quinta-feira, 20 de março de 2008

Eleições Zimbabweanas

Encontrei aqui este cartoon que retrata a campanha eleitoral no Zimbabwe.

Legenda:
1. Nós morreremos por ti camarada presidente

2. Eu sei, é por isso que vos tenho feito passar fome todo esse tempo.

Meu mundo: Ainda à propósito de "NAKUDJULA HI DOGGYSTYLE"

Ainda à propósito de "NAKUDJULA HI DOGGYSTYLE"

Nakudjula Hi Doggystile

Existe o zicoísmo? (4) (prossegue)

Fenómeno Zico e Ziquista

Ainda à propósito de "NAKUDJULA HI DOGGYSTYLE"

"Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca" Carlos Serra

Ainda em torno do "Zicoismo" como como Dr Serra chama à esse "algo que socialmente tenha peso, algo que socialmente traduza aspirações, desejos, algo que possa ser tipificado como sistema, sistema que encontre em Zico uma formulação, uma saída, uma válvula de escape, uma resposta" retirei daqui as seguintes questões:

1-Que sociedade nós estamos e vivemos?
2-Quem consome e porquê a música dos Ziquistas?
3-E porquê criticamos?
4-O que estaria por detrás desses músicos?

Decidi procurar entender as questões e de alguma forma dar respostas.

1-Um entendimento claro se precisa sobre o conceito sociedade, seus elementos, dinâmicas antes de particularmente se discutir a nossa(onde estamos/vivemos). É a falta desses saberes que muitas vezes me "amordaça". Mas infelizmente ai parece estar "a casca" de tudo que procuro entender, defender, criticar e enfim. A sociedade em que vivemos seja lá qual for a definição, tem as suas especificidades, tem a sua história, seus problemas. E ao analisar o "Zicoismo" há que ter em conta todos esses aspectos mesmo que não seja à maneira profunda de um "expert". A sociedade em que vivemos produz "Zicos", produz consumidores avidos dos produtos dos "Zicos", produz críticos e apologistas dos "Zicos". Sociedade complexa essa em que vivemos.

2-Num dos comentários fiz menção do que um DJ me disse acerca da música
"NAKUDJULA HI DOGGYSTYLE" a saber " um Dj pode ser crucificado se não tiver essa música". É uma música que "esta bater". Toca nas rádios, nas discotecas, escuta-se nos chapas como disse Machel, passa nas tvs, enfim para dizer que dependendo da definição e certamente em doses diferentes, querendo ou não, gostando ou não, todos nós a consumimos. Por razões diferentes, com reações diferentes, resultados diferentes é claro. Será que devemos acreditar que os que consomem "maboazuda" agem no quotidiano segundo a música sugere? Que "dão" em tudo que é mulher e " até em albina"? Será que devemos acreditar que havendo que assim age o faz determinado ou influenciado apenas pelo "maboazuda"? Será que consumir as músicas dos "Ziquistas" significa concordar com oque dizem, "viver ao pé da letra"? Não haverá outros factores a determinarem? Se importam todos com oque dizem as músicas? Tem todos o cuidado de escutar e entender a letra das músicas? Quero sugerir que são muito os consumidores e são igualmente muitas as razões.

3-É interessante notar a "chuva" de crítica aos "Ziquistas". Nos debates que andaram por ai entre o novo e o velho, ao defenderem a necessidade de se preocupar com o conteúdo das mensagens que se passam através dessa famosa "música jovem", os da velha guarda foram acusados de o fazerem por terem perdido espaço na arena musical. A razão da crítica está penso eu, na sede de impôr "valores" sociais que são violados pelo conteúdo do produto dos "Ziquistas". Necessidade de como diz o meu grande Agry, negar expressamente "pactuar com manifestações tão medíocres como as propostas pelo Zico". A honestidade com que se critica fica no entanto "ameaçada" por falta de meios "definidos" com os quais se possa confrontar os criticados a ponto de culpabilizar-lhes por terem "atravessado a linha". É tanta relatividade que nunca se sabe se podemos ou não operar sob mesma plataforma, mesmos valores. Haver quem goste dos "Ziquistas" por exemplo, mesmo que seja uma minoria(infelizmente não é o caso). Haver quem lhes compre o CD, escute a música, passe na tv, inclua no Top sei lá, é suficiente para que se sintam animados a continuar com a "poluição moral" como alguém disse. Criticamos de forma "injusta" penso eu. Deixamos de lado todos os outros males sociais de mesma magnitude e concentramos as nossas atenções nos "Ziquistas". Se houvessem e definidos instrumentos com que criticarmos os "desvios" sócio-morais, teríamos com certeza como albergar em de forma justas todos esses males o que nos daria uma certa "credibilidade" na medida em que não nos estaríamos a basear em valores "abstractos" de conhecimento desproporcional aos integrantes da sociedade, não estaríamos a "atirar" em uns males e deixar de olhar para os outros. Podíamos ai sim incluir muitos outros "criadores" que de alguma maneira se "desviam" . Podíamos até quantificar o grau de nocividade desses produtos. A lista talvez fosse bem maior, talvez incluísse nomes dos "bem falados" músicos da velha guarda pois alguns deles de "santos" teriam muito pouco.

