quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

FIDEL CASTRO: Santo ou Pecador?


Estou de volta ao "Moçambique artificial" como a Ivone o chamou.
Quatro dias no "real" me deixaram desligados dos "current issues". De volta me cruzo com a notícia do Fidel Castro abandonando a vida política activa. Páro no Inchope das "40 crianças" e enquanto espero o almoço, dá para pegar o primeiro jornal. Confirmo a notícia. O almoço demora, é que o "pende" tem de descongelar antes de ir para a assadeira do grelhado como o pedi à dona Maninha que se encarrega de me servir o almoço. Dá então para ver o "Opinião Pública" cujo tema tem tudo a ver com Fidel Castro. Surgem então as perguntas:

- Oque vai mudar na história cubana?
-Vai melhorar ou piorar?
-Fidel foi ditador como se diz por ai?
-Fidel foi generoso como se diz por ai?
-Quem diz oque e porque?
-Como relacionar prováveis mudanças em Cuba ás quase certas a acontecer nos EUA?

As respostas do analista Niquisse me geraram mais perguntas do que responderam. Oque significará na prática sair da vida política activa?. Quão "passiva" será a vida política passiva de Fidel Castro? Que significa o facto do sucessor de Fidel Castro ser seu irmão?
O analista apresentou explicou e defendeu o conceito de democracia mono partidária com envolvimento popular. Infelizmente não consegui "pegar" a ideia por falta de clareza da sua parte ou falta de entendimento por minha parte. Sem referendo, sem voto popular como é que o povo participou por exemplo na decisão de quem sucederia Fidel Castro? Quais foram os critérios considerados?
Como é natureza do programa, se abriram as linhas telefónica e os telespectadores foram convidados a participar. Uns contra Fidel e outros a favor. Uns diabolizando-o outros santificando-o, enfim uma clara divergência em relação à mesmíssima pessoa. Foi dai que me nasceu o título e a ideia dessa postagem. Fidel foi Santo ou Pecador? Foi generoso ou ditador?
Para mim Fidel é um homem como qualquer um com virtudes e defeito. Há que elogiar as virtudes sem necessariamente ter que esquecer de apontar e criticar construtivamente os erros. Duvido no entanto que haja em Cuba esse espaço para críticas. Os que ousam levantar-se contra o governo são tanto quanto sei considerados contra revolucionários, instrumentos do imperialismo, inimigos do estado e são preso, mal julgados e condenados.
Não vamos esquecer o bem que Fidel fez à milhares de nossos irmãos que a custo zero foram para Cuba se formar nas mais diversas áreas e hoje são quadros importantes no país, mas esse "bem" não pode de forma alguma nos "tapar a vista" e deixarmos de ver os "pecados" que cometeu. Não deixaremos de questionar por exemplo o facto de Fidel ter pura e simplesmente passado a presidência ao seu Irmão.
A resistência de Cuba e Fidel ao embargo económico decretado pelos EUA parece ser outra causa de uma leitura deturpada. Parece que se deixa de ver os erros de Fidel por conta da "vitimização" imposta pelos EUA. Me lembro do caso Robert Mugabe versus Grã Bretanha. Deixa-se de ver os erros de Mugabe porque se olha para ele com o vitima dum gigante de quem também somos de alguma forma vítima. É a velha história de "inimigo do inimigo, amigo é" , assim todos que se "antipatizam" com os EUA acabam fazendo "vista grossa" a todo e qualquer "pecado" de Fidel Castro. Olhemos para esse homem com duas lentes bem diferentes. Com uma analisaremos os seus defeitos e o acharemos "pecador" e com a outra analisaremos as suas virtudes e o acharemos "Santo"

8 comentários:

umBhalane disse...

Nelson

Então de volta.
Espero que retemperado para novas etapas.

Ah, o pende...do Zambeze.

Mas o giriri, é muito melhor.

Já experimentou?

E uns filetes de somba?

Com tanta coisa boa, para quê falar do Sr. Fidel Castro.

Fica para a próxima.

Bom regresso.

AGRY disse...

Parafraseando Ivone Soares, benvindo ao Moçambique artificial ou enlatado, já agora.
Aproveito para visitar as minhas postagens sobre esta matéria.
Abraço e votos de bom regresso á comunidade blogger
Agry

AGRY disse...

Conclui que não tenho (?) o direito de o "aliciar" a visitar o meu blog. Por isso, decidi deixar-lhe aqui um excerto
"Não se trata aqui de fazer a apologética de ditaduras e classificá-las de boas e más. A questão situa-se a outro nível: grande parte das pessoas reage sob os efeitos da doutrinação a que foi submetido desde a infância. Funciona como uma caixa de ressonância de outros interesses que, em regra, não são os seus. Por isso, não tem ideias, não pensa, não questiona, não procura outras opiniões, outras vivências, outras realidades. É o verdadeiro reflexo condicionado pavloviano. Reage por instinto, com um prato de lentilhas à vista".
Ignoram, ou fingem ignorar, que Cuba nasceu da sua própria história, não é um "modelo-para-exportar" nem pretende sê-lo
Cuba foi vítima de mais terrorismo e durante mais anos que qualquer outro país do mundo. O bloqueio económico imposto pelos americanos, a sabotagem permanente, as crises migratórias induzidas, os atentados frustrados ou consumados, as conspirações dentro e fora da ilha, a propaganda asfixiante de que se serve a única superpotência do planeta, a 90 milhas de suas costas, para devolver Cuba ao redil das nações subdesenvolvidas, dependentes e saqueadas do planeta.

