiam no teto.
Logo ele que repetiu, ao longo desses 54 anos de convivência, o nome do músculo do pescoço que aprendeu quando tinha treze anos e que nunca mais esqueceu: esternocleidomastóideo.

O diagnóstico médico ainda não é conclusivo, mas, para mim, basta saber que ele esquece o meu nome, mal anda, toma líquidos de canudinho, não consegue terminar uma frase, nem controla mais suas funções fisiológicas, e tem os famosos delírios paranóicos comuns nas demências tipo Alzheimer.
Aliás, fico até mais tranqüilo diante do "eu não sei ao certo" dos médicos;
prefiro isso ao "estou absolutamente certo de que...", frase que me dá arrepios.
Há trinta anos, não ouvia sequer uma menção a essa doença maldita.
Hoje, precisaria ter o triplo de dedos nas mãos para contar os casos relatados por amigos e clientes em suas famílias.
O que está acontecendo?
Estamos diante de um surto de Alzheimer?
Finalmente nossos hábitos de vida "moderna" estão enviando a conta?
O que os pesquisadores sabem de verdade sobre a doença?
Qual é o lado oculto dessa manifestação tão dolorosa?

Lendo o material disponível, chega-se a uma conclusão: essa é uma doença extremamente complexa, camaleônica, de muitas faces e ainda carregada de mistérios.
Sabe-se, por exemplo, que há um componente genético.
Por outro lado, o Dr. William Grant fez uma pesquisa que complicou um pouco as coisas.
Ele comparou a incidência da doença em descendentes de japoneses e de africanos que vivem nos EUA, e com japoneses e nigerianos que ainda vivem em seus respectivos países. Ele encontrou uma incidência da doença da ordem de 4,1 para os descendentes de japoneses que vivem na América, contra apenas 1,8 de japoneses do Japão.
Os afro-americanos vão mais longe: 6,2 desenvolvem a doença, enquanto apenas 1,4 dos nigerianos são atingidos por ela.
Hábitos alimentares?
Stress das pressões do Primeiro Mundo?
Mas o Japão não é Primeiro Mundo?
Não tem stress?
A alimentação parece ser sem dúvida um elo nessa corrente, e mais ainda o alumínio. Segundo algumas pesquisas, a incidência de alumínio encontrada nos cérebros de portadores da doença é assustadoramente alta.
Pesquisas feitas na Austrália e em alguns países da Europa mostraram que, em ratos alimentados com uma dieta rica, o sulfato de alumínio (comumente colocado na água potável para matar bactérias) danificou os cérebros dos roedores de forma muito similar à causada nos humanos pelo Alzheimer.
Pesquisas do Dr. Joseph Sobel, da Universidade da Califórnia do Sul, mostraram que a incidência da doença é três vezes maior em pessoas expostas à radiação elétrica (trabalhadores que ficavam próximos a redes de alta tensão ou a máquinas elétricas).
Mas não param por aí as pesquisas, que apontam a arma em todas as direções.
Porém, a que mais me chocou e me motivou a fazer minhas próprias elucubrações foi o estudo das freiras.
Esse estudo, citado no livro A Saúde do Cérebro, do Dr. Robert Goldman, Ed. Campus foi feito pelo Dr. Snowdon, da Universidade de Kentucky. Eles estudaram 700 freiras do convento de Notre Dame. Na verdade, eles leram e analisaram as redações autobiográficas que cada freira era obrigada a escrever logo ao entrar na ordem.
Isso ocorria quando elas tinham em média 20 anos. Essas freiras (um dos grupos mais homogêneos possíveis, o que reduz muito as variáveis que deveriam ser controladas) foram examinadas regularmente e seus cérebros investigados após suas mortes.
O que se constatou foi surpreendente. As que melhor se saíram nos testes cognitivos e nas redações - em termos de clareza de raciocínio, objetividade vocabulário, capacidade de expressar suas idéias, mesmo apresentando os acidentes neurológicos típicos do Alzheimer (placas e massas fibrosas de tecido morto) não desenvolveram a demência característica da doença.
Ou seja, elas tinham as mesmas seqüelas que as outras freiras com Alzheimer diagnosticado (e que tiveram baixos escores em testes cognitivos e na redação), mas não os sintomas clássicos, como os do meu pai.
A minha interpretação de tudo isso: não temos muito como controlar todos os fatores de risco apontados como os vilões - alimentação, pressão alta, contaminação ambiental, stress, e a genética (por enquanto). Mas podemos colocar o nosso cérebro para trabalhar.

COMO?
Lendo muito, escrevendo, buscando a clareza das idéias, criando novos circuitos neurais que venham a substituir os afetados pela idade e pela vida "bandida".
Meu conselho: é para vocês não serem infalíveis como o meu pobre pai; não cheguem ao topo nunca, pois dali, só há um caminho: descer.
Inventem novos desafios, façam palavras cruzadas, forcem a memória, não só com drogas (não nego a sua eficácia, principalmente as nootrópicas), mas correndo atrás dos vazios e lapsos.
Eu não sossego enquanto não lembro do nome de algum velho conhecido, ou de uma localidade onde estive há trinta anos. Leiam e se empenhem em entender o que está escrito, e aprendam outra língua, mesmo aos sessenta anos.
Não existem estudos provando que o Alzheimer é a moléstia preferida dos arrogantes, autoritários e auto-suficientes, mas a minha experiência mostra que pode haver alguma coisa nesse mato
Coloquem a palavra FELICIDADE no topo da sua lista de prioridades: 7 de cada 10 doentes nunca ligaram para essas "bobagens" e viveram vidas medíocres e infelizes - muitos nem mesmo tinham consciência disso.
Mantenha-se interessado no mundo, nas pessoas, no futuro. Invente novas receitas, experimente (não gosta de ir para a cozinha? Hum... Preocupante.)
Lute, lute sempre, por uma causa, por um ideal, pela felicidade. Parodiando Maiakovski, que disse "melhor morrer de vodca do que de tédio", eu digo: melhor morrer lutando o bom combate do que ter a personalidade roubada pelo Alzheimer.

Dicas para escapar do Alzheimer:

Uma descoberta dentro da Neurociência vem revelar que o cérebro mantém a capacidade extraordinária de crescer e mudar o padrão de suas conexões. Os autores desta descoberta, Lawrence Katz e Manning Rubin (2000), revelam que NEURÓBICA, a "aeróbica dos neurônios", é uma nova forma de exercício cerebral projetada para manter o cérebro ágil e saudável, criando novos e diferentes padrões de atividades dos neurônios em seu cérebro.

Cerca de 80% do nosso dia-a-dia é ocupado por rotinas que, apesar de terem a vantagem de reduzir o esforço intelectual, escondem um efeito perverso; limitam o cérebro.
Para contrariar essa tendência, é necessário praticar exercícios "cerebrais" que fazem as pessoas pensarem somente no que estão fazendo, concentrando-se na tarefa. O desafio da NEURÓBICA é fazer tudo aquilo que contraria as rotinas, obrigando o cérebro a um trabalho adicional. Tente fazer um teste:
- use o relógio de pulso no braço direito;
- escove os dentes com a mão contrária da de costume;
- ande pela casa de trás para frente; (vi na China o pessoal treinando isso num parque);
- vista-se de olhos fechados;
- estimule o paladar, coma coisas diferentes;
- veja fotos de cabeça para baixo;
- veja as horas num espelho;
- faça um novo caminho para ir ao trabalho.

A proposta é mudar o comportamento rotineiro.
Tente, faça alguma coisa diferente com seu outro lado e estimule o seu cérebro.
Vale a pena tentar!
Que tal começar a praticar agora, trocando o mouse de lado?
Que tal começar agora enviando esta mensagem, usando o mouse com a mão esquerda?

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

NOVO CUBA (III)


Por: SUSANA SALVADOR

Igreja Católica pede a Raúl Castro "medidas transcendentais"
Em Havana, há alguma decepção em relação às mudanças anunciadas A Igreja Católica cubana pediu ontem ao novo Presidente do país para que adopte "medidas transcendentais" de forma a satisfazer "as ânsias e inquietudes expressas pelos cubanos". Raúl Castro, que no domingo sucedeu ao seu irmão Fidel, recebe hoje em Havana o número dois do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, que está na ilha a assinalar o décimo aniversário da viagem do papa João Paulo II à ilha.

