terça-feira, 22 de abril de 2008

DA ACADEMIA ONDE ESTUDO: carta para Mariazinha

Escrevo-te cedo Mariazinha, bem antes da sexta feira combinada. Não pude esperar e penso que ainda volto na sexta prometida.
Hoje te escrevo da academia onde estudo e escrevo com muita tristeza. Hoje decidi escrever minhas lágrimas, esses rios que trago na alma, tristezas liquidas. So na semana passada Mariazinha, quatro colegas meus deixaram a academia. Tragédia pura. Um estava no primeiro ano, dois deles estavam no terceiro ano, e um no quarto. O caso mais trágico foi o do Francisco que tinha a graduação marcada para a próxima terça feira, 29 de Abril. Francisco veio de Tete para juntar saberes e voltar para terra com canudo próprio. Francisco bateu-se no duro nesses quatro anos de licenciatura em Inglês e ja tinha cortado a meta. Uma malária maldosa lhe levou daqui para outro lado na mesma sexta feira em que o corpo de docentes deliberava sua nota final. Quando seu nome foi chamado os colegas disseram simplesmente que ele estava ausente. Ninguém imaginou que era uma ausência eterna, que nunca mais teríamos Francisco connosco. Ao fim da tarde da sexta, a noticia se espalhou.A tristeza inundou a delegação da Beira da Universidade Pedagógica. Uma tristeza profunda. Mesmo os que como eu não conheceram Francisco pessoalmente, se sentiam consternados com a trágica morte. A raiz da dor esta no facto de ele ter partido sem saborear o seu esforço académico. Roubaram-lhe o prazer de ter vencido essa batalha. Quando na terça feira todos os outros receberem seus certificados Francisco não estará la como se ele não tivesse suportado os longo e difíceis quatro anos de licenciatura. A morte tem cada uma Mariazinha, vou-te contar!
Na urna vestiram Francisco a toga que ja estava pronta para a graduação. Parte para o para Tete donde veio vestido a licenciado pronto a ser graduado.
Alguém me perguntava ontem se valia a pena viver, valia pena todo esforço que se faz.
Vale a pena sim Mariazinha. A vida de Francisco não se poderia medir apenas pelo sucesso que seria depois da academia. Nesses quatro anos tenho certeza que marcou vidas que lhe rodearam e essas marcas são eternas. Lembrei-me Mariazinha das palavras do Shakespeare quando diz que "as pessoas mais queridas são as que mais cedo são tiradas de nós por isso temos que deixar as pessoas que amamos com palavras bonitas pois pode ser a ultima vez que as vemos"
Mariazinha a vida continua nos ensinando cada lição. Uma verdadeira academia.
Francisco parte hoje de regresso a Tete. Parte com a sensação de missão cumprida. Parte para a tristeza dos que tinham seus sonhos enxertados nos do Francisco. Quando alguém parte Mariazinha não são só seus sonhos que se desfazem se desfazem muitos sonhos, sonhos de muitos.
Vou ficar por aqui Mariazinha. Talves junte algumas letras e deixe um poema em memoria de Francisco la no meu cantinho da poesia (http://nelsonlevenaspalavras.blogspot.com)
Ate sexta feira
Abraços
Nelson

P.s: Olha Mariazinha tem uma Angolana que te acha Felizarda. Acha semelhanças nos nossos países. E tem um bom conselho no cantinho dela. " DONT GIVE UP"

4 comentários:

micas disse...

Nelson amigo

Não sei por onde começar se é que as palavras teem neste momento algum sentido.

É triste sim. É sempre triste ver partir um jovem. Mais triste ainda, quando ele foi um lutador.

Que tu e todos os outros colegas, saibam honrar a memória dele, lutando também.

Coragem! Por morrer uma andorinha, não acaba a primavera

Nelson disse...

Brigada Mariazinha. Brigada mesmo por essas palavras que embora simples trazem um grande encorajamento.
Por morrer uma andorinha nao acaba a primavera.

Ximbitane disse...

...

É dificil escolher as palavras para dizer o que me vai na alma.

Espero sinceramente que a UPBeira encontre nos colegas perecidos forças renovadas para lutar e dignificar o nome dos que partiram. Façamos dos seus sonhos e ambições, nossos sonhos e ambições.

Infelizmente a morte é a única certeza da vida, dela ninguém foge, ninguém escapa. Cada um com a sua hora e enquanto no nosso telefone não soar o bip, avancemos!

Muita força!

Nelson disse...

Brigada Ximbi pela força. Tal como lagrimas,as palavras podem não nos trazer de volta os mortos que choramos ou lamentamos,mas ajudam e muito a trankilizar a alma.
Brigada mesmo