4- Oque estará por detrás desses músicos? Fama, dinheiro, ignorância, arrogância, falta de ética, moral, responsabilidade social. Falta de respeito pela humanidade, Visão distorcida do sexo e da sexualidade. Culto ao materialismo animal. Oque estará por detrás desses músicos? Fome de se impôr contra valores conservadores da sociedade, efeitos da globalização, falta do senso crítico e capacidade selectiva na importação de aspectos culturais alheios e até adversos aos costumes africanos. Falta de critérios reguladores das criações artísticas, capacidade da sociedade boicotar à manifestações artísticos-culturais que violam no seu todo ou em partes o sistema de valores sócio morais...
Por detrás desses músicos existe um sem números de factores reais e imaginários.
Na altura da "eclosão" do "blinguismo" procurou-se separar a Cantora Dama do Bling da cidadã Ivânia. Pretendia-se na altura defender com "argumentos" artísticos que a Dama do Bling podia-se "criar artisticamente" como bem entendesse. Usaram-se esxemplos de Madonnas, e muitos outros para defender os exageros do "Blinguismo". Onde mora a linha que separa o criador da criação? Quais são os pontos de ligação?

quarta-feira, 19 de março de 2008

O ovo ou a galinha?


Associando o comentário que recebi na minha postagem faço aqui um paralelo com essa milenar questão de quem existiu primeiro o ovo ou a galinha?
A questão é que existem correntes que defendem que a qualidade da música produzida é determinada pelos consumidores. Outros dizem que consumimos oque o mercado nos oferece e muitas vezes é por falte de alternativa. Então os Ziqos fazem a música que fazem porque a gostamos ou a gostamos porque senão não temos alternativa? De quem é então a culpa dos que produzem ou dos que consomem?

A propósito do "NAKUDJULA HI DOGGYSTYLE"


Anda de uns dias para cá um debate aqui e ali sobre a mais recente música de Ziqo "NAKUDJULA HI DOGGYSTYLE". Associado à música, debate-se também um vídeo "home made" no qual Ziqo aparece em pleno acto sexual.
Vou começar pelo vídeo.
Fiquei a saber que as imagens do vídeo foram captadas por um celular sem o conhecimento/consentimento do Ziqo. Analisando mesmo de forma descuidada as imagens "os closes" se descobre ser difícil e até mesmo impossível que Ziqo não tivesse tomado conhecimento que alguém estava registar a imagem. A vida sexual de Ziqo é privada(?) como alguém disse e nos interessa pouco ou nada, mas tratando-se de uma figura com a sua dimensão seus actos são lidos numa outra perspectiva. A ser verdade que não foi com o seu conhecimento/consentimento esperar-se-ia uma reacção por parte dele. Tenho certeza que não lhe seria difícil descobrir quem captou a imagem e a divulgou na net e assim responsabilizar os autores dessa ofensa se assim achar. A não se pronunciar poderia isso significar que mesmo não tendo consentido que o seu acto sexual fosse registado e divulgado na net, Ziqo não se sente ofendido, pelo contrário agradece pela publicidade uma vez que suas músicas são dominadas por conteúdo sexual que se encaixa no conteúdo do vidéo. Deve ser por isso que está se tornando difícil discutir a música sem incluir o tal "home made" porno vídeo.
Quanto à música, me lembro dos diversos debates sobre a música Moçambicana. Fala-se e escreveu-se bastante sobre isso. O velho vs o novo, mensagem vs animação e por ai em diante. Fica claro que enquanto não existir um "common ground" um instrumento regulador, ficaremos nessa de "se você não gosta deixa para quem gosta, se você não pode, deixa para quem pode". Como determinamos oque deve ou não ser cantado? Não bastam os nossos moralismos abstractos. Precisa-se sim algo concreto, para medir a "censurabilidade" dessa ou aquela obra artística. Ziqo canta sexo e isso é mau. Numa altura em que esforços estão sendo envidados no combate ao HIV/SIDA cuja forma principal de transmissão é o acto sexual irresponsável tal como o Ziqo parece promover nas suas músicas. Mas existem igualmente outras músicas que exaltam outros males sociais e há que encontrar plataformas "universais" para avaliar a nocividade dessas músicas. Enquanto não tivermos esses meios é bom que cada um se guie pela própria consciência. Mude de canal, desligue o rádio em fim medidas individuais. Tenho dito que Ziqo pode não ser culpado pelo conteúdo do que canta. Ele pode muito bem ser vítima da sociedade que o produziu. A sociedade pode não ser culpada por gostar oque Ziqo canta. Pode ser igualmente vítima. Oque eu nego e nego muito é que se relacione a qualidade de musica com o facto do povo gostar. Falei numa linguagem "grossa" que "uma merda não deixa de ser merda só porque todo mundo gosta"
O "estilo cão" está ai nas nossas rádios tvs, discotecas e "está a bater". Na discussão que tive ontem no Mozamigos, um DJ me disse que é "crucificável" o DJ que não tem essa música na sua colecção. "Não posso impedir que os passarinhos sobrevoem minha cabeça mas posso impedir que façam ninho nela".
Não posso impedir que Ziqo faça como cão que não tem lugar apropriado. Mas posso negar a ser como ele aliás sou ser humano e de canino não tenho nada semelhante. Porque me igualaria logo no acto sexual que sugere intimidade e privacidade? porque agiria como cachorro que não se preocupa com a consequência dos seus actos? Porque agiria como cachorro que não está nem ai para para o sentimento do seu parceiro?

sábado, 15 de março de 2008

Mbora lá relachar I


Com as noites(18.15 às 22.25) ocupadas pela vida de estudante, resta pouco tempo para descansar. 7.00-15.30(trabalho) e 18.15 às 22.25 (faculdade) de segunda a sexta, chega-se ao fim de semana com uma vontade louca de relaxar. Aliás os Sábados e Domingos passaram a ser bem mais gostosos. Achei aqui essa história que para além duma boa lição me valeu uma risadas relaxantes.