Nelson disse...

Oh Umbhalane. O guiriri nunca provei desconfio ser a primeira vez que oiço falar dele ou então conheço por outro nome. Já o Somba precisava não ser do vale do Zambeze para desconhecê-lo. olha que com as cheias abunda peixe e é até por isso que os manos resistem à evacuação.

À Agry: "a doutrinação a que foi submetido desde a infância" é algo muito ruim. É pior pela subtileza, porque muitas vezes nem damos conta que estamos agindo sob efeitos dela. É por isso que na minha postagem sugiro duas lentes diferentes.

Abraços

umBhalane disse...

Nelson

Aí na Beira encontras pessoal do Luabo,Marromeu, Mopeia - eles explicam-te o que é o giriri.

Mas, sei que não é o teu caso, te conheço, esse negócio das evacuações e assentamentos dos "manos", que sempre recusam, ou quando fingem aceitar, voltam na 1.ª oportunidade, porque será?

Há qualquer coisa mal explicada!

Não te vou enganar.

Nasci mesmo junto do rio Zambeze, no Luabo.
Kariba, 1959, ainda não existia.
Amigo, cheias eram naqueles tempos, antes da barragem do Kariba.
O Zambeze era verdadeiramente selvagem, solto, livre.

Mas havia sabedoria e harmonia entre o rio e os homens.

Havia desastres, calamidades - havia.

Mas, agora é demais.

Há qualquer coisa que não está a funcionar.

Os "manos" são burros?

Já deste parte da resposta.
"olha que com as cheias abunda peixe e é até por isso que os manos resistem à evacuação.
"
Creio que há muitas outras coisas boas também, que na balança pendem para o lado dos "manos".

E, eu sou sensível a elas, porque afinal, dentro de mim, ainda há algo de "mano" do baixo Zambeze.

Um abraço.

Nelson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nelson disse...

Olha Umbhalane, que um dia desses descubro que és parente meu. Parentíssimo.
Nasci no Muide, um bairro dos trabalhadores da Sena Sugar Luabo. Meu falecido pai foi mecânico nas oficinas da fábrica e de Luabo sai em 1985. Voltei a passar por lá em Março de 1989 e nunca mais.
Das cheias sempre ouvimos mas eram periódicas e não anuais como assistimos hoje.
Minha falecida mãe falava duma cheia violentamente famosa, a tal "nsassira" que assim se chamou porque "sassirava" (caçava) os "tchulus" onde as pessoas se refugiavam. Tinha acontecido anos bem longínquos que era usada até como marco para calcular idades dos que não tinham um registo das suas datas de nascimento.
Alguém já aventou uma mã gestão da "nossa" Cahora Bassa como causa das cheias. Eu não sei ao certo mano mas que com as cheias entra mola isso é lá uma verdadeira verdade. Entra mola no bolso de muita gente e quando é assim porque as cheias não devem acontecer todos os anos?

umBhalane disse...

Nelson

A última vez que estive no Luabo foi em 1977.
Já nessa altura se via o estado de abandono da SSE.

Olha Nelson, eu conheço, conheço mesmo, o rio Zambeze desde o Chinde até Mopeia.
Conheço por estrada também a mesma margem esquerda, igualmente do Chinde até Mopeia.
E conheço de andar a pé a realidade de parte das suas margens, nomeadamente Luabo, Baoaze, Chimbazo, Maruro e outros que a memória vai apagando.
Localidades como Chacuma, Inhacatiua, Matilde, Caoxe, Inhangombe, Inhamatambira, Chimbazo, Maruro, ..., fazem parte dos itinerários percorridos.

Para dizer o quê?

Para dizer que o tipo de povoamento prevalecente nessas áreas sempre foi do tipo disperso.
As pessoas viviam espaçadas, e onde queriam e lhes apetecia.
Terra não faltava, e não havia conflitos de posse.
Tinham várias machambas.
Junto ao rio, e afastado deste, para culturas de sequeiro, e/ou salvaguarda no caso das cheias e inundações.

Este era o tipo de vida a que estavam habituados.

A vida gregária, em assentamentos, aldeias comunais, aldeamentos ou que quer que lhe chamem, conforme a semântica conveniente da altura, parece-me ser recusada, ou pelo menos reticente pelos camponeses.

Também sei, que em termos administrativos, é mais fácil gerir as populações acantonadas.

Na perspectiva das populações, o importante é qual será o valor acrescentado, para além da teoria.
Em coisas concretas, em ganhos reais, palpáveis.

Para mim, este é o cerne da questão.

Já me estou a abstrair da eventual má gestão da nossa (85+15) CH, e dos aproveitamentos da mola que entra.

Até ignoro estas questões.

O essencial é ganhar as populações, e estas ganharem também.

Um grande abraço Zambeziano,

do

Porto/Portugal.