quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

quem tem tomates para perceber isso...


Do Eduardo White em Lisboa "consegui" esse "desabafo":

"No devassado coração da minha Pátria procure-se o lado oficial da vida, lento e sem ternura alguma e mudo defronte ao esquecimento e ao medo. Vejam, por favor, se tem o tamanho suficiente para que removido o faça sem que se lhe desperte a loucura nem se o perfure com ossos ácidos de certos dedos. Deste modo feito, pesem os aproveitadores da minha Pátria, no seu peso, em cada espinho onde têm o seu sustento, pesem-nos, pe-sem-nos e não se lamentem e nem olhem para isso como um desastre que possa vir a afligir-vos.

É necessário essa firmeza no carácter de tal atitude, esse martelo que os pregue desapaixonada, insensível e teimosamente. Pesem-nos a mando do Povo nas ruas, no Universo, pesem-nos até no sangue paralisante dos seus retratos, pesem-nos com a sua escarnecida falta de pudor, na sua inventariada e abominante ladroagem. Pesem-nos, pôrra, pesem-nos a bem de todos nós.

Não acreditem nas suas promessas na hora de o fazerem, nem nas bazófias filosóficas das suas bocas, não acreditem, por amor a Deus, no regime inconstante dos seus ventos e nos jovens que os imitam cheios de espanto. Procurem-nos, sem tréguas, em todos os seus jornais, a eles e aos seus trovadores, até que os possam reconhecer com as vidas de joelhos a falar de esforço e heroicidade. E, ora pôrra o seu esforço e, ora pôrra, igualmente, a sua heroicidade, porque é aí que estarão, creiam-me, com seus colarinhos muito alvinhos e as suas gravatonas muito coloridonas dando azo a discurssões aberrantemente sombrios a beijarem-nos os silêncios com as mãos cheias de máquinas mágicas e defecando soluções para mudar tudo sem nunca terem mudado nada. E atenção. Muita atenção que esses Ali Babas e os milhentos ladrões ainda assim falar-vos-ão, como sábios, de uma tal de Liberdade e dos destinos risonhos que nos esperam cheios d e lendas muito franzinas para que se nos acalmem os alarmes e nos calem as apreensões. Abracadabrões, malandros é o que são.

Precisamos, nós, é de dizer-lhes do quanto o meu País carece de homens abertos a outras palavras, homens que saibam chorar os seus erros, reconhecendo-os, e saibam, de igual maneira, desfazer-se dos mitos e das fantasias que nunca serviram e continuam a não servir. Precisamos de devolvê-los à razão e aplaudir-lhes essa façanha se a fizerem. É que o meu País, repito, precisa é de gente forte, convicta, firme para não resistirem às mudanças, homens indetergentes, inventivos e criadores e não pacóvios sentados sobre as suas regalias e vencimentos, sobre as suas mentiras grandiosas e os seus festins gulosos. Homens diferentes que sintam e saibam o quanto o meu País necessita de andar rumo à saúde, à justiça, às liberdades primordiais, rumo ao chão claro da prosperidade e do fósforo do progresso. Homens convincentes que pratiquem um abecedário mais iluminado. Homens que não sendo recentes são recentes e cultivem o amor pelo seu chão e pelas suas gentes.

O meu País é um País generoso que não merece nem ladrões amáveis, nem assassinos corteses e nem esbirros perdoados pelos seus crimes violentos. Mas, desde já advirto, que este é um País, falo do que amo, falo do que amamos indefinidamente, aonde toda essa escumalha, tenha o peso que tiver as suas faltas, deverá ser julgada e tratada humanamente. Porque nós navegamos em direcção à ombreedade, à constelação da integridade.

Temos muito sangue jovem por detrás das grades da nossa história, muitos corpos enterrados e outros tantos espalhados. É necessário que sem os desonrar saibamos amanhecer longínquos dessa treva, possamos ciciar outras páginas para ela. Nós iremos por esse caminho, tenho em mim o vaticínio, porque, como me diria um amigo, “eu habituei-me a morrer com uma esferográfica cravada no coração” e é este facto a transparência do meu sonho, a dentição madura do que ambiciono.

Há muitas bocas brancas pelas ruas, brancas de fome e muitas indiscretas riquezas em algumas algibeiras, há muitos gatos pardos nos gabinetes cheios de muitos projectos e sem visão nenhuma, há muitos loucos deambulando nus, muitos hospitais tristes pela língua das suas serpentes e vidros de sossego nas clínicas privadas, há muitos nadas por debaixo das árvores com os olhares vislumbrado um cadernozito, um livro escolar, uma caneta bic, uma caixa despertada para as cores dos seus lápis, uma carteira em que se sente um corpito inocente de uma criança, uma alvenaria impressa na palavra escola, há muitos corações que sonham ainda e muitas vésperas de alegria".

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