Nas ruas de Havana, a decepção em relação às medidas anunciadas por Raúl era ontem visível em algumas conversas. "Não esperava um grande pacote de medidas como as dos anos 90, mas bem, esperava algumas concretas, e ontem [domingo] tudo foi muito verbal", disse à AFP Rey, condutor de um bicitáxi. "Penso que resolver os problemas da agricultura é fundamental e eliminar as interdições excessivas também, mas é preciso fazer muito mais e mais depressa", indicou Xiomara Castellanos, uma reformada de 67 anos.

"O país terá como prioridade satisfazer as necessidades básicas da população, tanto materiais como espirituais, partindo do fortalecimento sustentado da economia nacional e da sua base produtiva", disse o novo líder de Cuba no seu discurso de tomada de posse. Entre as mudanças "dentro do socialismo", Raúl defendeu reformas para modernizar a estrutura do Estado, permitindo uma "gestão mais eficiente do Governo".

No sector económico, anunciou que procederá ao levantamento das "interdições" sobre a economia, sem precisar quais, e ainda uma "reavaliação progressiva, gradual e prudente do peso cubano". O salário médio em Cuba é de 408 pesos, cerca de 12 euros, mas os produtos importados vendem-se em dólares.

Contudo, Raúl revelou que consultará o seu irmão em temas essenciais para o país - a economia, a diplomacia e a defesa. "Assumo a responsabilidade que me pedem com a convicção de que, como afirmei muitas vezes, o comandante-em-chefe da revolução é só um. Fidel é Fidel, todos o sabemos bem", indicou, antes de pedir à Assembleia Nacional que aprovasse a consulta do antigo líder naqueles temas. Simbolicamente, a cadeira de Fidel ficou sempre vazia.

É "mais do mesmo" para a dissidência cubana. "Não há surpresas, excepto a nomeação de Machado Ventura, porque é do sector mais ortodoxo do aparelho", afirmou à EFE o líder da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, referindo-se ao novo primeiro vice-presidente do Conselho de Estado. Elizardo Sanchéz indicou ainda que "o poder de Fidel Castro continua a estar acima do poder da sociedade e do Estado".

Na primeira reacção, o Departamento de Estado dos EUA tinha dito que a nomeação de Raúl Castro deixava antever "um potencial de mudança, que deve vir do interior" da ilha. Mas, ontem, o que tinha mudado era apenas a posição de Washington: "A única coisa que mudou é que apareceu um novo dirigente mas nada indica que isso permitirá aos cubanos aspirar a um futuro de liberdade e prosperidade", disse a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino.

Por seu lado, a Comissão Europeia indicou estar disposta a "um diálogo político construtivo" com Raúl. O comissário europeu para o Desenvolvimento, Louis Michel, afirmou que a sua visita à ilha, a 6 e 7 de Março, será uma ocasião para "fazer avançar" esse diálogo. Já o alto-representante da União Europeia, Javier Solana, revelou que esperava "melhores notícias, mais abertas" sobre a sucessão de Fidel. Com agências

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Leia: Os Povos do Meu Povo

NOVO CUBA (II)


Pedro Olavo Simões

Mera formalidade de uma sucessão programada desde os primórdios da revolução cubana a Assembleia Nacional nomeou Raúl Castro Ruz para a chefia do Estado, desde 1959 nas mãos do irmão, Fidel, que há dias renunciou por razões de saúde. Não haverá grande mudança na vida de Raúl, que interinamente havia assumido as funções em Julho de 2006 e, na verdade, esteve sempre na vanguarda do poder. Não haverá também razão, portanto, para esperar mudanças profundas no regime comunista instalado a 154 quilómetros dos Estados Unidos, até porque, com alguma surpresa, o novo primeiro vice-presidente é um ultra-ortodoxo.

Raúl é diferente de Fidel na medida em que sempre foi um homem da sombra, discreto, em contraste com a exuberância do mais velho. Porém, sempre a par dele, na revolução, antes dela, ao longo de cinco décadas de vigência da ditadura que tomou o lugar de uma outra, a de Fulgencio Batista. E terá sido o mais novo, aliás, quem mais directamente esteve envolvido nos momentos sangrentos da revolução, isto é, nas execuções sumárias levadas a cabo aquando da tomada do poder. Portanto, a esperança em torno desta passagem de testemunho pouco tem a ver com a essência da política, centrando-se apenas na possibilidade de haver sinais de alguma abertura da economia.

Enquanto viver, Fidel continuará ligado ao poder, até formalmente, na medida em que não abdicou da liderança do Partido Comunista, o único que existe oficialmente. Como ele disse há dias, é favorável à mudança, mas "nos Estados Unidos". Porém, apesar de a saúde do velho comandante ser um quase segredo de Estado (a filha exilada de Fidel, que com ele não tem contacto, assegurou, em Miami, que estará gravemente doente), a estrutura do regime tem tido tempo de sobra para preparar a sucessão e assegurar a manutenção do status quo, pelo menos no futuro mais próximo.

José Ramon Machado Ventura, de 77 anos, um ideólogo do Partido Comunista que lutou ao lado dos irmãos Castro na década de 1950, foi escolhido para primeiro vice-presidente do Conselho de Estado (a posição até agora ocupada por Raúl). Esse é um claro sinal de que não se esperam mudanças, contrariando a percepção de que Carlos Lage, de 56 anos, poderia desde já assumir-se como um "outsider" em ascensão, conquistando protagonismo no aparelho de Estado.

A preterição de Lage, que nos anos 90 foi determinante no desenho de algumas reformas económicas, mostra que qualquer abertura que possa vir a verificar-se será lentamente processada.

Nada indica que possa ser dada razão aos defensores do mercado livre que, precipitadamente, anunciaram o arranque de uma "perestroika" cubana. Se o regime teve de se abrir ao ficar órfão da União Soviética, designadamente promovendo a oferta turística, é também certo que o regime não quer suicidar-se. Sete em cada dez cubanos nunca conheceram um presidente que não se chamasse Castro. Assim continuarão, para já.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

5 DE FEVEREIRO: o povo saiu da garrafa ou alguém(mão invisível) tirou a rolha da garrafa

Depois das manifestações de 5 de Fevereiro e suas replicas, houve uma necessidade, por parte de diferentes "turmas" da sociedade moçambicana, de interpretar oque havia acontecido. Recorrendo a saberes de diferentes naturezas, tinha que se procurar as causas, implicações das manifestações. Falou-se, escreveu-se tudo e nada sobre o assunto. Os "simplistas"( a maioria) atiraram pedras ao governo sem procurar outras causas e se ficaram nisso(?). Responsabilizaram ao governo sem pensar em outras alternativas. Os "intelectuais sério" das sociologia, filosofias, antropologias e todas outras "ias" se "assentaram" a volta da fogueira dos seus saberes, suas técnicas de reflexão e argumentação e se "perderam" por ai algumas vezes num autentico "fratricídio intelectual". Ninguém ficou indiferente. Todos pensamos em alguma coisa, dissemos alguma coisa.
Os políticos como estão habituados e como já nos habituaram, vieram ao terreiro e mais uma vez acusaram-se mutuamente, todos com razão como se fosse disso que os manifestantes exigiam.
No meio de tudo isso, duas teorias se destacaram ambas muito interessantes.
Uma "que o povo saiu da garrafa" outra "que houve uma mão externa".
A primeira defende simplesmente que a paciência do povo, tido orgulhosamente pelos governantes como eternamente paciente e exageradamente pacífico, tinha chegado ao fim. Os moçambicanos abertamente manifestaram o seu descontentamento e saturação com a subida do nível de vida. Ela resultou de uma acumulação e saturação de problemas sociais não resolvidos e mal resolvidos. Pensando assim. a subida dos preços dos transporte semi-colectivo foi "a gota que fez transbordar o copo". Teoria muito simples. Simples demais. Fácil de entender e adoptar. Teoria desprovida de algum tecnicismo de raciocínio ou alguma teoria de conspiração. A segunda defende que nas manifestações, o povo não passou dum "pau mandado" um instrumento nas mãos duma "mão estranha."
Se o povo saiu da garrafa deixem perguntar:

-Quem tinha posto o povo na garrafa?
-Porque foi posto na garrafa?
-Como é que o povo tinha sido posto na garrafa?
-Tinha o povo consciência do engarrafamento?
-Como era mantido na garrafa?
-A troco de quê o povo aceitou o engarrafamento?
-Uma vez fora da garrafa, voltaria um dia à vida engarrafada?
-E como seria daqui em frente?
-Estaria o povo preparado para viver fora da garrafa?
-Como é que os engarrafadores lidariam com o desengarrafamento do povo?
-Quem foi que tirou a rolha da garrafa?
Essa última pergunta me leva a segunda teoria. A teoria da "mão estranha e deixem-me perguntar:

-Que(quem) mão foi essa?
-Quão externa era essa mão?
-Que interesses tinha na manifestação do povo?
-Foram alcançados esses interesses?
-...

