Ahmed fugiu depois de ser atacado por cerca de mil sul-africanos |
Em finais de Abril, duas pessoas foram mortas e cerca 40 ficaram feridas no distrito de Alexandra, a norte de Johanesburgo.
Multidões de sul-africanos atacaram imigrantes de Moçambique, do Malawi e do Zimbabwe e exigiram que se fossem embora.
As minhas coisas foram roubadas, o meu dinheiro também. As pessoas aqui do bairro roubaram-me tudo. Cerca de mil sul-africanos vieram atacar-me |
Os acontecimentos no distrito de Alexandra foram os últimos de uma série de ataques que causaram a morte a pelo menos 6 imigrantes e deixaram centenas sem abrigo.
A crescente violência levou o Presidente Thabo Mbeki e o líder do ANC, Jacob Zuma, a condenarem a xenofobia.
Ahmed Dakane tem 31 anos e é um refugiado da Somália.
Ele vive no bairro de Zwelethemba, nos arredores da cidade de Worcester, a cerca de 100 quilómetros da Cidade do Cabo.
Zwelethemba tem milhares de cabanas construídas com chapas de zinco e com caixas de papelão e está rodeada por montanhas.
Há quase 4 anos que Ahmed Dakane vive aqui. Ele tinha um negócio bem sucedido de venda de pequenos produtos.
Mas, em meados de Março as coisas mudaram.
"As minhas coisas foram roubadas, o meu dinheiro também. As pessoas aqui do bairro roubaram-me tudo. Cerca de mil sul-africanos vieram atacar-me. Chamei a polícia. Quando chegaram disseram que me podiam salvar a vida mas que não podiam salvar-me a loja. Perdi tudo. Até as minhas roupas."
A população local diz que o ataque foi provocado por um outro comerciante somali que matara um ladrão.
Pobreza e desemprego são grandes desafios para a África do Sul |
Mas quando a multidão de sul-africanos foi fazer vingança, não atacou apenas um comerciante mas todos os estrangeiros que viviam no bairro.
O mecânico Norman Kajeni é do Zimbabwe. Ele também foi afectado pela violência recente.
"Eles roubaram as minhas coisas, os meus equipamentos, partiram carros e destruiram a minha casa. Fui agredido e tive de ser hospitalizado. Levei 16 pontos na cabeça. Não sei porque razão não gostam de estrangeiros aqui. Viemos para cá apenas para trabalhar e para ganhar a vida."
O ataque em Zwelethemba não foi um acontecimento isolado.
Não precisamos de estrangeiros aqui. Eles têm muitos negócios mas não fazem nada para dar emprego aos jovens aqui do bairro. Não os queremos aqui |
Desde o fim do apartheid em 1994, pessoas de todas as partes do continente africano começaram a ir para a África do Sul, atraídas pela sua forte economia e aparente riqueza.
Mas quando chegam, muitos têm dificuldades para ganhar um sustento. Sempre houve tensões com a população negra sul-africana, mas nos últimos meses registou-se um incremento dos ataques.
Em Zwelethemba, o trabalhador comunitário Sylvanus Dixon - que imigrou da Serra Leoa - vê Ahmed Dakane a começar a reconstruir a sua pequena loja.
Sylvanus diz que os altos índices de desemprego, as débeis infra-estruturas e as fracas perspectivas para a maioria da população negra na África do Sul estão a provocar ressentimentos.
Sylvanus Dixon diz que os estrangeiros são bodes expiatórios |
"O problema é que as pessoas não querem aceitar a presença de refugiados e de estrangeiros. Eles não sabem quem culpar pelos próprios problemas da África do Sul. Eles vêem todos estes estrangeiros - particularmente estrangeiros negros - a chegar e ficam confusos.
"Hoje muitos estrangeiros aqui na África do Sul têm negócios e a população local não sabe como conseguiram dinheiro para criar esses negócios. Alguns acham que o dinheiro foi atribuido pelo governo. Há um grande ressentimento. Esses receios estão a transformar-se em xenofobia."
As pessoas não querem aceitar a presença de refugiados e de estrangeiros. Os seus receios estão a transformar-se em xenofobia |
Várias pessoas juntam-se para ver Ahmed Dakane a reconstruir a sua loja. Ele tem muitos amigos no bairro e estes estão dispostos a ajudá-lo.
Mas a situação em Zwelethemba continua muito tensa. Há alguma fúria no ar.
"Não precisamos de estrangeiros aqui. Eles têm muitos negócios mas não fazem nada para dar emprego aos jovens aqui do bairro. Não os queremos aqui," disse um jovem.
"Os estrangeiros vêm vender os seus produtos aqui. Se lhes dizemos que não temos dinheiro para pagar, tornam-se mal educados. Eles têm que se ir embora. Não queremos mais estrangeiros aqui. Eles vêem para aqui para ficar com os empregos," conclui uma mulher.
Nas últimas semanas trabalhadores comunitários organizaram reuniões entre a população de Zwelethemba e os imigrantes para acalmar a situação.
Mas Ahmed Dakane e os outros estrangeiros que vivem no bairro acreditam que, até que se resolvam as importantes questões da pobreza e do desemprego da maioria negra na África do Sul, será apenas uma questão de tempo até que voltem a ser atacados.
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