domingo, 17 de agosto de 2008

DO CHITENGO ONDE MORO: carta para Mariazinha(I)


Mariazinha faz tempo que nao sabes nadinha de mim e tudo por minha culpa. Nem vou pedir que me perdoes por esse silencio que inventei entre a gente porque sei que não mereço perdão. Sei que pedindo, na sua generosidade, ainda talves me perdoes por isso n~ao o farei. Deixei a Beira sem nenhum recado para ti. A velha mania de deixar as coisas para depois. Fiquei me dizendo que te contaria tudinho mais tarde e esse mais tarde nunca mais chegou. Quando finalmente percebi que vida não estava me dando tempo para fazê-lo fiquei me desculpando que saberias por outras pessoas. Ao me explicar Mariazinha não estou de maneira nenhuma me justificando.

Vou passar a te escrever “do Chitengo onde moro”.

A vida mudou e muito Mariazinha. Deixei para trás a vida da cidade e vim para o Parque Nacional da Gorongosa. Não preciso te dizer Mariazinha que foi uma mudança e tanto. Mudou tudo. Os horários, a dieta. Mudaram os hábitos...mas a essência esta bem aqui por dentro, senão não se chamaria essência.

Tenho saudades de muita coisa que mesmo querendo já não posso. Não posso por exemplo blogar, discutir ideias com os “blogos”, escrever-te com a regulariedade que fazia. Não posso acompanhar o nosso país tão de perto como antes. Tenho acesso limitado a televisão, pouco tempo para “descascar” os jornais, enfim Mariazinha, a coisa mudou.

Mas não pense que só são privações. Estou aqui em contacto constante e intenso com a natureza. Ar puro, noites estreladas, manhãs com a passarinhada me proporcionando “música ao vivo” só para te dar um exemplo. Tenho tido opurtunidade de conhecer um monte de pessoas novas e aprender delas. Cada dia me reserva uma supresa.

Lido com logistica do parque e estou muitas vezes na estrada. Passou a ser costume cruzar-me com a bicharada do parque. Sexta feira dei um pulo à Chimoio e no regresso dei com uma manada que mais tarde vim a saber tratar-se de pivas. Momentos impares Mariazinha, e quando ao fim do dia paro para contabiliza-los chego a conclusão que sou previlegiado.

Você precisa começar a pensar em dar um pulo para cá Mariazinha, posso te garantir que valerá a pena. Olha o Parque esta renascendo. Os animais afugentados e ou dizimados durante a guerra estão voltando e penso que daqui a alguns anos isso voltará a ser oque foi em tempos idos. Um lugar de maior densidade animal. E quando esse tempo chegar, esteja eu cá ou não terei o orgulho de ter vivido um pedacinho dessa história de restauração do Parque Nacional da Gorongosa.

Deixa-me ficar por aqui Mariazinha. Deixo-te abraços, e promessa de voltar assim que poder.

P.S: Mariazinha estou ponderando a possibilidade de ter um diario onde ficarao registados os momentos mais marcantes do meu dia a dia no Chitengo.

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