O Joãozinho achou tão excitante o que tinha visto que não se conteve e correu p'ra casa para contar, a mãe, o que tinha visto...
- Mãe, mãe, eu estava no pátio da escola, quando vi o carro do pai a ir p'ro bosque com a tia Lídia dentro... fui atrás p'ra ver e o pai tava a dar um grande beijo na tia Lídia... depois ele ajudou-a a tirar a blusa... depois a tia Lídia ajudou o papai a tirar as calças e depois a tia Lídia...
Nesse ponto a Mãe interrompeu-o e disse :
- Joãozinho, essa é uma história tão interessante, que vais guardar o resto dela p'ra contar à hora do jantar... Eu quero ver a cara do
teu pai, quando tu contares tudo isso hoje à noite.
Na hora do jantar, a Mãe pediu ao Joãozinho p'ra contar a história.
- Eu tava a brincar no pátio da escola, quando vi o carro do pai a ir p'ro bosque com a tia Lídia dentro ... fui a correr atrás p'ra ver e ele tava a dar um grande beijo na tia Lídia... depois ele ajudou-a a tirar a blusa ... aí a tia Lídia ajudou o papai a tirar as calças e depois a tia Lídia e o Pai começaram a fazer as mesmas coisas que a Mãe e o tio Jacinto faziam, quando o Pai estava na tropa ...
A Mãe desmaiou!

Moral da história : As vezes, é preciso ouvir toda a história, antes de a interrompermos ...

Chumbando a Justiça pelas próprias mãos


Queria e muito que fosse verdade que os linchamentos são simplesmente resultado do "fraco patrulhamento e soltura dos supostos malfeitores" queria que fosse solução do problema de criminalidade urbana. Queria e muito que com os tantos que já aconteceram, os malfeitores se assustassem e deixassem de o serem. As cidades fossem tranquilas. Queria. Mas a realidade mostra-se bem diferente. Casos repetem-se. Já me questionei como se explica por exemplo que o fenomeno não seja de escala nacional? Porque não se lincha em Quelimane, Nampula, Pemba, Lichinga? Porque nunca ouvimas casas em Tete, Inhambane, Gaza. É claro que não defendo o alastramento dessa prática desumana mas pretendo mostrar que existem elementos escondidos, ou estariamos a dizer que só em Maputo, Beira e Chimoio há problemas de "fraco patrulhamento e soltura dos supostos malfeitores". Só aqui a polícia é inoperante e ou se debate com falta de meios. Nem se quer podemos dizer que só nessas cidades as populações querem justiça nem que seja informal, apartir dum estado inconformado com o funcionamento da justiça formal. Não podemos dizer isso.
O problema começa por nos iludirmos que é assim tão simples a ponto de o podermos "agarrar pelos cornos" e subjugar. Acreditarmos que é um problema externo, alheio que podemos e devemos "resolver" e com a mais simples fórmula, exterminar os malfeitores.
Quem são e como se produzem esses malfeitores? Quem são e donde saem? Onde cresceram e como? Quem são os agentes da policia corruptos que soltam malfeitores, donde saíram, onde vivem e como vivem? Que relação tem connosco? Essa e outra perguntas aparentemente sem nenhuma relevância mostram que somos tão parte do problema do que parece admitirmos.
A nossa natureza humana nos manda achar um culpado para os males que nos visitam quer de forma individual ou colectiva e quanto mais distante de nós estiver esse culpado, melhor fica, mais fácil a solução. E quem é então culpado pela prevalência dos linchamentos? Se o "fraco patrulhamento e soltura dos supostos malfeitores" justifica os linchamentos, estes infelizmente estão longe de serem a solução para estancar a criminalidade nas suas mais diversas vertentes. Os repetidos casos de linchamentos mostram que os malfeitores andam por ai se multiplicando mesmo sob o risco de acabarem linchados. E então como ficamos? Vale a pena continuar? Onde se pode melhorar? Oque se pode mudar ?
Construir (ou reconstruir) a sociedade, proclamar e afirmar valores sociais, usando para tal meios de tamanha "desumanidade" é de incoerência descabida.
"Fraco patrulhamento e soltura dos supostos malfeitores" como causa únicas, dos linchamentos é no mínimo um diagnóstico simplista e precipitado que se justifica pela ânsia de reduzir esse complexo dilema, num problema facilmente gerível na mesma simplicidade com que se apedrejam ou queimam até a morte os "malfeitores". Enquanto não se encontrarem as raízes, esta-se longe de estancar os linchamentos. Precisamos nos submeter à dolorosa tarefa de avaliar o global, o total, o modelo político de vida que temos. Nos remetermos para a terapia global. Enquanto prevalecer esse "senso de justiça", não admitirmos mesmo que hipoteticamente a possibilidade de fazermos parte do problema, enquanto não admitirmos a natureza complexa do fenómeno todo esforço será no mínimo "aspirínico"

