quarta-feira, 19 de março de 2008

O ovo ou a galinha?


Associando o comentário que recebi na minha postagem faço aqui um paralelo com essa milenar questão de quem existiu primeiro o ovo ou a galinha?
A questão é que existem correntes que defendem que a qualidade da música produzida é determinada pelos consumidores. Outros dizem que consumimos oque o mercado nos oferece e muitas vezes é por falte de alternativa. Então os Ziqos fazem a música que fazem porque a gostamos ou a gostamos porque senão não temos alternativa? De quem é então a culpa dos que produzem ou dos que consomem?

8 comentários:

Anónimo disse...

....os "Zico's" só produzem determinado estilo "musical" porque há que consuma esse estilo. Acontece com a musica, como com outro qualquer tipo de produto comercializável.....só se produz se houver quem consuma.
Se temos alternativa? No que diz respeito à musica moçambicana, infelizmente NÃO! A actualidade musical moçambicana está monopolizada pelos artistas "Zico's", artistas que contribuem para o mal estar social, com mensagens delinquentes, atrazadas, pornográficas, insitamento à violencia social, etc etc etc....mas que no fundo, representam aquilo de que vive a nossa sociedade. Sim, porque se vivessemos num meio social com principios morais bem definidos, certamentes esses "Zico's" jamais teriam a ascenssão "musical" que detem hoje.
Enquanto esses jovens pervertidos, dementes, doentes mentais, atrazados e atrazadores socias se passeiam em carros de luxo e gozam de uma vida financeiramente saudável, os nossos verdadeiros artistas como Wazimbo, José Mucavele, Rosalia Mboa, Dimas, Julia Muito, Ali Faque, e outos tantos, vivem de "bicos" e shows de fundo de quintal....porque o povo (consumidor) apoia a incultura oferecida por esses pseudo-artistas.

...fui, mas volto.....

AGRY disse...

O argumento usado pelos zicos é um falso argumento. É de todo semelhante ao usado para fazer a apologia da existência de Cristo. Se há algo que existe sem causa tanto pode ser o mundo como Deus.
Ainda a este propósito, parafraseando B.Russell: “ A ideia de que as coisas devem ter um começo é uma opinião resultante da pobreza da nossa imaginação”
Não é necessário socorrermo-nos da moral e da ética religiosa para se constatar a indigência intelectual do ziquismo. Nada diz, nada transmite a não ser os “valores” ou contravalores duma sociedade marginal, consumista e que colide com a postura da grande maioria da população.
Se o ziquismo ancorasse num projecto global de reforma da sociedade, numa tentativa de rejuvenescimento, eu sei lá, teríamos que parar para pensar.
Quando descemos ao mundo da droga, da prostituição e da criminalidade, não estamos certamente preocupados em ir aí buscar inspiração para revolucionar a sociedade.
A sub-cultura que é a música pimba e outras manifestações da mesma família, não nos pode obrigar a pactuarmos com claras tentativas de agressão e menorização intelectual.
As suas raízes mergulham, no pensamento obscurantista e reaccionário. O ziquismo não traz nada de novo. Ressuscita toda a pobreza ética e cultural do sub-mundo que referi anteriormente

Nelson disse...

