segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

NOVO CUBA (II)


Pedro Olavo Simões

Mera formalidade de uma sucessão programada desde os primórdios da revolução cubana a Assembleia Nacional nomeou Raúl Castro Ruz para a chefia do Estado, desde 1959 nas mãos do irmão, Fidel, que há dias renunciou por razões de saúde. Não haverá grande mudança na vida de Raúl, que interinamente havia assumido as funções em Julho de 2006 e, na verdade, esteve sempre na vanguarda do poder. Não haverá também razão, portanto, para esperar mudanças profundas no regime comunista instalado a 154 quilómetros dos Estados Unidos, até porque, com alguma surpresa, o novo primeiro vice-presidente é um ultra-ortodoxo.

Raúl é diferente de Fidel na medida em que sempre foi um homem da sombra, discreto, em contraste com a exuberância do mais velho. Porém, sempre a par dele, na revolução, antes dela, ao longo de cinco décadas de vigência da ditadura que tomou o lugar de uma outra, a de Fulgencio Batista. E terá sido o mais novo, aliás, quem mais directamente esteve envolvido nos momentos sangrentos da revolução, isto é, nas execuções sumárias levadas a cabo aquando da tomada do poder. Portanto, a esperança em torno desta passagem de testemunho pouco tem a ver com a essência da política, centrando-se apenas na possibilidade de haver sinais de alguma abertura da economia.

Enquanto viver, Fidel continuará ligado ao poder, até formalmente, na medida em que não abdicou da liderança do Partido Comunista, o único que existe oficialmente. Como ele disse há dias, é favorável à mudança, mas "nos Estados Unidos". Porém, apesar de a saúde do velho comandante ser um quase segredo de Estado (a filha exilada de Fidel, que com ele não tem contacto, assegurou, em Miami, que estará gravemente doente), a estrutura do regime tem tido tempo de sobra para preparar a sucessão e assegurar a manutenção do status quo, pelo menos no futuro mais próximo.

José Ramon Machado Ventura, de 77 anos, um ideólogo do Partido Comunista que lutou ao lado dos irmãos Castro na década de 1950, foi escolhido para primeiro vice-presidente do Conselho de Estado (a posição até agora ocupada por Raúl). Esse é um claro sinal de que não se esperam mudanças, contrariando a percepção de que Carlos Lage, de 56 anos, poderia desde já assumir-se como um "outsider" em ascensão, conquistando protagonismo no aparelho de Estado.

A preterição de Lage, que nos anos 90 foi determinante no desenho de algumas reformas económicas, mostra que qualquer abertura que possa vir a verificar-se será lentamente processada.

Nada indica que possa ser dada razão aos defensores do mercado livre que, precipitadamente, anunciaram o arranque de uma "perestroika" cubana. Se o regime teve de se abrir ao ficar órfão da União Soviética, designadamente promovendo a oferta turística, é também certo que o regime não quer suicidar-se. Sete em cada dez cubanos nunca conheceram um presidente que não se chamasse Castro. Assim continuarão, para já.

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