sexta-feira, 14 de março de 2008

Maputando as Maputadas de Francisco Rodolfo

Leio o Zambeze com regularidade que me dá o direito do título "leitor assíduo". Mesmo correndo o risco de ser etiquetado já que o Zambeze já gerou muitas antipatias. Não deixo de ler as suas habituas colunas. Maputadas, reflexões, Almadina Posto de Observação, Sobre o Ambiente Rodoviário.
Nas Maputadas dessa semana, Francisco Rodolfo mistura o aniversário da OMM com a governação de Gebuza. Exalta e bem a mulher moçambicana, desenha o percurso desde os primórdios da luta de libertação nacional, "esquarteja" suas conquistas, victórias alcansadas, o seu lugar actual lado a lado com o homem. Mulher ministra, deputada, PCA, mulher moçambicana.
Ao relacionar no entanto, a fundação da OMM ao governo do dia, Rodolfo me "despistou" completamente. Posso até ser "fofoqueiro" como Rodolfo chama aos que pensam diferente dele em relação às mudanças de Guebuza, mas eu penso diferente de Rodolfo.
É ridículo a analogia de Rodolfo segundo a qual "quando estamos a ser conduzido no boing só o comandante sabe como deve andar a nave, que nuvens deve atravessar". Nem sempre! Estão lá os pilotos, e outro pessoal que deve ser ouvido e tomados em consideração entes de decidir que nuvens atrvessar. Existe a torre de control que deve ser escutada e com atenção. Triste mas é oque está acontecendo. Só Gebuza sabe quem ele põe e porque põe. Só ele sabe porque tira. Me lembro do desabafo de Djalma, " só Guebuza sabe porque me tirou de Gaza". Mas eu e os outros "fofoqueiros" como bem podemos ser achados, não decidimos o curso do boing mas felizmente ainda podemos pensar de forma desligada ao comandande. Passamos então a especular e dá para facilmente perceber que foram escolhas erradas as que o comandante fez. Eram pessoas que não "aceleravam o passo", tinha pouco ou conhecimento nenhum das áreas que dirigiam e o presidente por só ele saber como dirigir o boing se induziu ao erro.
Critérios precisam-se, para dirigir o boing. Critérios para escolher ministros, e o mais elementar é a competência técnica.
Para terminar quero discordar com oque Rodolfo escreve no seu último parágrafo antes da nota. Moçambique já não é assim tão carente de quadros como diz. Os nossos quadros andam isso sim corrompido pelos venenos partidários. Deixaram e a muito de pensar com coerência de acordo com os saberes técnicos adquiridos nas academias, para acomodar o "consenso forçado" mesmo que esse consenso seja diametral e insultuosamente oposto aos saberes que nesse caso, inutilmente acumularam nos longos anos de academias. É por isso que nego e com veemência na postagem anterior que rotulem. Nego que façam simpatizante deste ou daquele grupo forjador de ideias.

SIMPATIZANTE DA RENAMO?


Escrevo hoje com urgência. Devo desabafar.
Tudo começou quando na habitual imitação que faço aos meninos de rua, fui revirando os "contentores", consumindo textos nesses montes de blogs com que estou habituado a conviver. Foi assim que me dei aqui com o seguinte texto:

"Where are the Frelimo bloggers?

It is striking that the Mozambican blogosphere is dominated by creative, bright, alert and sharp Renamo sympathisers.
Are the Frelimistas hiding, are they shy or don't they feel at ease demonstrating where they belong?

It's about time you come out from your closets, camaradas!"

Link aqui, link ai acabei dando aqui com o mesmo texto, mas desta vez com tradução "livre"

"É impressionante que a blogosfera moçambicana está/é dominado por simpatizantes creativos, brilhantes, atentos e simpatizantes alertos da Renamo. Os frelimistas estão a se esconder, são tímidos ou não sentem na facilidade de demonstrar onde pertencem?
É tempo de vocês sairem dos vossos armários, camaradas!

Porque também blog, também critico, me senti visado.
Comentei que criticar a Frelimo no seu todo ou em partes(seus pecados) não faz de seja lá quem for automaticamente simpatizante da Renamo. Ao negar essa "renamização" da blogosfera moçambicana, nego exactamente oque critico na Frelimo. Não é questão de se assosciar ou não à Renamo mas o receio de se ver impedido de pesar. É que falta e muito a cultura de autocrítica. Se me associam a Renamo pelo simples facto de criticar a Frelimo nos seus aspectos claramente negativos, não duvido que usando o mesmo raciocínio me associem à Frelimo no dia em que me vir obrigado a criticar a Renamo. É uma generalização barata. Existe essa tendência de etiquetar todo mundo. Todos temos que ter alguma côr? Se não somo vermelhos logo somo verde amarelo? Ou somos perdiz e ou pangolim? Não posso ser eu? Não posso escrever, sobre a situação, económica, politica e social de Moçambique, sem me aliar à alguma cor partidária que como alguém disse é "sem pensamento de um grupo agregado de alienados ao pensamento de um e que convertem outros tantos em cegos alienados ou seja puros alienados e sem capacidade de reflexão para alem das barreiras forçadas por uma ideologia sem sustentáculos sociais e políticos, credíveis, impostas por indivíduos com défice de pensamento"?

"Sou partidário do positivo para o povo, sou apartidário de uma oposição construtiva, o que tem faltado na nossa vasta pátria"

"Atiro chumbo" ao que está errado e se for necessário atiro ao meu pé. Quero continuar com essa capacidade, criatividade, atenção e sobretudo liberdade de dizer oque acho das coisas.

