terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

NOVO CUBA (III)


Por: SUSANA SALVADOR

Igreja Católica pede a Raúl Castro "medidas transcendentais"
Em Havana, há alguma decepção em relação às mudanças anunciadas A Igreja Católica cubana pediu ontem ao novo Presidente do país para que adopte "medidas transcendentais" de forma a satisfazer "as ânsias e inquietudes expressas pelos cubanos". Raúl Castro, que no domingo sucedeu ao seu irmão Fidel, recebe hoje em Havana o número dois do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, que está na ilha a assinalar o décimo aniversário da viagem do papa João Paulo II à ilha.

Nas ruas de Havana, a decepção em relação às medidas anunciadas por Raúl era ontem visível em algumas conversas. "Não esperava um grande pacote de medidas como as dos anos 90, mas bem, esperava algumas concretas, e ontem [domingo] tudo foi muito verbal", disse à AFP Rey, condutor de um bicitáxi. "Penso que resolver os problemas da agricultura é fundamental e eliminar as interdições excessivas também, mas é preciso fazer muito mais e mais depressa", indicou Xiomara Castellanos, uma reformada de 67 anos.

"O país terá como prioridade satisfazer as necessidades básicas da população, tanto materiais como espirituais, partindo do fortalecimento sustentado da economia nacional e da sua base produtiva", disse o novo líder de Cuba no seu discurso de tomada de posse. Entre as mudanças "dentro do socialismo", Raúl defendeu reformas para modernizar a estrutura do Estado, permitindo uma "gestão mais eficiente do Governo".

No sector económico, anunciou que procederá ao levantamento das "interdições" sobre a economia, sem precisar quais, e ainda uma "reavaliação progressiva, gradual e prudente do peso cubano". O salário médio em Cuba é de 408 pesos, cerca de 12 euros, mas os produtos importados vendem-se em dólares.

Contudo, Raúl revelou que consultará o seu irmão em temas essenciais para o país - a economia, a diplomacia e a defesa. "Assumo a responsabilidade que me pedem com a convicção de que, como afirmei muitas vezes, o comandante-em-chefe da revolução é só um. Fidel é Fidel, todos o sabemos bem", indicou, antes de pedir à Assembleia Nacional que aprovasse a consulta do antigo líder naqueles temas. Simbolicamente, a cadeira de Fidel ficou sempre vazia.

É "mais do mesmo" para a dissidência cubana. "Não há surpresas, excepto a nomeação de Machado Ventura, porque é do sector mais ortodoxo do aparelho", afirmou à EFE o líder da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, referindo-se ao novo primeiro vice-presidente do Conselho de Estado. Elizardo Sanchéz indicou ainda que "o poder de Fidel Castro continua a estar acima do poder da sociedade e do Estado".

Na primeira reacção, o Departamento de Estado dos EUA tinha dito que a nomeação de Raúl Castro deixava antever "um potencial de mudança, que deve vir do interior" da ilha. Mas, ontem, o que tinha mudado era apenas a posição de Washington: "A única coisa que mudou é que apareceu um novo dirigente mas nada indica que isso permitirá aos cubanos aspirar a um futuro de liberdade e prosperidade", disse a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino.

Por seu lado, a Comissão Europeia indicou estar disposta a "um diálogo político construtivo" com Raúl. O comissário europeu para o Desenvolvimento, Louis Michel, afirmou que a sua visita à ilha, a 6 e 7 de Março, será uma ocasião para "fazer avançar" esse diálogo. Já o alto-representante da União Europeia, Javier Solana, revelou que esperava "melhores notícias, mais abertas" sobre a sucessão de Fidel. Com agências

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