Adoptar a primeira teoria, nos obriga a negar parcial ou totalmente a segunda. O povo é visto aqui como vitima dum sistema de governação onde está sistematicamente ausente uma comunicação entre o governante e o governado e as subida do nível de vida resultante do aumento de preços não é discutida/comunicada ao consumidor do nível do trabalhador-produtor.

Adoptar a segunda teoria nos obriga igualmente a negar parcial ou totalmente a primeira. Implica dizer que as manifestações tinham uma "agenda escondida" e portanto tinham pouco ou nada a ver com o custo de vida em geral e a subida dos preços dos chapas em particular. Significa dizer que o povo não precisava reivindicar coisíssima nenhuma, que os preços era muito bem pagáveis. Significa dizer que estava tudo bem, só que alguém(uma mão estranha) aproveitou-se da situação. Significa dizer que de tão paciente e pacífico, o povo passou a tão ingénuo e manipulável capaz de facilmente cair nas mãos de qualquer chantagistas que por qualquer razão queira pôr em causa a boa gestão que se faz desse país e ou a boa imagem que goza na comunidade internacional. Significa que o povo não tem vontade própria, não tem mérito na decisão do governo de manter os preços anteriores e subsidiar combustíveis aos transportadores.Significa muita coisa. As manifestações aconteceram pouco depois duma importante visita do Banco Mundial que deu nota positiva ao desempenho económico do governo. A mão estranha pode ter desejado contradizer isso. Pode ter pensado em mandar ao governo e ao mundo, uma mensagem totalmente oposta à do Banco Mundial.
Veio a dias o porta-voz da Frelimo, o jovem Edson Macuacua defender a teoria da "mão". Segundo ele, as manifestações foram “atípicas e com origem numa mão invisível, que fracassou nos seus intentos de desestabilizar o País”. Seja lá qual tenha sido a "mão", visava desestabilizar o país e "felizmente" fracassou nos seus intentos. Edson tem uma explicação bem simples para a teoria da "mão". " porque não foram populares, como se pretende dar a entender, a população foi ela própria vítima dessa situação" . Ainda em defesa da teoria da mão diz Macuacua que "a população está identificada com o compromisso da FRELIMO de resolver os problemas que afectam o País" e diz ainda que "O nosso manifesto está a ser cumprido, estamos a resolver os problemas da população e ela está ciente disso". Urge então perguntar como é que essa população que "está identificada com o compromisso da FRELIMO" ciente que o "manifesto está a ser cumprido" deixou-se manipular tão ingenuamnete e foi cair nas mãos da "mão invisível"?
Há muito mais que perguntar. Há que depois de perguntar, escolher de que lado ficar sob o risco de não enxergar mais o outro lado. Eu escolhi "ficar em cima do muro" e ver os dois lado. Ver o povo sofrido e cansado "saindo da garrafa". Cansado sim, afinal foram 30 anos em guerra, primeiro anti-colonialista e depois fratricida, com Campos de Reeducação, execuções públicas e Operações Produção pelo meio. Cansado dos recentes discursos e promessas ocas.
Daqui "vejo" também a mão (ln)visível manipulando o povo da Frelimo.
Mas uma coisa tem de ser dita e bem. Os preços dos chapas voltaram a baixar. O governo vai subsidiar os combustíveis e isso é que interessava ao povo utente dos chapa, tenha sido ele manipulado ou não, saiu a ganhar. Esteja ele identificado com o manifesto da Frelimo ou nas mãos da "mão invisível". Se "os intentos" da "mão invisível" eram mesmo de "chamar o governo à razão" olha que está de parabéns pois conseguiu que o governo voltasse atrás na sua decisão.


NOVO CUBA(I)


Primeiro dia pós-Fidel marca a hora de Raúl

Por:SUSANA SALVADOR

Sete em cada dez cubanos não conhecem outro líder além de Fidel Castro. Hoje, esta estatística deixará de fazer sentido. Ao fim de 49 anos, e depois de El Comandante ter anunciado a sua "reforma" por motivos de saúde, a Assembleia Nacional escolhe o seu sucessor. À frente dos destinos da ilha nos últimos 19 meses de forma interina, Raúl Castro, o irmão mais novo, é o favorito. Os cubanos e a comunidade internacional esperam mudanças, mas para já estas não devem pôr em causa o regime.Eleitos a 20 de Janeiro, os 614 deputados da Assembleia Popular, a grande maioria dos quais pertencentes ao Partido Comunista, vão designar os 31 membros do Conselho de Estado e o seu presidente, que será o novo líder de Cuba. A reunião está marcada para as 10.00 (15.00 em Lisboa) e realiza-se à porta fechada, estando contudo prevista uma declaração inicial aberta aos jornalistas. Com Fidel Castro a querer ser apenas um "soldado de ideias" - ontem, em mais umas "reflexões do companheiro Fidel", no jornal oficial, Granma, atacou a Organização de Estados Americanos - o caminho fica livre para o seu irmão. Caso não estejam previstas surpresas, Raúl será eleito presidente do Conselho de Estado, ficando a presidência do Conselho de Ministros nas mãos do número três do regime, Carlos Lage. Com base no que tem feito, abrindo o caminho ao diálogo e reconhecendo, por exemplo, que o salário médio dos cubano é insuficientes, os analistas acreditam que irá empreender reformas económicas. A aposta é que siga o modelo chinês: controlo cerrado, mas abertura aos privados. Mas foi o próprio Raúl a alertar numa das suas intervenções: não se devem esperar mudanças "espectaculares", tudo acontecerá "aos poucos" e "dentro do socialismo". Segundo um diplomata ocidental, que falou à AFP sob anonimato, "ele tem três meses para anunciar as primeiras medidas, e um ano para fazer mexer as coisas. Senão, as coisas vão complicar-se para ele". Para a comunidade internacional, as mudanças têm que começar com a libertação dos cerca de 240 presos políticos e o início de uma transição para a democracia. No caso dos EUA, para quem Raúl é um "Fidel light", só depois se poderá falar no eventual levantamento do embargo económico, que foi instaurado há mais de 40 anos. "A nova administração [norte-americana] deverá decidir se quer manter a política absurda, ilegal e infrutuosa contra Cuba, ou se aceita o ramo de oliveira que oferecemos", disse Raúl num discurso a 26 de Julho de 2007, a terceira vez que referia nestes 19 meses uma aproximação aos EUA. Certo é que qualquer alteração da política norte-americana só deverá ocorrer após as eleições de Novembro (ver caixa). Contudo, segundo os peritos ouvidos pelo jornal chileno La Tercera, Raúl já estará a preparar o terreno. E o homem escolhido para a aproximação seria Fernando Remires, antigo líder da secção de interesses de Cuba em Washington, apontado como futuro ministro dos Negócios Estrangeiros. Por outro lado, o jornal brasileiro Folha de S. Paulo revelou na semana passada que Raúl terá pedido ao Presidente Lula da Silva para actuar como mediador com os EUA. Brasília já o negou.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Deviz Vai tentar segundo mandato



Santo da casa quer voltar a fazer milagres

Vou recandidatar-me, Daviz Simango

Por Eurico Dança, na Beira

Os profetas dizem que está ali o futuro da Renamo para os lados de Chiveve e não só. Esta semana em entrevista exclusiva ao SAVANA, Daviz Simango, um dos filhos do antigo líder histórico da Frente de Libertação de Moçambique, morto com requintes de malvadez pelos seus pares, confirmou o que já se vaticinava nos principais círculos políticos e em animadas conversas de cafés: vai candidatar-se a mais um mandato a presidente da Câmara Municipal da Beira. Pelo caminho, negou que seja um líder na forja para a futura liderança da Renamo, em substituição do autocrático Afonso Dhlakama e atribuiu tais “especulações” a alguns “oportunistas” que desejam distraí-lo a ele e ao actual líder da perdiz.