quinta-feira, 13 de março de 2008

O PAÍS ONDE MORO:carta para Mariazinha III



Oh Mariazinha, me orgulho demais por não ter falhado a sexta do combinado. Já disse que agora escrevo também para outra e há que guardar a palavra pelo menos quando se pode.
Ah Mariazinha o meu país está cheio de noticias. Tenho que começar por dizer que os deuses não ouviram o teu pedido. Se ouviram então não obedeceram. O "Jokwe" passou sim por aqui depois de ter estado na ilha. Destruiu "aquilo que é tão difícil o Homem construir" e até levou vidas consigo. Me disseram que foram cerca de 7 mortos, 6 feridos milhares de casas destruídas e centenas de embarcações. Olha a pobreza sendo aumentada ao já pobre povo das zonas costeiras que vivem do mar.
Mariazinha a noticia da semana foi com certeza a "vassourada" como costumam chamar por aqui, o meu presidente deu em quatro dos seus ministros. Entre as vítimas se encontra o dono dos barulhos de 5 de Fevereiro e tenho quase certeza que se é que tinha já outros pecados, a forma como geriu a "confusão" dos chapas foi a gota que fez transbordar o copo. Outros lesados foram os seguintes:
O ministro do Meio ambiente, que como dizem os entendidos, de ambiente entendia pouco ou nada. Aliás uma das características básicas dos ministros do meu país é não serem especialistas das áreas que dirigem. Contam- pelos dedos os ministros especializados nas áreas que dirigem entre os quais se destaca o ministro da Saúde, defesa, justiça, ciência e tecnologia e outros poucos. Os outros foram escolhidos por qualquer outra razão menos competência técnica.
A ministra da Justiça deve ter sido "vingada" por ter deixado que o presidente tivesse cometido aquelas histórias todas de inconstitucionalidadese que a rapaziada da Renamo não deixou passar. E por falar dessa rapaziada ainda te conto oque estão preparando.
A ministra dos negócios estrangeiros passou para o ambiente e dizem que foi porque a imagem de Moçambique lá fora caiu bastante e deve ser por culpa dela. Mas eu Mariazinha penso que a imagem que Moçambique havia colocado "no lá fora" tinha muito a ver com o desempenho do ex PR que como sabemos todos, era e ainda é um grande diplomata, um "lobista nato".
A forma apresada como tudo se fez deixou a muitos, muito assustados. Foi rápido demais. Os visados não foram avisados e alguns se encontravam em pleno exercício quando tomaram conhecimento.
Oh antes que me esqueça, falei da rapaziada da Renamo, é isso sim Mariazinha, quando pensávamos que o caso do PGR estava finalmente enterrado, para esses perdizes não está não. Tem uns artigos que estão usando e querem levar o PGR à uma reforma compulsiva, sei lá se é assim que se diz.
Mariazinha não deixar de mencionar algumas bem soltas. Dhlakama confiando agora e muito em Deus para responder as preces pela vitória eleitoral. Manuel Tomé trazendo incoerência de Nampula ou sendo mais exacto dos Municípios geridos pela Renamo. É que se esqueceu ele que a Educação saúde e segurança pública não é responsabilidade do município mas do governo. Os EUA voltaram a dizer algo sobre a situação dos Direitos Humanos em Moçambique. A polícia na mira.
Olha o país vai assim, assim. Madjermanes querem oque é deles. Bem poucos transportadores estão se beneficiando das compensações... enfim uma autêntica marambenta.
Mariazinha deixe-me ficar por aqui.
Um abraço forte do lado de cá.

P.s: Logo logo te mando o endereço para o meu cantinho de estudante. Vou chamá-lo "diário do estudante" e especialmente para a vida que vivo naquele mundo no espaço de tempo que vai das 18.15 às 22.25 de segunda à sexta.

terça-feira, 11 de março de 2008

Um Recado para o camarada Gebuza


De Lisboa o Eduardo deixou ficar esse recado para o camarada Gebuza

Se o meu País é um País de tachos, eu não quero ter nenhum, já o disse tantas vezes e, também, dispenso como o meu amigo “ de frequentar os salões doirados com presidentes e poetas, oradores, chefes de câmara” porque eu prefiro a felicidade das ruas, de viver à custa dos amigos que apreciam o que escrevo e o que faço, ao contrário da canalha que insiste em chamar-me bêbedo e depravado e descontentes e frustrados com a vida faustosa mas miserável que levam, essa canalha toda que nunca fará, nem teve e nem terá história nenhuma a não ser a que levam enterrada nas braguilhas, na singular memória dos seus testículos, uns, e dos seus úteros, outras, essa gente que dá socos no ar, presas ao papel dos seus livros, dos seus livros de cheques como é claro, cujas dívidas melancólicas ainda lhes oferecem carros, praias e mulheres ocas e abstractas ou raparigas que adolescem quando mostram a pele jovem das suas roliças pernas.

Esses meteoros da intriga que não compram literatura nenhuma e têm reacções flatulentas defronte das novelas que vêem, dos filmes sem solução, essa gentalha minúscula que não sabe que não me assusta a minha pobreza e que tantas vezes me convidam a sentar-se às suas mesas e me enchem de conselhos fúteis e pobres e me batem nas costas para me chamarem poeta. Filhos da puta.

Não sou um poeta feliz, reconheço-o, também não conheço nenhum que o seja, tirando, é óbvio, os que escrevem com as duas mãos e são muito bem arrumadinhos, muitíssimamente exemplares pais de família e que têm projectos agrícolas em carteira e que vão às compras com as mulheres para atestarem as perfumarias, as lojas de lingerie das amantes dos e das amigas, que têm um cão parvo com nome de gente e com quem falam e lhes recolhem as caganitas com os suspeitos e secretos restos dos seus banquetes, esses senhores tão difíceis de se lhes tocar ou mover que mandam cartões de fim de ano e têm uma máquina de filmar para as férias.

Esses, os que, certamente, têm um sítio para escrever muito limpinho e usam as calças rigorosamente engomadas e gatinham e ladram por alguma cadeira de cabedal e de chefia. Na verdade não passa a sua escrita toda de um animal embrulhado e armadilhado no gemido da tão sôfrega podridão desses senhores. Desses Popeys espinafrados, desses Tarzans do nacional graxismo, desses Mandrakes da democracia. Enfim, desses lambões.