Caro Agry achei bastante "gordo" o seu comentário.
"O argumento usado pelos zicos é um falso argumento. É de todo semelhante ao usado para fazer a apologia da existência de Cristo"
Não me parece clara ou melhor não consegui entender, a relação que estabelece entre o argumento dos Ziqos e da apologia à existência de Cristo. Se não for pedir muito por favor me clarifique.
Quem sou eu para discordar de B.Russell mas se eu ousadamente colocá-lo na categoria de "coisa" direi sem medo de errar que ele ou a sua história teve um "começo" mesmo que esse começo fosse teoréticamente forjado na "pobreza da nossa imaginação”
Disse na postagem anterior que a "sencurabilidade" de seja lá oque for nos exige uma plataforma comum, um "instrumento medidor" e deve ser por isso que não tendo se estabelecido algum, "socorremo-nos" ainda que subconscientemente à "moral e ética religiosa" sem a qual talvés nos mergulhassemos num relativismo onde cada um seria padrão de si mesmo e todo esse debate seria fútil.
Até a "a indigência intelectual do ziquismo" requere algum "instrumento medidor" que infelizmente não existe claramente estabelecido e ou apresentado provavelmente por se supôr que exista enraizado nas consciências humanas sob alguma forma de valores morais e éticos que ariscadamente podiam se associar aos religiosos que pretendemos descartar.
Falar de "postura da grande maioria da população" é quanto a mim falacioso.
As premissas usadas para considerar a música pimba "tentativas de agressão e menorização intelectual" fariam assim parte do já aludido "instrumento medidor". Enfim precisamos de algo "concreto" com que avaliar o Ziquismo e não apenas "animosidades" que o conteúdo violentas das letras cria

AGRY disse...

Achei bastante interessante a sua réplica.
Bertrand Russel produz aquela afirmação num contexto religioso. Reportava-se para o dogmatismo que todas elas encerram. Se Deus ou a Terra, se o ovo ou a galinha. Foi, um dos fundadores da lógica matemática. O seu pensamento é transparente e complexo, a um só tempo. Foi um grande filósofo, um grande ensaísta. Opunha-se a todo o tipo de dogmas.
A sua afirmação exige, de nós, alguma reflexão e criatividade intelectuais. O Universo tem muitos milhões de anos, como sabe. Perspectivando tudo isso responde, há 60 ou 70 anos, com uma afirmação que ainda hoje nos choca!
Quanto ao ziquismo e ao instrumento medidor, recordo-lhe que não estamos, numa sociedade desprovida de valores. É verdade que existem alguns pontos de contacto entre a ética religiosa e a pagã mas isso não nos confere o direito de apontarmos a ausência de medidores.
Se reduzimos tudo ao universo da metafísica, da epistemologia, resvalaremos, indefinidamente, para a discussão do sexo dos anjos.
Temos referência muito concretas: almejamos a construção de uma sociedade liberta de dogmas, de pensamentos únicos e que persiga o bem-estar de todos e de cada um.
As pessoas, muitos de nós sabem exactamente o que não querem. No entanto, não possuem o mesmo grau de certeza sobre o que desejam
Os pensamentos obscuros e/ou oportunistas não me obrigam a um degaste intelectual. Já se escreveu muito sobre eles.
O homem é rebelde, é refractário à mudança. Isto sempre se aplicou às novas gerações ou à luta entre o velho e o novo. Mas não me convide, porque provavelmente recusarei, pactuar com manifestações tão medíocres como as propostas pelo Zico.
Desculpe, mas estamos a perder demasiado tempo com coisas menores. Não pretendo ser arrogante, nem pretensioso. O que haverá aqui a discutir e a analisar, serão talvez as causas, as origens deste fenómeno que irrompe no seio de uma sociedade conservadora e de “bons costumes”
As minhas preocupações não são de natureza ético-religiosa. Não costumo embar em histerismos colectivos. A minha ira é semelhante á globalização accionada pelos Macs, pelas coca-colas e por todo os artificios utilizados pelo Capital com o objectivo de mundializar, alienando, o consumo. Os Zicos e Cª, inserem-se nesta estratégia global. Espero bem, que não se perca muito tempo com isso.
Hesitei fazer um comentário sem conhecer profundamente o assunto. No entanto li alguns comentários inclusive dois ou três produzidos por si. Deve estar recordado do que escreveu.
Outros, com toda a legitimidade evocam Malhazine, prédios vazios, as centenas de milhares de desempregados. É aqui, penso, que devem ser concentrados todos os esforços, todas as energias
Respondi-lhe porque na net também se criam amizades. Não gostaria de voltar a este assunto.
Um abraço

OFICINA PONTO E VIRGULA disse...