Daviz Simango, não obstante gostar de aparentar um recorte tecnocrático, não foge aos vaticínios de altos voos nas políticas nacionais do país. Quando se fala em mudança na RENAMO, muitos pensam em Daviz Simango, para alterar o estilo autocrático de Afonso Dhlakama e imprimir modernidade no partido que actualmente tem sob sua gestão cinco municípios.

Na entrevista com o SAVANA, Simango evitou fazer conjecturas de grande política, preferindo ir mais para um discurso mais humilde.

“Não existem alas dentro da Renamo, no sentido de eu ser o líder do partido. Digo isso porque eu sou membro daquele partido e participo em vários encontros possíveis. Portanto, internamente não se fala desse assunto senão da continuidade de Afonso Dhlakama como presidente do partido. E também a sua recandidatura às eleições presidenciais de 2009”.

“Para já eu sou um dos grandes apoiantes da presidência de Afonso Dhlakama no partido. Para além disso eu e outros membros estamos a apoiar o presidente Dhlakama à presidência da República”, referiu

Contudo, quando em Moçambique se traça a meta de 2014 como o tempo da viragem nos dois maiores partidos políticos da actualidade (Renamo e Frelimo), Simango é visto como um sério candidato à mais alta magistratura do país, quando se vaticinam há muito estratégias eleitorais que passam inevitavelmente por candidaturas credíveis com origem no Centro e Norte do país.

Mas no entender de Simango, o que existe são oportunistas que a todo o custo procuram distraí-lo a ele e ao presidente da Renamo, numa clara alusão à Frelimo e a alguns dos seus detractores dentro do partido.

Acrescentou que as mesmas pessoas não têm nada a ver com a Renamo mas procuram a todo o custo criar intrigas internas sem necessidade.

“A Renamo continua a ser um partido coeso, sólido e que sabe o que quer, porque tem uma liderança forte”, acredita.

“A Renamo é um partido forte tem um presidente capaz e dinâmico, razão pela qual é preciso compreender que as coisa não são feitas do género como as pessoas pensam, falar nos jornais, provocando especulações. Mas é preciso ver o que a Renamo quer”, reiterou Daviz Simango, engenheiro civil de profissão.

Garantiu que a Renamo continua apostada em Afonso Dhlakama para as eleições gerais de 2009.

“No mundo temos experiências de vários líderes políticos que perderam as eleições várias vezes mas que passado muito tempo acabaram ganhando outras eleições. Por isso temos que dar oportunidade ao presidente Afonso Dhlakama que continua a mostrar capacidade de liderança desde a guerra civil que durou 16 anos. Se não fosse a capacidade de liderança que Dhlakama possui, o país não estaria a viver momentos de paz e de democracia”, concluiu.

Contudo, analistas políticos entendem que Simango, apesar dos detractores da figura do pai, na Frelimo, é uma figura capaz de reunir consensos que ultrapassem as meras fronteiras do partidarismo político moderno e pode ir buscar votos a zonas que os ortodoxos se recusam a aceitar actualmente.

Mas nas hostes da Renamo e dos partidos que formam a coligação olha-se com desconfiança a crescente popularidade de Daviz Simango.

Sou candidato

A pouco mais de seis meses do fim do seu primeiro mandato na problemática cidade da Beira, Daviz não gosta de aparecer em comícios e evita ao máximo as proclamações políticas. Mas gosta do que está a fazer pela sua cidade da Beira. De ter posto a funcionar minimamente o sistema de drenagem e diminuir a praga do chamado fecalismo a céu aberto

Questionado pelo SAVANA se avança ou não para a sua própria sucessão, Daviz Simango, um dos políticos mais anti-convencionais do país, foi peremptório: vou-me recandidatar.

Simango lidera desde 2004 uma cidade que praticamente nasceu mal - foi construída sobre pântanos e abaixo do nível do mar. Concebida há 100 anos para albergar 50 mil pessoas, hoje a Beira tem a sua população multiplicada por nove, uma taxa de crescimento médio anual de 6,4%. É uma das mais altas da África subsahariana. “Há interesse por parte do partido e dos munícipes de me verem a continuar a trabalhar servindo os munícipes da Beira, cidade da qual guardo memórias”, frisou Daviz, segundo filho do casal Simango que foi morto em Mtilela, província do Niassa, alegadamente a 25 de Junho de 1977, por se opor à orientação marxista do regime da Frelimo.

Realizações

Nos primeiros anos do seu mandato na Beira, as valas de drenagem, um complexo sistema de canais com uma extensão de 15 quilómetros que envolve meios hidro-mecânicos de protecção da cidade, foram a sua principal bandeira. Vários edis depois da independência prometeram a reabilitação do sistema, mas fracassaram. Em pouco tempo, Simango conseguiu “desbravar” o canal principal. A água corre normalmente. O lixo e as pequenas florestas que cresciam no vale como cogumelos em tempo de chuvas, passaram para a história.

Outra área atacada por Simango foi a casa mortuária. “Lembro perfeitamente aquando da minha primeira aparição pública, quando fui à casa mortuária. Fiquei muito chocado porque vi pessoas a pisarem cadáveres para identificarem os seus entes queridos. São coisas como estas que nos marcaram mas que eu decidi que se devia encontrar uma solução. Daí viu-se a necessidade de se construir a nova morgue. Portanto, são estes e outros aspectos que nos marcam e nos encorajam a continuarmos a servir melhor a população”, justifica Simango. Um dos desafios a que o edil se tem entregue é a recolha de lixo na cidade da Beira, cujo resultado conferiu já à urbe o título de a mais limpa do País. A ele foi-lhe atribuído o título de melhor gestor municipal por uma reconhecida instituição internacional baseada na África do Sul (para além de ser a figura do ano deste semanário em 2006).

O seu principal desafio para os próximos tempos é o combate à criminalidade que “temos na Beira”, mas isso exige outras capacidades e competências, uma vez que as acções passam igualmente pela Polícia e pelo Ministério do Interior.

Recorde-se que na nossa edição do dia 13 de Julho do ano passado, Daviz Simango avançou três factores que não lhe permitiam decidir se ia ou não recandidatar-se ao cargo de presidente do município da Beira: primeiro apontou a questão familiar, segundo, dependia da vontade do partido e terceiro questões profissionais.

Bulha

Enquanto isso, nos círculos do partido Frelimo na Beira, um dos nomes propalados como provável adversário de Daviz Simango é o primeiro secretário provincial em Sofala, Lourenço Bulha.

Questionado, recentemente, pelo SAVANA a propósito, Bulha não confirmou, nem desmentiu. Referiu, apenas, que a decisão sairá do comité central da Frelimo, órgão a quem cabe a responsabilidade de aprovar as propostas de nome para o efeito.

Recorde-se que por disputas públicas com Filipe Paúde, então secretário provincial de Sofala, Lourenço Bulha foi obrigado em Agosto de 2003, a retirar a sua candidatura à presidência do Município da Beira. Bulha apresentava-se como um forte concorrente de Daviz Simango. No lugar de Bulha foi indicado Djalma Lourenço que viria a sofrer uma estrondosa derrota frente ao engenheiro Simango.

Mar destroi muro de protecção costeira

No entanto, nos últimos dias a fúria das águas do mar tem vindo a ameaçar engolir algumas zonas da segunda maior importante cidade do país, Beira.

Na semana passada, as ondas do mar galgaram as dunas e destruíram o muro de protecção costeira, tendo deixado as artérias do bairro de Macuti quase totalmente alagadas.

Cenário idêntico aconteceu nos finais do ano passado na mesma zona, onde a fúria das águas do mar derrubaram o muro de protecção costeira, permitindo a passagem das águas marinhas à zona residencial, concretamente, no local onde se localiza o Hospital Central da Beira. A situação deixou toda a zona inundada e as ruas intransitáveis.

Mendes Acides, cidadão beirense, é da opinião que deviam ser tomadas medidas urgentes sobre a protecção costeira, porque, no seu entender, caso isso não aconteça as zonas como Mucuti, Palmeira, Estoril e Praia-nova, por se encontrarem localizadas ao longo da costa, podem vir a desaparecer do mapa.

Ele referiu-se a algumas actividades desportivas, sobretudo motorizadas praticadas ao longo das praias da urbe, como as que têm vindo a contribuir para a destruição das dunas que protegem as zonas residenciais das águas do mar.

