sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Cheias no Zambeze IV


Querida,

Tem gente me perguntando

Porque não te deixo

Se a cada ano me queixo

Dessas tuas manias de enchentes


Porque não saio dos teus braços

Me solto em busca de outros amores

Corações mais seguros


Mas eles não sabem querida

Que amor eterno nos une

Amor cimentado pelos mortos

Que sepultamos no teu ventre


Amor encomendado pelo sabor da batata

Alegria dos pepinos dos teus seios

As tuas ancas abobradas

Não sabem da gordura das nossas colheitas


Não sabem da eternidade da nossa história

Que em ti, só em ti

Existe minha existência

Sempre existiu

Mesmo com as tuas manias de enchentes


Mas mesmo sabendo disso

Essa gente pensa que amor sofrido como nosso

Amor regado de lágrimas e tristezas

Não tem graça

Só desgraça

E eu penso que eles estão certos querida


Mas essa gente também não sabe

Que se te deixo não tenho para onde ir

Outro coração que me ame como tu

Nunca me deram alternativa

Embora pensem que sim

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