terça-feira, 6 de maio de 2008

Últimas do Caso Isabella Nardoni (I)


Cronometro coloca em xeque versão de pai e madrasta de Isabella

Publicada em 05/05/2008 às 08h34m

Plinio Delphino, Diário de S.Paulo
Peritos reconstituem queda de Isabella Nardoni, 5 - Reprodução TV Globo

SÃO PAULO - O relógio é uma das melhores provas da polícia de que o pai de Isabella Nardoni, Alexandre Nardoni, 29, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, inventaram a história de que uma terceira pessoa invadiu o apartamento e matou a criança. Os últimos minutos de vida da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, foram contados e recontados à exaustão. Na reconstituição do crime, chegou-se à conclusão que a versão do casal não bate com o tempo dos acontecimentos. O promotor Francisco Cembranelli pode entregar nesta segunda-feira à Justiça a denúncia contra o casal e endossar o pedido de prisão preventiva. A última vez que o casal foi visto foi quando prestou depoimento no 9º Distrito Policial.

Para a polícia, Isabella foi jogada pela janela do apartamento do casal exatamente às 23h49m19s do dia 29 de março, um sábado com garoa fina. Antes, havia sido espancada e asfixiada. O porteiro Valdomiro da Silva Veloso ouviu o barulho da queda da menina no gramado do térreo e, imediatamente, avisou o morador do primeiro andar, Antônio Lúcio Teixeira, pelo interfone. Esse trâmite teria demorado cerca de 40 segundos. A primeira ligação para a Polícia Militar comunicando a queda da criança foi feita pelo vizinho Antônio Lúcio Teixeira, às 23h49m59s.

Apenas 33 segundos depois do telefonema de Teixeira, às 23h50m32s, Anna Carolina Jatobá usou o telefone fixo do apartamento e fez o primeiro telefonema para a casa do pai dela.

A polícia argumenta: se Isabella caiu às 23h49m, como o assassino da menina conseguiu fugir do apartamento sem ser visto, se no minuto seguinte Anna Carolina Jatobá já estava discando para a família de dentro do imóvel?

A ligação para a casa de Alexandre Jatobá durou 24 segundos. Treze segundos depois ela fez o segundo telefonema, desta vez para a casa do pai de Alexandre, o advogado Antonio Nardoni. A ligação começou às 23h51m09s e durou 32 segundos.

Alexandre segue para prestar depoimento - Eliária Andrade , Diário de S.Paulo O tempo para fazer os dois telefonemas é de 56 segundos. Mais 13 segundos entre as discagens. Portanto, antes das ligações, o casal teria de fazer toda a checagem do apartamento e a descoberta de que Isabella caíra da janela. Depois, teve que aguardar o elevador e descer por ele para chegar ao corpo da menina, tudo em dois minutos. Com os filhos no colo.

Ou seja, em 120 segundos, destrancaram a porta, perceberam que a menina não estava no quarto, verificaram os outros quartos, viram Isabella pela janela e desceram até o andar térreo. Em questionário feito pela polícia, e enviado à perícia, foi perguntado qual o tempo médio em que seria possível realizar todas as ações. Resposta: 5 minutos.

Outro intervalo de tempo ajuda a polícia a demonstrar que uma terceira pessoa não poderia ter jogado a menina do sexto andar: o pai, Alexandre Nardoni, levou apenas 59 segundos para constatar a queda e estar ao lado do corpo no térreo do edifício London, ainda durante o telefonema do vizinho Antonio Lúcio Teixeira. A voz dele é ouvida durante a ligação.

A chegada

A família Nardoni chegou à garagem do prédio às 23h36m11s. A polícia constatou esse horário verificando, pela empresa Porto Seguro, contratada para monitorar o Ford Ka dos Nardoni, o exato momento em que o motor havia sido desligado naquela noite.

Da chegada da família Nardoni à garagem do Edifício London até a queda de Isabella pela janela do sexto andar passaram-se, então, 13 minutos.

Pela versão de Alexandre Nardoni, em 10 minutos, ele subiu com a menina ao apartamento, colocou-a na cama, preparou o dormitório dos filhos menores, trancou a porta e desceu à garagem de novo. Então pegou o menino Pietro no colo e subiu com Anna Carolina Jatobá pelo elevador. Ela carregava o caçula Kauã quando a família chegou ao hall de entrada, no sexto andar.

Pela versão do casal, nesse instante Isabella já estava caída no gramado. Restaram apenas três minutos para que tudo o que se sucedeu fosse encaixado na história.

Para a polícia, a versão do casal é matemática em que dois e dois são cinco: em três minutos, ou 180 segundos, o casal teria que ter conseguido concluir uma série de ações para tornar plausível a versão que contaram. E a polícia afirma que é impossível.

Casal não desceu junto Anna Carolina Jatobá sai para prestar depoimento - Reprodução TV Globo Alexandre e Anna Carolina afirmam ter descido juntos pelo elevador social para tentar socorrer Isabella no térreo. A polícia discorda dessa versão. O argumento é também com base no tempo.

Durante o telefonema para a PM, o vizinho Antônio Lúcio, morador do apartamento 12, só conseguiu informar de que andar Isabella havia caído porque viu Alexandre ao lado do corpo e sabia em qual apartamento ele morava. Também pediu viaturas para verificar a presença de um bandido no prédio porque era isso que o pai da menina dizia naquele momento.

Se o telefonema à PM era dado a partir de 23h49m59s e o vizinho via Alexandre no térreo, como é que ele havia descido pelo elevador com Anna Carolina Jatobá se a mulher estava, às 23h50m32s, dentro do apartamento 62, no 6 andar, telefonando para o pai dela?

A delegada Renata Pontes, em seu relatório, refuta a presença de uma terceira pessoa na cena do crime como sendo assassino de Isabella. E conclui: o casal estava na cena do crime na hora do crime.

A criança caiu às 23h49, segundo a polícia. E Alexandre já estava no andar térreo no minuto seguinte à queda. Então, a pergunta definitiva é: como Alexandre conseguiu chegar ao hall do seu andar, destrancar a porta, procurar por Isabella, constatar buraco na tela, correr para chamar o elevador e esperá-lo chegar e descer até o térreo em 59 segundos, com o filho Pietro no colo, sem encontrar o assassino?

Isso, se a polícia deduzir que Alexandre mentiu ao dizer que desceu com Anna Carolina pelo elevador. Porque, caso essa possibilidade seja levada em conta, o tempo do casal já estaria esgotado muito antes.

Nos cálculos feitos pela polícia, não foi considerado o tempo que o casal disse ter esperado na garagem, dentro do carro, até que uma caminhonete, com som alto, estacionasse. Segundo Anna Carolina, o barulho " acordaria as crianças".

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