“Há falta de controlo sobre praticantes de modalidades desportivas motorizadas nas praias o que evitaria a erosão progressiva nas praias da Beira”, notou.

Quase grande parte da extensão da costa das praias da Beira, a sua protecção está dependente do muro de protecção costeira, o que não deixa maior segurança às zonas residenciais em caso de surgimento de ondas de grande magnitude.

Erosão costeira é séria na Beira

No entanto, Simango explicou que o problema de destruição constante do muro de protecção costeira pela águas do mar deve-se ao facto de os esporões 16, 17 e 18 na zona das Palmeiras estarem fora de serviço, situação que faz com que não retenham as areias que compõem as dunas.

“Não se pode pensar que o muro é que vai proteger o choque das águas, o que é importante é ter as dunas e os esporões a funcionar”, referiu.

Neste momento o Conselho Municipal da Beira está empenhado na reconstrução dos três esporões encontrando-se dois deles já betonados.

“Não queremos continuar a ver as águas do mar a invadirem as zona residenciais da nossa urbe, por isso somos obrigados a usar todos os meios para salvar a cidade das águas do mar”, disse.

Por outro lado, o edil da Beira reconheceu a destruição das dunas como um dos factores que facilita a invasão do espaço residencial pelas águas do mar.

Grande solução

Para o edil da Beira, a solução do problema da erosão costeira que afecta a cidade da Beira, passa pela reposição das dunas e construção de um muro de protecção costeira mais duradoira.

Sobre a reposição das dunas, Simango disse que tal passa igualmente por adquirir uma draga robusta com a capacidade de repulsão das areias. “Esta é uma questão urgente para salvar a cidade da fúria das águas do mar”, sublinhou.

Referiu que decorrem negociações entre governos moçambicano e europeus no sentido de se conseguir a referida draga.

SAVANA – 22.02.2008

Premonição

Achei aqui essa boa que vou deixar para o final de semana. Quem será o verdadeiro pai dos nossos filhos:

Um homem vai ao quarto do seu filho para lhe dar as boas noites. O garoto está a ter um pesadelo. O pai acorda-o e pergunta-lhe se ele está bem. O filho responde que está com medo porque sonhou que a tia Suzana tinha morrido. O pai garante que a tia Suzana está muito bem e manda-o de novo para a cama. No dia seguinte a tia Suzana morre. Uma semana depois, o homem volta ao quarto do seu filho para lhe dar as boas noites. O garoto está a ter outro pesadelo. O pai acorda-o e pergunta-lhe se ele está bem Ele responde que está com medo porque sonhou que o avô tinha morrido. O pai sossega-o dizendo-lhe que o avô está muito bem, ainda há pouco falou com ele. No dia seguinte o avô morre. Mais uma semana, a cena repete-se, o garoto está a ter outro pesadelo. O pai acorda-o e pergunta-lhe se ele está bem. Desta vez o filho responde que está com medo porque sonhou que o pai tinha morrido. O pai garante que está muito bem, mas a verdade é que vai ele próprio deitar-se sem conseguir pregar olho! No dia seguinte, está apavorado. Tem a certeza que vai morrer. Vai para o trabalho e conduz com todo o cuidado para evitar uma colisão. Não almoça com medo que a sua comida esteja envenenada. Evita toda a gente, com medo de ser assassinado. Tem um sobressalto em cada esquina. A qualquer movimento suspeito esconde-se debaixo da mesa. Está apavorado, sua estopinhas!!! Ao fim do dia volta para casa. Encontra sua mulher que o vê lívido e preocupada com o seu estado. - Meu Deus ... hoje tive o pior dia da minha vida !!! - começa por balbuciar. Ao que ela responde, toda chorosa: - Certamente não foi pior do que o meu! Imagina que o meu chefe morreu hoje...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Conversa das comadres no 5 de Fevereiro

Achei achei qui a conversa de duas comadres em pleno 5 de Fevereiro, a super terça em que o povo saiu da garrafa. Há quem diz que alguém usou a saca rolha e atirou o povo às ruas. Há que nega ter sido a pressão de lá dentro da garrafa que cuspiu a rolha. Não conheço as comadres pelos nomes. Uma é mãe da Nyeleti, esposa do Alberto(ministro de alguma coisa) e proprietário de chapas não sei quantos. Outra é mãe da Joana esposa de João(membro de algum partido da oposição). Os maridos se opões mas a comadres se aliam, continuam amigas.

- Comadre! Viste o que aconteceu?
- Não vi, diz lá comadre o que aconteceu!
- As crianças, comadres. Essas nossas crianças, não tem juízo comadre?
- O que aconteceu comadre que já estou a ficar nervosa?

- Elas estão a manifestar contra o governo?
- Jura!
- Sim, comadre!
- Qual governo? O nosso governo?
- Sim, o nosso!
- Eish! Já não há respeito, comadre! Nada, juro!
- Sim, não há mesmo respeito, damos de comer e beber comadre, e ainda manifestam!
- E logo contra o governo, o nosso governo comadre!
- O nosso governo comadre, não merece isso!
- Mas eram crianças de quem? As mães devem ser chamadas atenção.
- Eram crianças do povo! Comadre, as mães nem estavam lá.
- Estavam aonde?
- Comadre afinal não sabe? Elas também, estão a manifestar
- Jura?
- Sim comadre! Elas, as crianças e o povo.
- Então já não há respeito! até as crianças e o povo?
- Por isso comadre! Por isso!
- Coitado do governo!
-...eish comadre...governo só!
- Ta a ver a tua filha comadre ai na rua a manifestar, contra o governo?
- Nada! juro...minha filha? A Nyeleti? Essa tem juízo comadre.
- A minha Joana também, tem juízo, nunca chumbou...
- E a Nyelete comadre! sempre dispensa.
-...hm
- Ah sim, saiu ao pai...o Alberto tem juízo, apercebi-me disso logo que ele ia ser alguém quando ainda namorávamos...
- E não falhaste comadre, hoje ele é ministro, e até fica-lhe bem aquele cargo...
- Fica-lhe bem...mas comadre governar aqui neste país, não é fácil...
- Mas comadre o que interessa mesmo é que estão bem...
- Ah isso não tenho razões de queixa...E o teu João comadre, pensa mesmo que ali na oposição vai ter cargo? Com aquela gente ali?
- Comadre tu conheces o João, ele quando mete uma coisa na cabeça ninguem lhe desvia...sabes como são as pessoas do sul comadre.
- Mas comadre, afinal você não tem força? Pensas que Alberto é ministro hoje porque?
- Comadre pensas que não tentei? Tentei toda minha vida, cansei-me, até o burro cansa-se de puxar a carga...
- Mas somos mulheres ou não comadre!? As crianças podem manifestar mas nós mulheres lutamos comadre, por tudo: família, filhos, marido, por tudo comadre.
- E pensas comadre que não lutei!? Sou a única em casa que luta por este governo, as crianças manifestaram-se, o pai também, eu fui a única que vim logo que pude, para avisar a comadre...
- Avisar o que comadre!?
- Para a comadre não mandar tirar os chapas da garagem para a rua, senão vão ser queimados e apedrejados pelas crianças...comadre!

- você é mesmo amiga comadre...pena que o compadre João e Alberto não se entendam.
- Muita pena comadre! - Hm...

A verdade sobre Linchamentos


Abertamente ou não sempre neguei a simplista justificação que os linchamentos são resultado da inoperância da polícia. Não vamos negar que a polícia tem sido menos polícia quando mais se precisa dela. Não vamos negar que lhes faltam meios para ser mais polícia. Lhes falta capacidade técnica táctica e sei lá que mais lhes falta. Lhes falta o moralismo ético, lhes falta um monte de ingredientes.
Mas eu continuarei negando que essa seja a razão primária do povo andar por ai matando a torto e a direito quem acha criminoso, ladrão e sei lá que mais. Os casos da Beira provam minha posição. Há-de ser que a polícia da Beira seja mais inoperante? Há de ser que a polícia dos outros cantos desse vasto Moçambique não se debate com oque o polícia da Beira enfrenta(falta de meios) e consequente inoperância? Há de ser que há mais ladrões e criminosos na Beira? Essas e outras perguntas me fazem acreditar que para além da policia há outras razões que infelizmente ainda não entendo com clareza suficiente de expor aqui. A crueldade desses linchamentos é que me assustam. Mete medo ver o ser humano despido da mais básica humanidade e agir contra o semelhante de forma mais iracional. Mete medo

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

FIDEL CASTRO: Santo ou Pecador?