Quanto a mim, olhem, sou uma frase censurada e conformada com tal facto. Já me quis desfazer desta vocação que ninguém percebe, nem lê, nem crê, mas sem resultado. Por vezes até me passou pela cabeça tornar-me naqueles betinhos de que há bocado vos falei. E, no entanto, continuo o festival de fracassos que nem betinho consegue ser. De maneira que lá vou levando a vida que levo. A cabeça engalanada de uns tantos tísicos poemas, de uns paupérrimos tostões que vou tendo no bolso e advindos:
. da generosidade da identidade empregadora,
. dos avaros forretas dos meus editores,
. do facto da minha poesia não vender absolutamente nada,
. de uns prémios magritos da que não me posso dar ao luxo de recusar
. e dos trocadilhos que vou fazendo nos simpósios em que participo.

Sou realmente um paradoxo por criticar-me e não fazer nada para mudar isto. Gostava de escrever melhor em situação bem melhor.

domingo, 9 de março de 2008

Homossexuais querem legalizar sua associação


O País online o9.03.08



Os homossexuais querem legalizar a sua associação e, para o efeito, já submeteram ao Ministério da Justiça o documento de pedido de oficialização da mesma agremiação. Alguns citadinos de Maputo ouvidos pela nossa Reportagem dividem-se em duas alas: uns recomendando que o Governo ausculte a sociedade civil antes de aprovar a proposta e outros que preferem que os homossexuais sejam encarados tal como são.

Seguramente que esta foi a grande recomendação saída da conferência internacional de homossexuais, realizada de 25 a 29 de Fevereiro findo em Maputo, e que reuniu homossexuais de vários cantos do mundo, com objectivo de reivindicar o seu espaço na sociedade.

A confirmação da entrada da proposta dos homossexuais foi dada a público pela titular da pasta da Justiça, Esperança Machavela. Entretanto, diferentemente da vizinha África do Sul que já legalizou a união matrimonial de pessoas do mesmo sexo, em Moçambique esta prática continua a ser à revelia e repudiada pela sociedade.



O PAÍS ONDE MORO:carta para Mariazinha II


Olá Mariazinha. Eu estaria morrendo de remorso por não ter escrito na sexta. Mas lembro ter deixado bem claro que tentaria ser fiel à promessa. Sugeria assim a dificuldade que poderia surgir. Olha Mariazinha escrevo hoje para ti e para outra. É isso mesmo. Me apareceu de bem perto(Lisboa) a outra Mariazinha que também se interessa pelo meu país. Ela quer notícias boas e como elas são raras ultimamente fica um trabalhão para mim. A outra me ajudou a entender que as pequenas coisas que fazemos pelo país, por mais pequenas que sejam contam e muito. Lembras-te da história do pica pau que com a floresta em chamas ia ao rio molhar o bico para apagar o incêndio? Quando lhe perguntaram(animais de grande porte) se ele acreditava na possibilidade de poder apagar o fogo ele disse: "me importa fazer a minha parte". É isso Mariazinha, vou fazendo a minha parte.
Olha do lado de cá os linchamentos continuam na ordem do dia mas há noticias boas. Finalmente o pessoas da polícia levou a sério à questão. Houve na semana que findou uma equipa de quadros da policia se deslocando para Beira e Chimoio para "estudar" o problema e buscar soluções. "Vale mais tarde do que nunca" com certeza.
A "novela" do PGR chegou ao fim. O final foi inesperado para muito de nós que temos a mania de prever as coisas. O processo foi simplesmente arquivado. Produziu-se um acórdão segundo o qual não há "nada" substancial que justifique a necessidade do guardião da lei ir ao banco dos réus. Mas olha que desse jeito(com esse final) a mente dos curiosos, dos especuladores vão se tornar criativas. Seria bom mesmo que o PGR fosse inocentado num julgamento de verdade, daqueles muito transparente.
Olha Mariazinha vou me ficar por aqui. Até quando eu poder.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Boss Sorry lá


Achei aqui a letra que se segue e achei suficientemente interessante para trazê-la para o nosso mundo:

Boss Sorry lá - YUCAFM
Composição: YUCAFM

Okey Moçambique, eu já me cansei
Eu disse "Boss Sorry lá"

Brada Sorry lá, Boss Sorry lá
okey

Descordo, nem aprovo, quando tu finge ser um demente
sempre que surge uma chance, logo roubas ao pobre cliente
Tu só pode ser um deles
como supôs o Azagaia o Estado só mente
e quando o povo te acusa, fechas a porta descaradamente
Bem sei, tu a mim me dás salário
e até dispensas, espontaneamente
Eu e tu é trabalho e amizade
nunca zangamos, mas agora chega
-------------------
Brada Sorry lá, Boss Sorry lá
Eu sei que a mim me dás o pão,
mas mesmo assim vai te lixar
Vai Vai
Eu sei que a mim me dás o pão,
mas mesmo assim ...

Se até família, tu desprezas
e espera que ela te esqueça, não vês que isso é mau?
e dos mendigos até roubas a esteira
e compras a seda para quem tem cacau
nem olhas para quem te ajudou
a chegar onde estás, és mesmo um cara de pau
para as ideias tens cabeça
mas digo tu como pessoa não vales um tostão
Bem sei, tu a mim me dás salário
e subsídios, espontaneamente
Nós dois é trabalho e amizade
podes chamar-me ingrato, mas agora chega

Brada Sorry lá, Boss Sorry lá
Eu sei que a mim me dás o pão,
mas mesmo assim vai te lixar
Vai Vai
Eu sei que a mim me dás o pão,
mas mesmo assim ...
Corrupto, fora
seu aldrabão, fora
seu deixa andar, fora
seu explorador, fora

Enquanto uns comem carapau
deitas fora o bacalhau AU
Enquanto uns pensam que és irmão
Digo a todos que és vilão

Brada Sorry lá, Boss Sorry lá
Eu sei que a mim me dás o pão,
mas mesmo assim vai te lixar
Vai Vai
Eu sei que a mim me dás o pão,
mas mesmo assim ...
Corrupto, fora
seu aldrabão, fora
seu deixa andar, fora
seu explorador, fora

Eu sei que a mim me dás o pão,
mas mesmo assim vai te lixar

quinta-feira, 6 de março de 2008

Ao Sabor das Palavras


Mais uma vez Eduardo White deixou no fórum do mozamigos um saboroso guisado de palavras que lhe "roubei" para o meu mundo. Pode ser que ele me vista um colar de morte, linche ao se descobrir roubado.

