sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A CAMINHO DO MOÇAMBIQUE REAL


Vou me ausentar por aproximadamente 5 dias para o “Moçambique Real” como tenho ouvido se dizer um pouco por todo lado em se tratando das zonas rurais. Nunca me perguntei porque assim se chamam as zonas rurais de Moçambique, sempre assumi ser por causa das dificuldades várias que acabam representando fielmente o estado de desenvolvimento de Moçambique.

Lá os “dígitos” que se falam quando se discute assunto económicos não tem importância alguma. Os tão falados desenvolvimentos macro, micro ou sei lá oque mais, não contam nadinha. Quer o povo lá é poder no mínimo ter duas refeições.

Lá o povo o povo vê o dirigente na hora da campanha eleitoral para mais uma vez lhes angariar os votos. O povo vai aos comícios escuta discurso saborosos e espera sentado para ver realizadas as promessas feitas.

Lá o povo não é como da cidade. Não se cansa de esperar pelo futuro melhor que nunca chega.

Lá o povo tem até saudades do “passado pior” que era bem melhor que o presente. Deve ser pelo povo de lá que muitos acreditaram na lenda do pacifismo do povo Moçambicano, muitos acreditaram que Moçambicano não reclama nunca.

Meu destino é Inhaminga, distrito de Cheringoma. Inhaminga se tornou famosa depois dos confronto havidos há alguns anos entre a FIR(Força de Intervenção Rápida) e os homens armados da Renamo. Já ouvi várias versões desse acontecimento. Inhaminga é uma Zona politicamente sensível. Oque dizemos lá, é passível de muitas interpretações e há que ter muito cuidados para não espevitar ânimos adormecidos e ser desnecessariamente conotado com essa ou aquela força política partidária.

Em Inhaminga vou me debater como das outras vezes, com a grave falta de água. Quando em Maio do Ano passado o camarada presidente Gebuza passou por lá, lhe falamos desse crónico problema e prometeu resolver, mas deve estar muito ocupado com muitas outras coisas e penso que o povo saberá esperar mais um pouco afinal entrou no hábito esperar mesmo sabendo que se espera para toda eternidade.

Em Inhaminga vou enfrentar o problema de comunicação. A rede da Mcel a maior e melhor telefonia móvel no país tem das suas, é às vezes, uma verdadeira catástrofe. Tem vezes que se passam dias sem comunicação. Quantos maridos fieis viram sua provada fidelidade de longa data comprometida por não poderem por alguns dias se comunicar com suas amadas e desconfiadas esposas?

Para Inhaminga pago 150 meticais que podem ter subido com a recente subida de combustível não sei se o povo vai “imitar” o povo e vai reivindicar. No regresso no entanto, pago apenas(só comparativamente) 100 que igualmente podem ter subido. Nunca entendi a razão dessa variação. Explicar até já tentaram me explicar mas a lógica me impediu a entender.

Em Inhaminga não posso blogger, receber e mandar emails e essas outras coisas que dependem de um computador, mas em compensação posso escutar o amanhecer da floresta. Beber o oxigénio fresquinho directo da fotossíntese. Posso a noite assistir a dança das estrelas, depois que desligam o grupo gerador que alimenta a vila. Agora que Cahora Bassa é nossa, Inhaminga terá energia eléctrica 24 horas ao dia acredito.

Em Inhaminga meu mundo vai tomar outra dimensão. Vou exercitar minha simplicidade e na volta trago muitos saberes que só os acharia lá.



Até ao regresso deixo-vos um abraço forte

2 comentários:

Ivone Soares disse...

Desejo-te um breve regresso ao nosso convívio blogósfero irmão. Bjhs

umBhalane disse...

Cá fico à espera desses saberes profundos, como a floresta que circunda Inhaminga.

Até breve.