sexta-feira, 4 de julho de 2008

Uma Carta Para Mim (3)




Do meu amigo Dede chegou mais uma carta que a semelhança das anteriores trago aqui para o vosso consumo.

"Caro Nelson,

Conquanto não tivessemos os olhos de analistas natos, sentimos uma responsabilidade na flor da pele de dizer um a outro, sobre o que foi a semana finda. Se não fosse ainda esta mudança de temperaturas que me afecta sobremaneira, talvez ti escrevesse mais cedo ainda. Faço votos que a semana no Chiveve tenha corrido à contento, pelo menos no que diz respeito a tua saúde.

Se te lembras, Nelson, aquela “guerra” sobre bandeiras iniciou por essas bandas onde vives, afinal pegou moda e já se expalhou para outros pontos do país. Veja só, em Nampula, mais precisamente, no Município de Angoche assiste-se à olho nu ou à calada da noite a uma retirada compulsiva das bandeiras da “Perdiz”, pelo menos em cinco das sedes locais. Agora não me perguntes quem faz isso!

E como se não bastasse as bandeiras e uma dessas sedes do partido no poder naquela edilidade ateou-se-lhes fogo. Fogo posto? Por quem? Nas minhas pesquisas indivíduais apurei que os supostos ateadores de fogo são elementos do partido perdedor; ou seja os da ‘maçarroca e do tambor’. Nelson, sobre este assunto alguém também disse que por perdedor ter pouca experiência de convivência democrática, os tais actos não são uma novidade. Coisa indignante, porque eu sempre julguei que um perdedor é sempre humilde para depois redimir-se dos seus erros e melhor estruturar sua estratégia. Neste caso, a coisa é bem diferente.

Não ti vou apoquentar mais com as bandeirolas por ora, só dizer que nesta semana vi também a democracia a ser escoteiada lá na casa dos vinte andares, da avenida vinte e quatro de Julho, em Maputo. Porque nínguem percebe nada o fito e mote que leva os homens que mandam na educação deste país usar a técnica de respostas de múltipla escolha em exames.

De qualquer maneira, o próprio timoneiro, (Dr.) Aires Ali (não o Mohamed!) veio ao público avisar que, por mais que público não tenha suas opiniões, esta técnica foi testada, segundo ele, nas reformas educativas diversas e se revelam apropriadas para o nosso país. Nelson, aqui me lembrei daquele assunto de “software” das eleições, cuja conversa levantou discussões acesas e, até certo ponto, contribuiu para o adiamento por duas vezes as eleições locais e gerais. Que consultoria é essa que está a trazer o “software” das respostas múltipla escolha para a educação, inquiriria eu, Nelson, sobre essa problemática.

Falando das eleições, prato predilecto, pelo menos na terra dos mwenemutapas, não sei qual foi a tua sensação sobre a recente cimeira dos chefes do estado e governo naquele instãncia balneárea egípcia, não fosse aquele situação de doença da parte do Presidente zambiano! Nada animador! Peçamos a Deus que lhe [ao Dr Levy] tire do sofrimento e regresse em breve ao nosso convívio, com sua voz alternativa a SADC dos camaradas.

Apesar de ter sentido que a União Africana fraquejou na sua tentativa de chamar à juizo Robert Mugabe, houve aqueles chefes de estado e governo, como os de Botswana, Senegal, Nigéria, Quénia, e um tanto timidamente o de Angola, que repudiaram a violência e condenaram publicamente o regime de Harare. O isolamento de Mugabe já está ganhar corpo.

Do nosso Governo, à cabeça do qual está o sr. Guebuza, pouco ou nada ouvimos. Nelson, o búsilis da inactividade do alto magistrado reside no seu estilo, na forma e na substãncia da sua liderança. Fiquei apavorado ouvir de outras fontes que não a do próprio chefe do estado do tal ditador recebeu ‘garantias’ de que se vai sentar à mesma mesa com o líder vencedor da primeira volta das eleições, Morgan Tsvangirai.

Para mim, Nelson, não restam dúvidas que o nosso Presidente nada fez, senão drenar rios de dinheiro para uma viagem que não devia fazer. Tais dinheiros ao menos podiam servir para comprar carteiras para as nossas crianças que continuam a estudar ao relento em quase todo país, desde a zona rural, subúrbio e em muitos casos nas cidades e vilas. Da minha boca podes não ouvir hoje que este Presidente que temos não serve para Moçambique, mas podes sim ouvir que eu opine dizendo que o presidente que temos pode servir para outras coisas não o que faz neste momento.

Atinente à tua recente carta, agradeço a chamada de atenção ao caso do causídico advogado, Albano Silva (AS), o marido da nossa Primeira Ministra, dra. Luisa Diogo. Afinal, os réus foram absolvidos, por não haver matéria bastante como evidência forte que incriminem os réus na tentativa de assassinato deste cidadão AS. Quem caucionou a sorte deste julgamento foi o ex-director da polícia de investigação criminal, que bem conheces, o dr. Frangoulis. Este disse sem papas na língua que este caso abre um precedente para a reabertura dos outros casos, como os dos 144 milhões de dólares entre outros.

Nelson, não vou aqui tratar do caso dos jovens e velhos na Frelimo protagonizado pelo General António Hama Thai, uma brincadeira que só nos envergonha e nos diz muito do pouco que vai na cabeça dos homens da nomenkalatura reinante. Os jovens são seiva da nação, ou não são?
Outro assunto que não vou pormenorizar aqui é da onda de crimes e trocas de tiros que amiúde vemos aqui e acóla, atirando o país numa autêntica “far-west”. Será que há ordens mesmo para atirar na nossa Polícia?

O que foi mesmo interessante foi notar o crescendo de Azagaia na semana que passou, cuja actuação recente no Porto em terras lusas, vem na página social - youtube (veja abaixo). Fala-se também da venda de umas camisetes aí do Rapper moçambicano.

Vou mesmo sair à grande e à americana para ti dizer, hoje os americanos celebram o seu Dia Nacional de Independência proclamada por George Washinghton. América é a potência a não subestimar. Aliás, já vemos nos dias de hoje a repercursão da crise financeira e de habitação, bem assim dos ditâmes da sua longa tradição democrática espelhada pelas primárias recentes sobre o resto do mundo.

Volto ao teu convívio para semana com mais novas. Quem sabe, sem notícias de corrupção de pequena monta que esta semana fizeram vitima um cidadão português ao invés do ‘peixe graúdo’ nacional, chafurdando na lama local! Irónico, não é? Enfim.

Saudo-te.

Dedé "

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