quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

A propósito do que se escreve e lê sobre a revolta popular...

Enquanto escrevo, misturo oque escrevo(o assunto) com quem escreve(eu).
Enquanto leio, misturo oque leio(assunto), quem lê(eu) e quem escreve(o autor).
Pode até haver esforço de ser o mais puro possível no ler e escrever. Ler apenas oque leio, escrever apenas o assunto, mas sou por natureza um ser misturado. Até o teor de sal na omeleta do pequeno almoço já se mistura com oque leio e escrevo. Vivo num mundo misturado, convivo com ideias misturadas e no fim do dia, na hora de ler e escrever, essas misturas se misturam em mim e me servem de "lentes" quando leio, influenciam o punho que escreve. Há factos que são naturalmente tão puros tão inegáveis mas mesmo esses, na hora de olhar para eles os olhos já estão misturados e acabo vendo as misturas nos meus olhos e não apenas os factos . Na hora de interpretá-los pior ainda. "Vitimizado" pela minha inteligência, seja ela curta ou longa a interpretação é nossa, minha e das misturas que trago comigo para os factos a interpretar.

Tudo isso a propósito das leituras em volta da revolta popular havida nas cidades de Maputo e Matola. Se escreve e lê muito em torno disso. Se ouve(escrito e falado). Mas é tudo misturado. Com cada facto vem um pouco de tudo. Um pouco de quem escreve, do porque escreve, de quem o manda escrever, suas convicções, medos enfim uma verdadeira mistura.
Entre oque "misturadamente" li essa manhã, destaque vai para o editorial do Jornal Notícias
que analisa a revolta popular em reivindicação à subida das tarifas dos transportes semi-colectivos. É uma análise naturalmente misturada. Tão misturada quanto à leitura que fiz. Escrevo agora misturado de ideias próprias e de entendimentos trazidos da leitura misturada que fiz.
O mérito da manifestação me parece estar aqui a ser diminuída por causa dos naturais aproveitadores que se misturam aos justos manifestantes que reivindicam causas justas. Vamos "deitar o bebé junto à agua de banho"? Claro que não! Vamos "matar os pombos junto aos corvo"? Claro que não! Vamos então misturar tudo e todos...
Como poderia se evitar que houvessem oportunistas uma vez que o homem é um ser misturado? Como poderiam os justos manifestantes simultaneamente reivindicar oque justamente tinham por reivindicar e cuidarem dos aproveitares que se misturavam a eles?
Quem lê misturadamente essas perguntas que coloco ficará misturadamente a pensar que me misturei. Que defendo os opurtunistas. Eu sou estou tentando me "dismisturar" e procurar entender a questão.
Entendo misturado embora que existe a ideia de surpresa em relação à revolta. Erro de cálculo. Na meu entender misturado, surpresa sugere ignorância. Não saber, não prever, subestimar. Que significava de verdade a subida de preços? Que resultados teria na vida do cidadão? Se sem misturas se ponderasse nisso. Os que pensaram que "a manifestação seria de pouca duração que as autoridades iriam agir de imediato no sentido de se repor a ordem e que tudo acabaria em bem" fizeram-no revestido de muitas misturas. Misturaram por exemplo a ignorância que tinham da capacidade do povo, da dor que ia na alma do povo. Misturaram o "mito" ter sido adoptado por muitos que "Não é apanágio do moçambicano pacato, mesmo quando se sente com a razão do seu lado, agir no sentido de prejudicar cidadãos que não tenham nada a ver com a questão em discussão". Um ser misturado é capaz de se misturar com muitas capacidades. Um ser misturado tem formas misturadas de se fazer ouvir. Um ser misturado não está nem ai para o senso comum. Não pode ser sistematizado, não tem fórmula.
O governo só foi apanhado de surpresa porque, penso eu, vive misturado. Leva consigo o mito acima referido . Acredita que o povo "sofre calado".
" Aparte tudo isso, há que reconhecer o esforço que o Executivo desenvolveu e tem vindo a desenvolver para que o agravamento das tarifas não seja excessivamente pesado para o cidadão" Tentei me dismiturar para entender essa passagem, queria que o autor se dismisturasse e mencionasse com os dedos(muitos ou poucos) esses esforços. Queria que falasse dos resultados desses esforços. O mesmo queria em torno do "espírito de diálogo que sempre norteou o Governo". Os exemplos usados são quanto a mim(visão misturada) um claro fracasso. Sendo o povo um dos principais " stakeholder" nesse "negócio" de transporte semi-colectivos, não devia de alguma forma estar representado nas negociações? O governo "persuadiu a Federação Moçambicana das Associações dos Transportadores a suspender a entrada em vigor da medida" e no dia seguinte os transportadores(não querendo ficar no prejuizo) não se fizeram á rua e o prejuízo continua para o cidadão. O problema só foi transferido dum "bolso para o outro da mesma calça".
Estou muito misturado e não sei como me "dismisturar".



3 comentários:

micas disse...

Oh meu amigo, de facto a sua misturada é grande.
Pudera! com a "mistela" que alguns fazem...que se havia de esperar?
Mas o que precisamos é ter esperança que o bom senso( e será que ele existe?) volte a reinar nas mentes dos Senhores.

Para desmisturar talvez fosse bom que se fizesse um debate nacional sério sobre as causas e consequências de tudo o que está a acontecer.A reflexão quando profunda e séria, sempre foi uma ajuda para a resolução de problemas.Quem sabe não se evitaria mais situações destas?

Atenção Nelson que o sal da sua omoleta não estrague a sua saúde!Cuidado com a hipertensão!

É! vai ver que esta misturada se deve a sal a mais...

Lázaro M.J.D.M Bamo disse...

Meu caro os artigos encomendados resultam nesse vazio, que os dedos do escriba nunca poderao te mostrar.

como nao se misturarem se pagam cotas e defendem interesses da menoria atraves da comunicacao social.

tenho dito

Phambeni

Reflectindo disse...

E quem são os maiores oportunistas afinal? Não são esses da imprensa que usam o menino que lá estava para desqualificar a essência da manifestacão? Mas como jornais como o Notícias nada me admiraria. Carlos Cardoso morreu a dizer isso e sobretudo da maneira como esse mesmo estava a contar sobre as chacinas de Montepuez.
Uma proposta que tenho, era de todos revermos o que aquele estudo da USAID dizia. Penso que podemos encontrar alguma coisa relacionada ao que se vive hoje em Maputo. Penso ainda que isto é apenas um aviso e pode ser possível evitar-se o pior previsto no estudo. Seria melhor nunca se ouvir de indivíduos enganosos que lutam a todo o custo para desprezar tudo que é analisado por outrem só porque se tornaram escovadores dos novos exploradores. Isso custa caro aos que sofrem, aos que morrem. Para mim, e, misturando mesmo, há que ver a accão de oportunistas que usando epítetos e canetas, não nos ajudam a dar atencão aos governantes que se dedicam ao seu enriquecimento ilícito e não melhoria das condicões da nacão.

Uma vez descrevi no meu blogue, sobre o sistema de transportes públicos, que no tempo colonial existia, e, repito, era muito mais melhor que ao que assistimos hoje.
Qual é a razão dessa diferenca?

O Povo merece respeito!