sábado, 23 de fevereiro de 2008

Deviz Vai tentar segundo mandato



Santo da casa quer voltar a fazer milagres

Vou recandidatar-me, Daviz Simango

Por Eurico Dança, na Beira

Os profetas dizem que está ali o futuro da Renamo para os lados de Chiveve e não só. Esta semana em entrevista exclusiva ao SAVANA, Daviz Simango, um dos filhos do antigo líder histórico da Frente de Libertação de Moçambique, morto com requintes de malvadez pelos seus pares, confirmou o que já se vaticinava nos principais círculos políticos e em animadas conversas de cafés: vai candidatar-se a mais um mandato a presidente da Câmara Municipal da Beira. Pelo caminho, negou que seja um líder na forja para a futura liderança da Renamo, em substituição do autocrático Afonso Dhlakama e atribuiu tais “especulações” a alguns “oportunistas” que desejam distraí-lo a ele e ao actual líder da perdiz.

Daviz Simango, não obstante gostar de aparentar um recorte tecnocrático, não foge aos vaticínios de altos voos nas políticas nacionais do país. Quando se fala em mudança na RENAMO, muitos pensam em Daviz Simango, para alterar o estilo autocrático de Afonso Dhlakama e imprimir modernidade no partido que actualmente tem sob sua gestão cinco municípios.

Na entrevista com o SAVANA, Simango evitou fazer conjecturas de grande política, preferindo ir mais para um discurso mais humilde.

“Não existem alas dentro da Renamo, no sentido de eu ser o líder do partido. Digo isso porque eu sou membro daquele partido e participo em vários encontros possíveis. Portanto, internamente não se fala desse assunto senão da continuidade de Afonso Dhlakama como presidente do partido. E também a sua recandidatura às eleições presidenciais de 2009”.

“Para já eu sou um dos grandes apoiantes da presidência de Afonso Dhlakama no partido. Para além disso eu e outros membros estamos a apoiar o presidente Dhlakama à presidência da República”, referiu

Contudo, quando em Moçambique se traça a meta de 2014 como o tempo da viragem nos dois maiores partidos políticos da actualidade (Renamo e Frelimo), Simango é visto como um sério candidato à mais alta magistratura do país, quando se vaticinam há muito estratégias eleitorais que passam inevitavelmente por candidaturas credíveis com origem no Centro e Norte do país.

Mas no entender de Simango, o que existe são oportunistas que a todo o custo procuram distraí-lo a ele e ao presidente da Renamo, numa clara alusão à Frelimo e a alguns dos seus detractores dentro do partido.

Acrescentou que as mesmas pessoas não têm nada a ver com a Renamo mas procuram a todo o custo criar intrigas internas sem necessidade.

“A Renamo continua a ser um partido coeso, sólido e que sabe o que quer, porque tem uma liderança forte”, acredita.

“A Renamo é um partido forte tem um presidente capaz e dinâmico, razão pela qual é preciso compreender que as coisa não são feitas do género como as pessoas pensam, falar nos jornais, provocando especulações. Mas é preciso ver o que a Renamo quer”, reiterou Daviz Simango, engenheiro civil de profissão.

Garantiu que a Renamo continua apostada em Afonso Dhlakama para as eleições gerais de 2009.

“No mundo temos experiências de vários líderes políticos que perderam as eleições várias vezes mas que passado muito tempo acabaram ganhando outras eleições. Por isso temos que dar oportunidade ao presidente Afonso Dhlakama que continua a mostrar capacidade de liderança desde a guerra civil que durou 16 anos. Se não fosse a capacidade de liderança que Dhlakama possui, o país não estaria a viver momentos de paz e de democracia”, concluiu.

Contudo, analistas políticos entendem que Simango, apesar dos detractores da figura do pai, na Frelimo, é uma figura capaz de reunir consensos que ultrapassem as meras fronteiras do partidarismo político moderno e pode ir buscar votos a zonas que os ortodoxos se recusam a aceitar actualmente.

Mas nas hostes da Renamo e dos partidos que formam a coligação olha-se com desconfiança a crescente popularidade de Daviz Simango.

Sou candidato

A pouco mais de seis meses do fim do seu primeiro mandato na problemática cidade da Beira, Daviz não gosta de aparecer em comícios e evita ao máximo as proclamações políticas. Mas gosta do que está a fazer pela sua cidade da Beira. De ter posto a funcionar minimamente o sistema de drenagem e diminuir a praga do chamado fecalismo a céu aberto

Questionado pelo SAVANA se avança ou não para a sua própria sucessão, Daviz Simango, um dos políticos mais anti-convencionais do país, foi peremptório: vou-me recandidatar.

Simango lidera desde 2004 uma cidade que praticamente nasceu mal - foi construída sobre pântanos e abaixo do nível do mar. Concebida há 100 anos para albergar 50 mil pessoas, hoje a Beira tem a sua população multiplicada por nove, uma taxa de crescimento médio anual de 6,4%. É uma das mais altas da África subsahariana. “Há interesse por parte do partido e dos munícipes de me verem a continuar a trabalhar servindo os munícipes da Beira, cidade da qual guardo memórias”, frisou Daviz, segundo filho do casal Simango que foi morto em Mtilela, província do Niassa, alegadamente a 25 de Junho de 1977, por se opor à orientação marxista do regime da Frelimo.

Realizações

Nos primeiros anos do seu mandato na Beira, as valas de drenagem, um complexo sistema de canais com uma extensão de 15 quilómetros que envolve meios hidro-mecânicos de protecção da cidade, foram a sua principal bandeira. Vários edis depois da independência prometeram a reabilitação do sistema, mas fracassaram. Em pouco tempo, Simango conseguiu “desbravar” o canal principal. A água corre normalmente. O lixo e as pequenas florestas que cresciam no vale como cogumelos em tempo de chuvas, passaram para a história.