Estou de volta ao "Moçambique artificial" como a Ivone o chamou.
Quatro dias no "real" me deixaram desligados dos "current issues". De volta me cruzo com a notícia do Fidel Castro abandonando a vida política activa. Páro no Inchope das "40 crianças" e enquanto espero o almoço, dá para pegar o primeiro jornal. Confirmo a notícia. O almoço demora, é que o "pende" tem de descongelar antes de ir para a assadeira do grelhado como o pedi à dona Maninha que se encarrega de me servir o almoço. Dá então para ver o "Opinião Pública" cujo tema tem tudo a ver com Fidel Castro. Surgem então as perguntas:

- Oque vai mudar na história cubana?
-Vai melhorar ou piorar?
-Fidel foi ditador como se diz por ai?
-Fidel foi generoso como se diz por ai?
-Quem diz oque e porque?
-Como relacionar prováveis mudanças em Cuba ás quase certas a acontecer nos EUA?

As respostas do analista Niquisse me geraram mais perguntas do que responderam. Oque significará na prática sair da vida política activa?. Quão "passiva" será a vida política passiva de Fidel Castro? Que significa o facto do sucessor de Fidel Castro ser seu irmão?
O analista apresentou explicou e defendeu o conceito de democracia mono partidária com envolvimento popular. Infelizmente não consegui "pegar" a ideia por falta de clareza da sua parte ou falta de entendimento por minha parte. Sem referendo, sem voto popular como é que o povo participou por exemplo na decisão de quem sucederia Fidel Castro? Quais foram os critérios considerados?
Como é natureza do programa, se abriram as linhas telefónica e os telespectadores foram convidados a participar. Uns contra Fidel e outros a favor. Uns diabolizando-o outros santificando-o, enfim uma clara divergência em relação à mesmíssima pessoa. Foi dai que me nasceu o título e a ideia dessa postagem. Fidel foi Santo ou Pecador? Foi generoso ou ditador?
Para mim Fidel é um homem como qualquer um com virtudes e defeito. Há que elogiar as virtudes sem necessariamente ter que esquecer de apontar e criticar construtivamente os erros. Duvido no entanto que haja em Cuba esse espaço para críticas. Os que ousam levantar-se contra o governo são tanto quanto sei considerados contra revolucionários, instrumentos do imperialismo, inimigos do estado e são preso, mal julgados e condenados.
Não vamos esquecer o bem que Fidel fez à milhares de nossos irmãos que a custo zero foram para Cuba se formar nas mais diversas áreas e hoje são quadros importantes no país, mas esse "bem" não pode de forma alguma nos "tapar a vista" e deixarmos de ver os "pecados" que cometeu. Não deixaremos de questionar por exemplo o facto de Fidel ter pura e simplesmente passado a presidência ao seu Irmão.
A resistência de Cuba e Fidel ao embargo económico decretado pelos EUA parece ser outra causa de uma leitura deturpada. Parece que se deixa de ver os erros de Fidel por conta da "vitimização" imposta pelos EUA. Me lembro do caso Robert Mugabe versus Grã Bretanha. Deixa-se de ver os erros de Mugabe porque se olha para ele com o vitima dum gigante de quem também somos de alguma forma vítima. É a velha história de "inimigo do inimigo, amigo é" , assim todos que se "antipatizam" com os EUA acabam fazendo "vista grossa" a todo e qualquer "pecado" de Fidel Castro. Olhemos para esse homem com duas lentes bem diferentes. Com uma analisaremos os seus defeitos e o acharemos "pecador" e com a outra analisaremos as suas virtudes e o acharemos "Santo"

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A CAMINHO DO MOÇAMBIQUE REAL


Vou me ausentar por aproximadamente 5 dias para o “Moçambique Real” como tenho ouvido se dizer um pouco por todo lado em se tratando das zonas rurais. Nunca me perguntei porque assim se chamam as zonas rurais de Moçambique, sempre assumi ser por causa das dificuldades várias que acabam representando fielmente o estado de desenvolvimento de Moçambique.

Lá os “dígitos” que se falam quando se discute assunto económicos não tem importância alguma. Os tão falados desenvolvimentos macro, micro ou sei lá oque mais, não contam nadinha. Quer o povo lá é poder no mínimo ter duas refeições.

Lá o povo o povo vê o dirigente na hora da campanha eleitoral para mais uma vez lhes angariar os votos. O povo vai aos comícios escuta discurso saborosos e espera sentado para ver realizadas as promessas feitas.

Lá o povo não é como da cidade. Não se cansa de esperar pelo futuro melhor que nunca chega.

Lá o povo tem até saudades do “passado pior” que era bem melhor que o presente. Deve ser pelo povo de lá que muitos acreditaram na lenda do pacifismo do povo Moçambicano, muitos acreditaram que Moçambicano não reclama nunca.

Meu destino é Inhaminga, distrito de Cheringoma. Inhaminga se tornou famosa depois dos confronto havidos há alguns anos entre a FIR(Força de Intervenção Rápida) e os homens armados da Renamo. Já ouvi várias versões desse acontecimento. Inhaminga é uma Zona politicamente sensível. Oque dizemos lá, é passível de muitas interpretações e há que ter muito cuidados para não espevitar ânimos adormecidos e ser desnecessariamente conotado com essa ou aquela força política partidária.

Em Inhaminga vou me debater como das outras vezes, com a grave falta de água. Quando em Maio do Ano passado o camarada presidente Gebuza passou por lá, lhe falamos desse crónico problema e prometeu resolver, mas deve estar muito ocupado com muitas outras coisas e penso que o povo saberá esperar mais um pouco afinal entrou no hábito esperar mesmo sabendo que se espera para toda eternidade.

Em Inhaminga vou enfrentar o problema de comunicação. A rede da Mcel a maior e melhor telefonia móvel no país tem das suas, é às vezes, uma verdadeira catástrofe. Tem vezes que se passam dias sem comunicação. Quantos maridos fieis viram sua provada fidelidade de longa data comprometida por não poderem por alguns dias se comunicar com suas amadas e desconfiadas esposas?

Para Inhaminga pago 150 meticais que podem ter subido com a recente subida de combustível não sei se o povo vai “imitar” o povo e vai reivindicar. No regresso no entanto, pago apenas(só comparativamente) 100 que igualmente podem ter subido. Nunca entendi a razão dessa variação. Explicar até já tentaram me explicar mas a lógica me impediu a entender.

Em Inhaminga não posso blogger, receber e mandar emails e essas outras coisas que dependem de um computador, mas em compensação posso escutar o amanhecer da floresta. Beber o oxigénio fresquinho directo da fotossíntese. Posso a noite assistir a dança das estrelas, depois que desligam o grupo gerador que alimenta a vila. Agora que Cahora Bassa é nossa, Inhaminga terá energia eléctrica 24 horas ao dia acredito.

Em Inhaminga meu mundo vai tomar outra dimensão. Vou exercitar minha simplicidade e na volta trago muitos saberes que só os acharia lá.



Até ao regresso deixo-vos um abraço forte


Leia: Ekhuro Yo Ophenta (the power of love)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

OS SETE SAPATOS SUJOS


Tenho o hábito de quando posso, "revirar" a blogosfera e saborear nacos de escritos que andam por lá. Pena mesmo que a gente mesmo querendo não pode ver(ler) tudo. Numa das minha "viralatices" me cruzei aqui com o texto que se segue. O título me cativou, o autor, o grande Mia Couto, dispensa qualquer comentário.

"Há, entre todas as pobrezas, uma que escapa às estatísticas e aos indicadores numéricos: é a penúria da nossa reflexão sobre nós mesmos como sujeitos históricos. Generalizou-se entre nós a descrença na possibilidade de mudarmos os destinos do nosso continente. Vale a pena perguntarmo-nos: o que está acontecer? O que é preciso mudar dentro e fora de África? Estas perguntas são sérias. Não podemos iludir as respostas, nem continuar a atirar poeira para ocultar responsabilidades. Não podemos aceitar que elas sejam apenas preocupação dos governos.
Felizmente, estamos vivendo em Moçambique uma situação particular, com diferenças bem sensíveis. Temos que reconhecer e ter orgulho que o nosso percurso foi bem distinto de outros. Contudo, as conquistas da liberdade e da democracia que hoje usufruímos só serão definitivas quando se converterem em cultura de cada um de nós. E esse é ainda um caminho de gerações. Ter futuro custa muito dinheiro. Mas é muito mais caro só ter passado.