Sobre as mãos brilhantes do sangue, tu cantas o país que lavro sobre a tua pele e por sobre a minha língua uma borboleta constrói com pedra o seu casulo. Dói-me a sua técnica, o peso da rocha sobre os dentes e nem mesmo os acórdãos da canção os lavam disso. Mas tu cantas, e é essa a função que unicamente te importa, libélula aprisionada em seus próprios vidros, asa batendo por dentro da sua própria transparência.
De mim a visão de ti me torna suspeito em tudo e vigiado e acorrentado. Dentro é o peito um anel que se estrangula, a gordura leve da respiração. A terra é mole e húmida e do seu cheiro próprio me chegam as minúsculas vozes dos insectos, a das formigas se cumprimentando aos beijos pelo amor em suas antenas e as flores que comungam nas mãos os tubérculos, as raízes por onde se escondem as cores das ervas.
Sobre as mãos brilhantes do sangue tu vives e trabalhas nos escritórios e nas fábricas e nos calos escamosos das mamanas sachando repolhos, cenouras, milho e feijão e o leite forte e maduro em seus peitos dormindo ou sorrindo dentro do sono das crianças em suas costas, trabalhas a sangue a beleza das palmeiras subindo ou de uma bicicleta que leva em seu guarda lamas a saudade escrita a algum nome falecido, tu de onde sorriem os caranguejos e outros moluscos colhidos para a fome pelas praias, as velas enfunadas da madeira talhada sulcando o mar com pescadores dentro nos seus chapéus de palha. Tu, pequena maçala perfumando-me, pau de cana doce esculpindo língua e papilas, o amarelo do açúcar nos pirolitos, a letra infantil vivendo nos cadernos escolares.
Um país que só eu sinto ao despir-te para a nudez, para o esplendor dos cabelos duros por de entre os dentes do pente, para as rugas que sobem para tocar as estrelas de noite, ou aquecer o chá, de dia, numa boca do sol e assim lá vivo, imitando-me com a subtileza delirante de alguns poetas, a beleza que lhes vive com os dedos, a loucura à espreita na cabeça e nem assim me importo se me achem grande ou pequeno, se bom ou mau, se original ou representativo, ninguém poderá ler-te melhor que eu, sangrando o azul das mãos pelo meu rosto que é agora um avião riscando-te com passageiros dentro.
Habituei-me à minha pobreza e por isso da tua não tenho medo, nem da de ninguém, apenas uma dor que me aperta, uma navalha afiada a trinchar-me as veias quando vejo que essa nossa pobreza é pela miséria que se traduz no que falta nos hospitais, nos músculos raivosos dos assassinos em nossas ruas e que há reis e príncipes e princesas a comer gaviões importados em nossas mesas e limusines com champanhe dentro. Nas igrejas cheias, alguém burla Deus, e isso é-me esquisito, e milagrosamente faz desaparecer o dinheiro das carteiras dos fiéis, tal como nos escritórios públicos e das poucas empresas que ainda nos pertencem. Falam-nos da liberdade de expressão como um direito e não nos dão, entretanto, o direito de sermos expressão em nós próprios e todos nós sabemos que isso é uma grande teta, um odre a tornar-se numa imensa fonte.
Porém, não é esta feiura o que vejo em ti, mas a beleza vestida de esperança, a alguma ignorância que te fica tão bem muito embora de vezes a vezes ela se transforme numa lança mortal contra mim. Também posso ver um belo chalé em teu ventre e muitas crianças correndo à volta dele, aquelas crianças que ainda nos parecem impossíveis de materializar, aos gritos e sorrindo por debaixo dos bonés, e os arbustos verdes que o cercam, os arbustos verdes e coloridos, tudo isso é o que vejo ou o que quero ver e o que irreversivelmente eu gostaria visses comigo.
Sorrio, entre lágrimas e alguma angústia, sorrio, extenso como as savanas por este território afora, como o ar quente que bafeja sobre elas, e digo-te, pode-se amar um país com a mesma força do amor com que se ama uma mulher, e não é preciso que seja bela mas que se a sinta e se a respeite em toda essa dimensão.
Então é deste modo que te afirmo: Agora beijo-te e esse beijo é a bandeira com que visto a minha cidadania. O de moçambicano simples. O de moçambicano sonhando-se com a outra liberdade que tarda, a do direito da liberdade de beijar-te num país qualquer, com dinheiro no bolso, a pensarmos felizes na nossa viagem de regresso. Mas isso é apenas um sonho e não há ninguém melhor que nós, irrefutavelmente, a sonharmo -nos com o pouco que se ganha, de férias a visitar e a amarmo-nos pelo Mundo sem sairmos daqui.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Os Negócios de Hugo Chávez

De acordo com a revista colombiana "Semana"
Chávez ofereceu às FARC petróleo e contratos públicos na Venezuela
05.03.2008 - 12h58
O Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, terá oferecido às FARC a possibilidade de comercializar petróleo e gasolina e de realizar e receber contratos estatais nesse país, segundo revela a revista colombiana "Semana" numa edição extraordinária publicada hoje.