Outra área atacada por Simango foi a casa mortuária. “Lembro perfeitamente aquando da minha primeira aparição pública, quando fui à casa mortuária. Fiquei muito chocado porque vi pessoas a pisarem cadáveres para identificarem os seus entes queridos. São coisas como estas que nos marcaram mas que eu decidi que se devia encontrar uma solução. Daí viu-se a necessidade de se construir a nova morgue. Portanto, são estes e outros aspectos que nos marcam e nos encorajam a continuarmos a servir melhor a população”, justifica Simango. Um dos desafios a que o edil se tem entregue é a recolha de lixo na cidade da Beira, cujo resultado conferiu já à urbe o título de a mais limpa do País. A ele foi-lhe atribuído o título de melhor gestor municipal por uma reconhecida instituição internacional baseada na África do Sul (para além de ser a figura do ano deste semanário em 2006).

O seu principal desafio para os próximos tempos é o combate à criminalidade que “temos na Beira”, mas isso exige outras capacidades e competências, uma vez que as acções passam igualmente pela Polícia e pelo Ministério do Interior.

Recorde-se que na nossa edição do dia 13 de Julho do ano passado, Daviz Simango avançou três factores que não lhe permitiam decidir se ia ou não recandidatar-se ao cargo de presidente do município da Beira: primeiro apontou a questão familiar, segundo, dependia da vontade do partido e terceiro questões profissionais.

Bulha

Enquanto isso, nos círculos do partido Frelimo na Beira, um dos nomes propalados como provável adversário de Daviz Simango é o primeiro secretário provincial em Sofala, Lourenço Bulha.

Questionado, recentemente, pelo SAVANA a propósito, Bulha não confirmou, nem desmentiu. Referiu, apenas, que a decisão sairá do comité central da Frelimo, órgão a quem cabe a responsabilidade de aprovar as propostas de nome para o efeito.

Recorde-se que por disputas públicas com Filipe Paúde, então secretário provincial de Sofala, Lourenço Bulha foi obrigado em Agosto de 2003, a retirar a sua candidatura à presidência do Município da Beira. Bulha apresentava-se como um forte concorrente de Daviz Simango. No lugar de Bulha foi indicado Djalma Lourenço que viria a sofrer uma estrondosa derrota frente ao engenheiro Simango.

Mar destroi muro de protecção costeira

No entanto, nos últimos dias a fúria das águas do mar tem vindo a ameaçar engolir algumas zonas da segunda maior importante cidade do país, Beira.

Na semana passada, as ondas do mar galgaram as dunas e destruíram o muro de protecção costeira, tendo deixado as artérias do bairro de Macuti quase totalmente alagadas.

Cenário idêntico aconteceu nos finais do ano passado na mesma zona, onde a fúria das águas do mar derrubaram o muro de protecção costeira, permitindo a passagem das águas marinhas à zona residencial, concretamente, no local onde se localiza o Hospital Central da Beira. A situação deixou toda a zona inundada e as ruas intransitáveis.

Mendes Acides, cidadão beirense, é da opinião que deviam ser tomadas medidas urgentes sobre a protecção costeira, porque, no seu entender, caso isso não aconteça as zonas como Mucuti, Palmeira, Estoril e Praia-nova, por se encontrarem localizadas ao longo da costa, podem vir a desaparecer do mapa.

Ele referiu-se a algumas actividades desportivas, sobretudo motorizadas praticadas ao longo das praias da urbe, como as que têm vindo a contribuir para a destruição das dunas que protegem as zonas residenciais das águas do mar.

“Há falta de controlo sobre praticantes de modalidades desportivas motorizadas nas praias o que evitaria a erosão progressiva nas praias da Beira”, notou.

Quase grande parte da extensão da costa das praias da Beira, a sua protecção está dependente do muro de protecção costeira, o que não deixa maior segurança às zonas residenciais em caso de surgimento de ondas de grande magnitude.

Erosão costeira é séria na Beira

No entanto, Simango explicou que o problema de destruição constante do muro de protecção costeira pela águas do mar deve-se ao facto de os esporões 16, 17 e 18 na zona das Palmeiras estarem fora de serviço, situação que faz com que não retenham as areias que compõem as dunas.

“Não se pode pensar que o muro é que vai proteger o choque das águas, o que é importante é ter as dunas e os esporões a funcionar”, referiu.

Neste momento o Conselho Municipal da Beira está empenhado na reconstrução dos três esporões encontrando-se dois deles já betonados.

“Não queremos continuar a ver as águas do mar a invadirem as zona residenciais da nossa urbe, por isso somos obrigados a usar todos os meios para salvar a cidade das águas do mar”, disse.

Por outro lado, o edil da Beira reconheceu a destruição das dunas como um dos factores que facilita a invasão do espaço residencial pelas águas do mar.

Grande solução

Para o edil da Beira, a solução do problema da erosão costeira que afecta a cidade da Beira, passa pela reposição das dunas e construção de um muro de protecção costeira mais duradoira.

Sobre a reposição das dunas, Simango disse que tal passa igualmente por adquirir uma draga robusta com a capacidade de repulsão das areias. “Esta é uma questão urgente para salvar a cidade da fúria das águas do mar”, sublinhou.

Referiu que decorrem negociações entre governos moçambicano e europeus no sentido de se conseguir a referida draga.

SAVANA – 22.02.2008

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