terça-feira, 24 de março de 2009

Para Mariazinha: Memórias de Tete(2)


Olha Mariazinha, essa coisa de memórias da infância é meio complicado sabias? Quando a gente “mexe o baú” custa muito parar, especialmente se tivermos bons amigos como a Micas que nos “espevitam” com suas próprias memórias e ou Bayano que nos pede para clarificarmos algo que ficou bem lá no tempo. Da Micas percebemos encorajados que a nossa infância não foi a única “temperada” de trapaças infantis. E isso “pacifica” a nossa adulta que vezes sem conta se ressente dos pecados dos tempos de criança.
Essa coisa de fazer amigos, muitos e bons amigos, doi na hora de deixá-los, especialmente se por algumas razão, temos quase certeza que cedo não os voltaremos a ver.
Mariazinha uma das coisas que me lembrei foi a festa de aniversário do Fifi. A messe estava bem em frente da residência do governador e o fifi estava na mesma turma com o meu Manuel. Os putos eram simpáticos e no aniversário nos convidaram para o lanchinho. Bem lanchinho é oque eu pensava que seria mas oh foi uma festança alegre de não esquecer. Foi naquele dia que conheci o “tio Muthemba” agora ministro das pescas, bem de perto.
Deixei Tete em janeiro de 1987 numa coluna militar com destino à Beira. Para trás ficavam amigos, muitos amigos. Se fosse hoje trocariamos números de celular, endereços de email, skypes e a comunicação continuaria como se não tivesse surgido distância alguma entre nós.
Antes de mim saiu o Ivo, assim que o pai, Sr. Mangue foi transferido. Coisa que criou tristeza na rapaziada do futebol. É com ele que iamos assistir em video as partidas do mundial de 86 com Diego Maradona a fazer das suas. Depois saiu o Dário, o Jojó, Abel, Gerson. Naqueles tempos, fazia-se a nona classe e seguia-se para outros cantos a continuar com os estudos. Hoje isso não é necessário Mariazinha, temos universidades em cada esquina do bairro.
A Fauzia fez contabilidade no Mártires de Wiriamo e foi trabalhar para no Hotel Kasuende. A Sandrinha sonhava ser professora. Não sei se conseguiu realizar o seu sonho.
O destino foi bom comigo. Voltei a me encontrar com o Nelson Jantar já na 25 de Setembro. Nelson formou-se na U.P e lecionou na 25 de Setembro onde tinha passado como aluno. Foi triste que ele tenha trabalhado um ano apenas. Uma crise respiratória levou-lhe do nosso mundo dos vivos. Rogo que a sua alma tenha achado o merecido descanso.
A bela Ângela, como fiquei a saber, fez direito e deve estar a julgar em algum distrito de Tete.
Mariazinha e o outro pessoal? Que será que é feito deles? Devem ser hoje uns senhores que nem nós. Dono de seus próprios narizes como se costuma dizer. Alguns devem ter se tornado grandes doutores. A vida é assim mesmo nem Mariazinha. Já imaginaste se podessemos hoje voltar a nos encontrar por baixo duma estreita amendoiera e discutirmos como trepá-la? Ou em volta duma maçaniqueira para sacudi-la? Já imaginaste Mariazinha?
Antes que me esqueça do pedido do Bayano, deixa voltar a falar um pouco do Mulamba. Primeiro dizer que em Nhúngue, Mulamba significa algo como “aquele/aquilo que nega”. Oque vim a saber é que muito tratamentos tradicionais em Tete envolvem proibição ao consumo de Mulamba. Queria ter ido mais ao fundo ter entendido melhor essa história de proibição mas tu sabes Mariazinha que naquela idade a gente não pergunta tudo não. Por exemplo quando me contaram que as mulheres grávidas não podiam assistir o Nhau porque ele tirava os fetos do ventre das mães, me deu vontade de perguntar oque o Nhau fazia com os fetos. Quando me disseram que a batata da Angónia não era saborosa porque lá eram fantasmas que cultivavam, e ou que o peixe do Chingale apodrecia com facilidade porque era pescado por gente morta, queria ter entendido melhor fazendo um monte de perguntas.
Mariazinha deixe-me ficar por aqui. Amanhã cedinho vou a cidade da Beira e espero trazer-te notícias.

2 comentários:

Nelson disse...

obrigado pela visita e pelo encorajador comment

Isabel Antunes disse...

Nelson,

Parabéns, gostei de encontrar, aqui, mais um talento moçambicano,na escrita, mais ainda, por ser de Tete, uma vez que eu da Angónia.

Isabel Antunes