A pergunta crucial é esta: o que é que nos separa desse futuro que todos queremos? Alguns acreditam que o que falta são mais quadros, mais escolas, mais hospitais. Outros acreditam que precisamos de mais investidores, mais projectos económicos. Tudo isso é necessário, tudo isso é imprescindível. Mas, para mim, há outra coisa que é ainda mais importante. Essa coisa tem um nome: é uma nova atitude. Poderemos ter mais técnicos, mais hospitais, mais escolas, mas, se não mudarmos de atitude, não seremos construtores de futuro.
Estamos todos nós estreando um combate interno para domesticar os nossos antigos fantasmas. Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar. Eu contei sete sapatos sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico.


Primeiro sapato: a ideia que os culpados são sempre os outros. Nós conhecemos este discurso. A culpa já foi da guerra, do colonialismo, do imperialismo, do «apartheid», enfim, de tudo e de todos. Menos nossa. É verdade que os outros tiveram a sua dose de culpa no nosso sofrimento. Mas parte da responsabilidade sempre morou dentro de casa. Estamos sendo vítimas de um longo processo de desresponsabilização. Esta lavagem de mãos tem sido estimulada por algumas elites africanas que querem permanecer na impunidade. Os culpados estão à partida encontrados: são os outros, os da outra etnia, os da outra raça, os da outra geografia.
Queremos que outros nos olhem com dignidade e sem paternalismo. Mas ao mesmo tempo continuamos olhando para nós mesmos com benevolência complacente. Somos peritos na criação do discurso desculpabilizante. A desresponsabilização é um dos estigmas mais graves que pesa sobre nós, africanos de Norte a Sul. Há os que dizem que se trata de uma herança da escravatura, desse tempo em que não se era dono de si mesmo. O patrão, muitas vezes longínquo e invisível, era responsável pelo nosso destino. Hoje, nem sequer simbolicamente, matámos o antigo patrão. Uma das formas de tratamento que mais rapidamente emergiu de há uns dez anos para cá foi a palavra «patrão». Foi como se nunca tivesse realmente morrido, como se espreitasse uma oportunidade histórica para se relançar no nosso quotidiano.
Pode-se culpar alguém desse ressurgimento? Não. Mas nós estamos criando uma sociedade que produz desigualdades e que reproduz relações de poder que acreditávamos estarem já enterradas.


Segundo sapato: a ideia de que o sucesso não nasce do trabalho. O que explica a desgraça mora junto do que justifica a bem-aventurança.
A equipa desportiva ganha, a obra de arte é premiada, a empresa tem lucros, o funcionário foi promovido? Tudo isso se deve a quê? Deve-se à boa sorte. E a palavra “boa sorte” quer dizer duas coisas: a protecção dos antepassados mortos e a protecção dos padrinhos vivos. Nunca ou quase nunca se vê o êxito como resultado do esforço, do trabalho como um investimento a longo prazo. As causas do que nos sucede (de bom ou mau) são atribuídas a forças invisíveis que comandam o destino. Para alguns esta visão causal é tida como tão intrinsecamente «africana» que perderíamos «identidade» se dela abdicássemos.
Os debates sobre as «autênticas» identidades são sempre escorregadios. Vale a pena debatermos, sim, se não poderemos reforçar uma visão mais produtiva e que aponte para uma atitude mais activa e interventiva sobre o curso da História.
Infelizmente olhamo-nos mais como consumidores do que produtores. A ideia de que África pode produzir arte, ciência e pensamento é estranha mesmo para muitos africanos. Até aqui o continente produziu recursos naturais e força laboral. Produziu futebolistas, dançarinos, escultores. Tudo isso se aceita, tudo isso reside no domínio daquilo que se entende como «natureza». Mas já poucos aceitarão que os africanos possam ser produtores de ideias, de ética e de modernidade. Não é preciso que os outros desacreditem. Nós próprios nos encarregamos dessa descrença.


Terceiro sapato- O preconceito de quem critica é um inimigo. Muitas pessoas acreditaram que, com o fim do monopartidarismo, terminaria a intolerância para com os que pensavam diferente. Mas a intolerância não é apenas fruto de regimes. É fruto de culturas, é o resultado da História. Herdámos da sociedade rural uma noção de lealdade que é demasiado paroquial. Esse desencorajar do espírito crítico é ainda mais grave quando se trata da juventude. O universo rural é fundado na autoridade da idade. Aquele que é jovem, aquele que não casou nem teve filhos, esse não tem direitos, não tem voz nem visibilidade. A mesma marginalização pesa sobre a mulher.
Moçambique nasceu da luta de guerrilha. Essa herança deu-nos um sentido épico da história e um profundo orgulho no modo como a independência foi conquistada.
Mas a luta armada de libertação nacional também cedeu, por inércia, a ideia de que o povo era uma espécie de exército e podia ser comandado por via de disciplina militar. Essa herança não ajudou a que nascesse uma capacidade de insubordinação positiva, uma cultura de discussão frontal e aberta. Muito do debate de ideias é, assim, substituído pela agressão pessoal. Basta diabolizar quem pensa de modo diverso. Existe uma variedade de demónios à disposição: uma cor política, uma cor de alma, uma cor de pele, uma origem social ou religiosa diversa.


Quarto sapato: a ideia de que mudar as palavras muda a realidade. Uma vez em Nova Iorque um compatriota nosso fazia uma exposição sobre a situação da nossa economia e, a certo momento, falou de mercado negro. Foi o fim do mundo. Vozes indignadas de protesto se ergueram e o meu pobre amigo teve que interromper sem entender bem o que se estava a passar. No dia seguinte recebíamos uma espécie de pequeno dicionário dos termos politicamente incorrectos. Estavam banidos da língua termos como cego, surdo, gordo, magro, etc… Há toda uma geração que está aprendendo uma língua – a língua dos workshops. Na realidade, não é uma língua mas um vocabulário de pacotilha. Basta saber agitar umas tantas palavras da moda para falarmos como os outros, isto é, para não dizermos nada. Recomendo-vos fortemente uns tantos termos. Por exemplo:
desenvolvimento sustentável, awarenesses ou accountability, boa governação, capacity building, comunidades locais. Estes ingredientes devem ser usados de preferência num formato “powerpoint”.
Nós fomos a reboque destas preocupações de ordem cosmética. Estamos reproduzindo um discurso que privilegia o superficial e que sugere que, mudando a cobertura, o bolo passa a ser comestível. Hoje assistimos, por exemplo, a hesitações sobre se devemos dizer «negro» ou «preto». Como se o problema estivesse nas palavras, em si mesmas. O curioso é que, enquanto nos entretemos com essa escolha, vamos mantendo designações que são realmente pejorativas como as de mulato e de monhé.
Muitas das instituições que deviam produzir ideias estão hoje produzindo papéis, atafulhando prateleiras de relatórios condenados a serem arquivo morto. Em lugar de soluções encontram-se problemas. Em lugar de acções sugerem-se novos estudos.


Quinto sapato - A vergonha de ser pobre e o culto das aparências. A pressa em mostrar que não se é pobre é, em si mesma, um atestado de pobreza. A nossa pobreza não pode ser motivo de ocultação. Quem deve sentir vergonha não é o pobre mas quem cria pobreza.
Vivemos hoje uma atabalhoada preocupação em exibirmos falsos sinais de riqueza. Criou-se a ideia de que o estatuto do cidadão nasce dos sinais que o diferenciam dos mais pobres.
Estamos vivendo num palco de teatro e de representações: uma viatura já não é um objecto funcional. É um passaporte para um estatuto de importância, uma fonte de vaidades. Esta doença, esta religião que se podia chamar «viaturolatria» atacou desde o dirigente do Estado ao menino da rua. É triste que o horizonte de ambições seja tão vazio e se reduza ao brilho de uma marca de automóvel. É urgente que as nossas escolas exaltem a humildade e a simplicidade como valores positivos. A arrogância e o exibicionismo não são, como se pretende, emanações de alguma essência da cultura africana do poder. São emanações de quem toma a embalagem pelo conteúdo.


