Numa entrevista transmitida pela TVM para balanço dos seus três anos de governação, chamado a comentar a situação de violência pôs-eleitoral que se vive no Quénia, o presidente moçambicano Armando Emílio Guebuza disse que “os quenianos não foram capazes de ler os sinais”. Na simplicidade do meu entender, o presidente “disse” ou quis dizer, que já haviam indicações(claras ou não) da possibilidade de eclosão de violência, já haviam, pairando no ar, indícios de conflitos étnicos que infelizmente e por razões a analisar com cuidado, os quenianos (povo e governantes) não foram capazes de “ler” ou quem sabe até não quiseram ler. Se os sinais que o PR, sem especificar referiu são os que penso ser, podemos estar a falar de tensões etno-políticas, falta de diálogo, insatisfação popular enfim, a criatividade aliada à exemplos de casos de violência em outros cantos do mundo podem nos fornecer muito mais. Se Gebuza estiver certo, como acho que em alguma percentagem está, me pergunto porque é que os quenianos (não quiseram)? Não foram capazes de “ler” os sinais de aviso? Será que acomodaram-se na estabilidade político-económica do seu país? No seu aparente pacifismo? Será que “sentados” sobre longos anos de sua história de paz harmonia e desenvolvimento diziam para si mesmos que “Quénia é diferente”?. Diferente do Ruanda, Burundi, Sudão(Darfur), Zimbabwe, etc, etc... Será? Será que o governo achava a oposição pacífica demais? Incapaz de violentamente reclamar fraude eleitoral? Será? Será que a unidade nacional era forte demais para dar lugar a violência étnica. Será? Aqui também a criatividade aliada à exemplos de casos de violência em outros cantos do mundo podem nos fornecer muito mais perguntas. Se Gebuza tivesse mencionados os sinais que ele achou que os quenianos não foram capazes de ler... Não pude não comparar Quénia a Moçambique. Não pude não me perguntar se existem em Moçambique alguns “sinais”, não pude não me perguntar se estes “sinais” estão sendo lido e interpretados correctamente. Se está se fazendo algo para que amanhã não venha alguém de perto ou longe dizer como Gebuza disse dos quenianos, que os Moçambicanos não foram capazes de ler os sinais. Ou estamos dizendo para nós mesmos que “Moçambique é diferente”? Se realmente é diferente, alguém me ajuda a entender as diferenças? Se não, alguém me mostra as semelhanças, a mim e a quem acha que Moçambique é muito diferente.
Não quero para o meu país o que vejo no Quénia hoje e sei que como eu ninguém(Moçambicano ou não) quer. Mas não basta não querer. Há que “ler” os sinais. Há que tomar medidas. Há que mudar. Há que “pôr as barbas de molho enquanto que as do vizinho(Quénia) pegam fogo e ardem”.
5 comentários:
Olá, Nelson.
A lição queniana devia ser aproveitada. É com as experiências que nos passam pelos olhos que aprendemos a ver.
Parabéns.
Não se sabe se Quénia não tentou copiar Mocambique. Imagina o Albuquerque aí do Chiveve, aquilo que aconteceu, em Tete, em Gaza, em Nampula, e, mesmo em Niassa, em Mocimboa da Praia/CD, quando se encheram votos nas urnas, inutilizacão de votos, etc. E ficaram impunes, refugiando-se ao legalismo sem justica.
Interessante sua posição. Se Quénia copiou Moçambique é bom que Moçambique não copie Quénia. Quénia não reparou que em Moçambique a oposição é mais "compreensiva". Quénia mostrou para Moçambique(oposição) como é que se faz quando há fraude eleitoral.
Os sinais sempre existem mas felizmente, em Moçambique, tem-se apelado ao bom senso. Espero eu que prevalece esse espirito apesar dos "sinais" nas eleições que se avizinham(?)!
Infelizmente o bom senso não sobrevive aos animos exaltados. Não podemos continuar a subestimar o potencial de violência que existe em nós(moçambicanos).
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