Os detalhes da oferta aparecem num dos e-mails encontrados no computador do chefe guerrilheiro morto no sábado passado, Raúl Reyes, e constituiram a matéria de investigação da revista.

As autoridades de Bogotá apreenderam quatro computadores pessoais num acampamento do Equador, bombardeado no sábado pela Força Aérea Colombiana, em que morreram Raúl Reyes, "número dois" e porta-voz internacional das FARC, e cerca de 20 rebeldes.

A oferta venezuelana de negócios aparece detalhada num e-mail sobre um encontro recente com Chávez, que os guerrilheiros Iván Márquez e Rodrigo Granda enviaram no passado dia 8 de Fevereiro ao chefe máximo da organização, Manuel Marulanda Vélez, e aos demais membros do secretariado rebelde.

Márquez, que foi recebido há cinco meses em Caracas por Chávez - para gerir o acordo sobre os reféns das FARC - integra o secretariado do grupo, ao passo que Granda pertence à rede internacional rebelde.

Segundo o documento, Chávez, identificado com o nome de "Anjo", ofereceu aos emissários "a possibilidade de um negócio" em que a organização receberia "uma quota de petróleo para a comercializar no exterior", acordo que a guerrilha assume como "muito vantajoso".

Márquez e Granda escrevem igualmente que foi oferecido às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia "a venda de gasolina na Colômbia ou na Venezuela", a "possibilidade de adjudicação de contratos estatais (venezuelanos)" e "a criação de uma empresa rentável para investimentos na Venezuela". O e-mail indica ainda que esta empresa poderia constituir-se com uma parte do "dossier", termo que, segundo o director da Polícia Nacional da Colômbia, o general Óscar Naranjo, foi adoptado pelos rebeldes para se referirem a uma doação de 300 milhões de dólares que lhes foi prometida por Chávez. Desses 300 milhões - continua o documento - "já estão disponíveis os primeiros 50 e foi elaborado um cronograma para se completarem os 200 [milhões] até ao final do ano".

Esta aproximação entre Chávez e as FARC, denunciada pelo governo colombiano, colocou este país à beira de uma crise histórica com a Venezuela, mas também com o Equador. Na segunda-feira, Chávez ordenou a expulsão do embaixador colombiano em Caracas, Fernando Marín, e dos seus colaboradores na representação, ao passo que o Presidente do Equador, Rafael Correa, rompeu relações com Bogotá.

sábado, 1 de março de 2008

CARTA À UM POETA


Neste cantinho aqui achei essa carta que me interessou o suficiente para trazê-la pra cá. Assinada pelo punho(dedos no teclado) de I.R


Buenos Aires, 14 de Janeiro de 2008

Prezado Poeta da lista de tradutores ,

Gostaria que me dissesse o que é um verdadeiro poeta. Existe um tipo de poeta que é o poeta falso, ou um falso poeta?

Estou de acordo que existem bons e maus poetas. A poesia é para todos, mas fazer poemas não. É mais ou menos parecido a poder ter acesso ao trabalho de um pedreiro, mas não poder fazê-lo; ou usar todos os aparelhos eletro-eletrônicos possíveis dentro de casa, mas não poder fazer meia instalação eléctrica.

No entanto, tenho essa dúvida: o que é um verdadeiro poeta? Estamos de acordo em que apenas rimar não é garantia de fazer um poema. Mas não entendo essa idéia de procurar ter cuidado para não misturar as boas obras de um poeta com os poemas daqueles que apenas sabem rimar, todas no mesmo lixo.

Sempre achei interessante essa pretensão de alguns, e talvez seja também a sua, de considerar os poetas, desculpe, os bons poetas, como seres superiores, acima da média, super dotados. Enquanto os outros, aqueles que apenas sabem rimar, são uns pobres coitados, preparados para participar daquelas colectâneas que são feitas apenas com uma intenção comercial.

Quem define o que é verdadeiro e o que é falso em um poeta? Quem é o dono do bom gosto e determina que aquele que não segue tais cânones faz parte do mau gosto, do pretensamente poético, do brega, do cafona. Quem separa o joio do trigo e aponta e separa os poetas verdadeiros dos falsos? Aos poetas verdadeiros o paraíso e suas 72 virgens, aos poetas falsos o fogo da Geena. Numa divisão maniqueísta, onde já não importa se o poema é bom ou ruim, mas se o poeta é verdadeiro ou não. Quem é o censor, ditador, professor, etc, que determina?

Para mim, um bom poema não precisa de rima, não precisa de métrica, não precisa de forma, apesar de eu gostar de tudo isso. Um poema precisa de ritmo. O ritmo é o sangue, o coração, a alma do poema. Nem todo mundo pode fazer um poema com alma. Quem eu chamaria de mau poeta, assim como eu não posso usar uma furadeira nas paredes de casa. Mas para mim, mesmo o mau poeta é um poeta verdadeiro, pois tem alma de poeta. Ser um verdadeiro poeta não significa ser um bom escritor de poemas. Ter espírito de poeta é uma condição aberta para todos nós. Escrever um bom poema é somar a esse espírito muito esforço e algum dom natural.

Então, poeta, que eu considero verdadeiro, só me resta dizer que também não acho muito importante se preocupar com a crítica, se vão elogiar ou dizer que é fraco. Apesar de admitir que é prazeiroso fazer algo que causa um bom efeito em quem lê , afinal, para isso escrevemos. E se seu trabalho vai parar no mesmo lixo que os dos maus poetas, talvez você não seja tão bom poeta assim, e seus poemas estão, com e como os meus, prontos para a incineração.

Um abraço,

I.R.