Concordo com Agry, Nelson, assim como, o anónimo que iniciou com o debate. Vou citar ao anónimo um pouquito “Sim, porque se vivessemos num meio social com principios morais bem definidos, certamentes esses ‘Zico's’ jamais teriam a ascenssão "musical" que detem hoje.
Convido à comentadores a observar bem o descrito pelo anónimo. Acho eu pertinente, ao analisar o fenómeno Zico e a sua malta, terem em conta o estado social. Isolá-lo na nossa análise é isolar do contexto. Outros ainda associam o ziquismo com o desenvolvimento, outros associam com a falta da moral. Eu penso que é a forma como funciona a nossa “estrutura” social e até certo ponto política. O liberalismo e a liberdinagem vão ganhando enorme campo nas sociedades modernas.
Também, Agry avança uma outra questão muito importante, “Não é necessário socorrermo-nos da moral e da ética religiosa para se constatar a indigência intelectual do ziquismo. Nada diz, nada transmite a não ser os ‘valores’ ou contravalores duma sociedade marginal, consumista e que colide com a postura da grande maioria da população”. É verdade, mas nós não vamos deslocar do contexto africano, onde temos alguns valores muito apressiado pelo mundo fora. Pela pressão da pobreza e ao contexto da globalização, estes valores estão em ameaça. Daí, que o fenómeno Zico ganha espaço para atrelar-se à uma conjuntura consumada.

Obrigado

Nelson disse...

Estou sinceramente grato pelos ricos comentários. Me fica bem claro que concordamos e claramente em "não pactuar com as manifestações tão medíocres como as propostas pelo Zico".
Seguindo a sugestão de oficina ponto e virgula voltei ao anónimo do primeiro comment donde extrai o seguinte:
"se vivessemos num meio social com principios morais bem definidos, certamentes esses "Zico's" jamais teriam a ascensão "musical" que detem hoje"
Parece ser aqui onde preciso de mais luz pois no meu entender e concordando com o anónimo os "valores" com os quais a sociedade conta, por mais concretos que sejam não estão de tal modo definidos a ponto de se penalizar quem deles se desvia. Paira um relativismo que nos deixa nessa situação em que aparentemente julgamos apartir de valores individuais ou ao menos em doses individuais.
Discuti uma vez com uma americana que tentou e conseguiu me provar que com a colonização, as sociedades africanas deixaram de ser tão "conservadora e de “bons costumes” como eram antes e como desejariamos que fossem. Volto a questão de relativismo quando falamos por exemplo da "grande maioria da população" pois já se defendeu em algum lugar que é pelo facto de uma "grande maioria da população" consumir passivamente esse produto, que os seus produtores se animam em continuar.

AGRY disse...

Nelson vai-me desculpar mas não resisti e regresso apenas para clarificar a questão da grande maioria.
Há nisto tudo, no interior e no “estrangeiro” das sociedades africanas, uma amálgama de conceitos no que respeita à maioria. Não será necessário aqui recordar a distinção que Amílcar Cabral fazia de povo e de população. Pois bem, geralmente quando falamos de maioria, estamos a referir-nos ao povo e não à população urbana.
Os hábitos, a cultura académica, as vivências, a adesão ao consumismo e, duma maneira geral, a alienação reportam-se aos citadinos. São também estes os grandes consumidores da indústria musical. É também nas grandes cidades que ocorrem os fenómenos de miscigenação cultural e ideológica
Num passado recente, os jovens das sociedades ditas comunistas, pariam jovens capitalizados, anti-comunistas. Ao invés, nas sociedades capitalistas avançadas, os jovens afirmavam-se como comunistas radicais. Que dizer? Aguardo que os estudiosos me tragam respostas
Abraço

Nelson disse...

Caro Agry, penso que não tem nada que se desculpar. Já disse o quão "gordos" tem sido teus comentários. Achei muito esclarecedor a diferença entre povo e população. É confusão como essa que muitas vezes nos coloca em "posições diferentes" quando pelo contrário concordamos em grande parte das questões.