sábado, 1 de março de 2008

CARTA À UM POETA


Neste cantinho aqui achei essa carta que me interessou o suficiente para trazê-la pra cá. Assinada pelo punho(dedos no teclado) de I.R


Buenos Aires, 14 de Janeiro de 2008

Prezado Poeta da lista de tradutores ,

Gostaria que me dissesse o que é um verdadeiro poeta. Existe um tipo de poeta que é o poeta falso, ou um falso poeta?

Estou de acordo que existem bons e maus poetas. A poesia é para todos, mas fazer poemas não. É mais ou menos parecido a poder ter acesso ao trabalho de um pedreiro, mas não poder fazê-lo; ou usar todos os aparelhos eletro-eletrônicos possíveis dentro de casa, mas não poder fazer meia instalação eléctrica.

No entanto, tenho essa dúvida: o que é um verdadeiro poeta? Estamos de acordo em que apenas rimar não é garantia de fazer um poema. Mas não entendo essa idéia de procurar ter cuidado para não misturar as boas obras de um poeta com os poemas daqueles que apenas sabem rimar, todas no mesmo lixo.

Sempre achei interessante essa pretensão de alguns, e talvez seja também a sua, de considerar os poetas, desculpe, os bons poetas, como seres superiores, acima da média, super dotados. Enquanto os outros, aqueles que apenas sabem rimar, são uns pobres coitados, preparados para participar daquelas colectâneas que são feitas apenas com uma intenção comercial.

Quem define o que é verdadeiro e o que é falso em um poeta? Quem é o dono do bom gosto e determina que aquele que não segue tais cânones faz parte do mau gosto, do pretensamente poético, do brega, do cafona. Quem separa o joio do trigo e aponta e separa os poetas verdadeiros dos falsos? Aos poetas verdadeiros o paraíso e suas 72 virgens, aos poetas falsos o fogo da Geena. Numa divisão maniqueísta, onde já não importa se o poema é bom ou ruim, mas se o poeta é verdadeiro ou não. Quem é o censor, ditador, professor, etc, que determina?

Para mim, um bom poema não precisa de rima, não precisa de métrica, não precisa de forma, apesar de eu gostar de tudo isso. Um poema precisa de ritmo. O ritmo é o sangue, o coração, a alma do poema. Nem todo mundo pode fazer um poema com alma. Quem eu chamaria de mau poeta, assim como eu não posso usar uma furadeira nas paredes de casa. Mas para mim, mesmo o mau poeta é um poeta verdadeiro, pois tem alma de poeta. Ser um verdadeiro poeta não significa ser um bom escritor de poemas. Ter espírito de poeta é uma condição aberta para todos nós. Escrever um bom poema é somar a esse espírito muito esforço e algum dom natural.

Então, poeta, que eu considero verdadeiro, só me resta dizer que também não acho muito importante se preocupar com a crítica, se vão elogiar ou dizer que é fraco. Apesar de admitir que é prazeiroso fazer algo que causa um bom efeito em quem lê , afinal, para isso escrevemos. E se seu trabalho vai parar no mesmo lixo que os dos maus poetas, talvez você não seja tão bom poeta assim, e seus poemas estão, com e como os meus, prontos para a incineração.

Um abraço,

I.R.