Sexto Sapato- A passividade perante a injustiça . Estarmos dispostos a denunciar injustiças quando são cometidas contra a nossa pessoa, o nosso grupo, a nossa etnia, a nossa religião. Estamos menos dispostos quando a injustiça é praticada contra os «outros». Persistem em Moçambique zonas silenciosas de injustiça, áreas onde o crime permanece invisível. Ainda há dias ficamos escandalizados com o recente anúncio de jornal que privilegiava candidatos de raça branca. Tomaram-se medidas imediatas e isso foi absolutamente correcto.
Contudo, existem convites à discriminação que são tão ou mais graves e que aceitamos como sendo naturais e inquestionáveis.
Tomemos esse anúncio do jornal e imaginemos que ele tinha sido redigido de forma correcta e não racial. Será que tudo estava bem? A tiragem do jornal Notícias é de 13 mil exemplares. Mesmo se aceitarmos que cada jornal é lido por cinco pessoas, o número de leitores é menor do que a população de um bairro de Maputo. É dentro deste universo que circulam convites para promoções e os acessos a oportunidades.
Um outro exemplo. Estamos administrando anti-retro-virais a cerca de 30 mil doentes com sida. Isso significa que cerca de um milhão quatrocentos e cinquenta mil doentes ficam excluídos de tratamento. Trata-se de uma decisão com implicações éticas terríveis. Como e quem decide quem fica de fora? É aceitável, pergunto, que a vida de um milhão e meio de cidadãos esteja nas mãos de um pequeno grupo técnico?


Sétimo sapato - A ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros.
Todos os dias recebemos estranhas visitas em nossa casa. Entram por uma caixa mágica chamada televisão. Criam uma relação de virtual familiaridade. Aos poucos passamos a ser nós quem acredita estar vivendo fora, dançando nos braços de Janet Jackson. O que os vídeos e toda a sub-indústria televisiva nos vêm dizer não é apenas: «comprem». Há todo um outro convite que é este: «sejam como nós».
O resultado é que a nossa produção cultural se está convertendo na reprodução macaqueada da cultura dos outros. O futuro da nossa música poderá ser uma espécie de «hip-hop» tropical, o destino da nossa culinária poderá ser o Mac Donald’s.
Falamos da erosão dos solos, da desflorestação, mas a erosão das nossas culturas é ainda mais preocupante. A secundarização das línguas moçambicanas (incluindo da língua portuguesa) e a ideia que só temos identidade naquilo que é folclórico são modos de nos soprarem ao ouvido a seguinte mensagem: só somos modernos se formos americanos. Eu olho a nossa sociedade urbana e pergunto-me: será que queremos realmente ser diferentes? Porque eu vejo que esses rituais de passagem se reproduzem como fotocópia fiel daquilo que eu sempre conheci na sociedade colonial. Estamos dançando a valsa, com vestidos compridos, num baile de finalistas que é decalcado daquele do meu tempo. Estamos copiando as cerimónias de final do curso a partir de modelos europeus de Inglaterra medieval. Casamo-nos de véus e grinaldas e atiramos para longe da Julius Nyerere tudo aquilo que possa sugerir uma cerimónia mais enraizada na terra e na tradição moçambicanas.
Falei da carga de que nos devemos desembaraçar para entrarmos a corpo inteiro na modernidade. Mas a modernidade não é uma porta apenas feita pelos outros. Nós somos também carpinteiros dessa construção e só nos interessa entrar numa modernidade de que sejamos também construtores. A minha mensagem é simples: mais do que uma geração tecnicamente capaz, nós necessitamos de uma geração capaz de questionar a técnica. Uma juventude capaz de repensar o país e o mundo. Mais do que gente preparada para dar respostas, necessitamos de capacidade para fazer perguntas.
Moçambique não precisa apenas de caminhar. Necessita de descobrir o seu próprio caminho num tempo enevoado e num mundo sem rumo. A bússola dos outros não serve, o mapa dos outros não ajuda. Necessitamos de inventar os nossos próprios pontos cardeais. Interessa-nos um passado que não esteja carregado de preconceitos, interessa-nos um futuro que não nos venha desenhado como uma receita financeira.
A Universidade deve ser um centro de debate, uma fábrica de cidadania activa, uma forja de inquietações solidárias e de rebeldia construtiva. Não podemos treinar jovens profissionais de sucesso num oceano de miséria. A Universidade não pode aceitar ser reprodutora da injustiça e da desigualdade.
Numa sessão pública decorrida no ano passado em Maputo um já idoso nacionalista disse, com verdade e com coragem, o que já muitos sabíamos. Confessou que ele mesmo e muitos dos que, nos anos 60, fugiam para a Frelimo não eram apenas motivados por dedicação a uma causa independentista. Eles arriscaram-se e saltaram a fronteira do medo para terem possibilidade de estudar. O fascínio pela educação como um passaporte para uma vida melhor estava presente um universo em que quase ninguém podia estudar. Essa restrição era comum a toda a África. Hoje, a situação melhorou. O continente investiu na criação de novas capacidades.
Aos poucos se torna claro, porém, que mais quadros técnicos não resolvem, só por si, a miséria de uma nação. Se um país não possuir estratégias viradas para a produção de soluções profundas então todo esse investimento não produzirá a desejada diferença. Se as capacidades de uma nação estiverem viradas para o enriquecimento rápido de uma pequena elite então de pouco valerá termos mais quadros técnicos.
A escola é um meio para querermos o que não temos. A vida, depois, nos ensina a termos aquilo que não queremos. Entre a escola e a vida resta-nos ser verdadeiros e confessar aos mais jovens que nós também não sabemos e que, nós, professores e pais, também estamos à procura de respostas.
Com o novo governo ressurgiu o combate pela auto-estima. Isso é correcto e é oportuno. Temos que gostar de nós mesmos, temos que acreditar nas nossas capacidades. Mas esse apelo ao amor-próprio não pode ser fundado numa vaidade vazia, numa espécie de narcisismo fútil e sem fundamento. Alguns acreditam que vamos resgatar esse orgulho na visitação do passado. É verdade que é preciso sentir que temos raízes e que essas raízes nos honram. Mas a auto-estima não pode ser construída apenas de materiais do passado.
Na realidade, só existe um modo de nos valorizar: é pelo trabalho, pela obra que formos capazes de fazer. É preciso que saibamos aceitar esta condição sem complexos e sem vergonha: somos pobres. Mas a força de superarmos a nossa condição histórica também reside dentro de nós. Saberemos, como já soubemos antes, conquistar certezas de que somos produtores do nosso destino.
Teremos mais e mais orgulho em sermos quem somos: moçambicanos construtores de um tempo e de um lugar onde nascemos todos os dias. É por isso que vale a pena aceitarmos descalçar não só estes sete sapatos, mas todos os que atrasam a nossa marcha colectiva. Porque a verdade é uma: antes vale andar descalço do que tropeçar com os sapatos dos outros."

Eu também amo...

Comemora-se hoje o dia de São Valentim(dia dos namorados). O amor esta no no ar e para que não se pense que no meu mundo não há espaço para esse mais nobre sentimento deixa-me reproduzir um texto postado no "Entre as Palavras"meu outro cantinho.
Aos amantes sucessos.


EU TAMBÉM AMO

Como qualquer ser miserável
Eu também amo
Canto com a alegria das manhãs de sol
Chuva quente sobre a terra gretada
Eu também amo.

Trago também dentro de mim um coração
Um vasilhame cheio de almas
Paixões estrondosamente acumuladas
Trago as idades, cidades e verdades

Eu choro como qualquer ser miserável
Como mendigo sem abrigo
Rogo que me acolham em alguma alma
Também amo.

Sonho nas noites
Que me acompanha um cometa
Que viajo num mar ondulado de carnes
Sonho que sou homem e sou pecador

Na lucidez do dia empunho a pena
E escrevo versos de amor
Ou simplesmente imito os já escritos
Gaguejo as mais belas cantigas de amor
Eu também amo

Visito jardins
Colho rosas
Vermelhas, brancas, azuis
Abraço a solidão
Me esqueço no chão
Eu também amo.

Beijo rosto
Beijo boca
Beijo sabores
Faço arte de carícias
Exploro terrenos
Eu também amo

E as vezes o amor me sorri
Me abraça e me acolhe
Me escolhe seu único
Ai eu amo
Como qualquer ser miserável
Eu também amo.

Nelson Livingston