quarta-feira, 18 de junho de 2008

O País do Chiconhoca


Recebi na minha caixa de email a mensagem a seguir que pela reflexão interessante achei bom traze-la para cá (meu mundo)

"Subject: Pertenço a um País, o País do Chiconhoca

A crença geral anterior era de que Samora não servia, bem como
Chissano.Agora, dizemos que Guebuza não serve. E o que vier depois de
Guebuza também não servirá para nada.
Por isso, começo a suspeitar que o problema não está no DEIXA ANDAR de
Chissano ou na farsa que é o NÃO DEIXA FAZER de Guebuza.
O problema está em nós! Nós como povo! Nós como matéria-prima de um
País!
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre
valorizada, tanto ou mais do que o Dólar.

Um País onde ficar rico da noite para o dia é uma "virtude mais
apreciada" do que formar uma família baseada em valores e respeito aos
demais. Pertenço a um País onde, lamentavelmente, os Jornais jamais
poderão ser vendidos como em outros Países, isto é, pondo umas caixas
nos passeios onde se paga por um só Jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL,
DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao País onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras
particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa,
como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo
o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para
eles mesmos...

Pertenço a um País onde as pessoas se sentem espertas porque
conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo ou da DSTV,
onde se frauda a declaração de IRPS e IRS para não pagar ou pagar
menos impostos.

Pertenço a um País onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os
Directores das Empresas não valorizam o capital humano que tem antes
pelo contrário os exploram. Onde há pouco interesse pela ecologia,
onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do Governo por
não limpar os esgotos. Onde as pessoas se queixam que a luz e a água
são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os
nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há
consciência nem memória política, histórica nem económica.
Onde os nossos Políticos trabalham dois mizeros dias por semana para
aprovar Projectos e Leis que só servem para caçar mais os pobres,
arreliar a classe média e beneficiar a alguns que jÌ sabemos quem são.

Pertenço a um País onde as cartas de condução e as declarações e
atestados Médicos podem ser "comprados", sem se fazer qualquer exame.

Um País onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma
criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no machimbombo,
enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o
lugar.

Um País no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o
peão. Um País onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a
criticar os nossos Governantes.

Quanto mais analiso os defeitos de Chissano e de Guebuza, melhor me
sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de
trânsito para não ser multado.

Quanto mais digo o quanto o Samora é culpado, melhor sou eu como
Moçambicano, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um Cliente
que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não! Não! Não! Já basta!

Como "matéria-prima" de um País, temos muitas coisas boas, mas falta
muito para sermos os homens e as mulheres que nosso País precisa!
Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE MOÇAMBICANA'"congénita, essa
desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até
converter-se em casos escandalosos na Política, essa falta de
qualidade humana, mais do que Samora, Chissano ou Guebuza, é que é
real e honestamente ruim, porque todos eles são Moçambicanos como nós,
ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...

Fico triste! Porque, ainda que Guebuza fosse embora hoje mesmo, o
próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma
matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não
poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa
fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a
erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem
serviu Samora, nem serviu Chissano e nem serve Guebuza, nem servirá o
que vier. Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a
força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa! E enquanto
essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima
para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos
igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados!

É muito bom ser Moçambicano. Mas quando essa Moçambicanidade autóctone
começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento
como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos
os Santos , a ver se nos mandam um Messias. Nós temos que mudar!! Um
novo governante com os mesmos Moçambicanos nada poderá fazer! Está
muito claro... Somos nós que temos que mudar! Sim, creio que isto
encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a
mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente
tolerantes com o fracasso.

É a indústria da desculpa e da estupidez!

Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o
responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim,
exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco,
de desentendido.

Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI
QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO
LADO.
E você, o que pensa?.... MEDITE!

Texto original de EDUARDO PRADO COELHO"

3 comentários:

Ximbitane disse...

Sim, senhor, um chef d'oeuvre!

micas disse...

Infelizmente a comunidade dos países Xiconhocas é cada vez maior.

Olhemos cada um de nós para o seu próprio umbigo e reflectamos sobre o nosso papel na sociedade.

A mudança poderá e deverá vir de cada um de nós, nos pequenos gestos, nas pequenas atitudes.

De cima deveria vir o exemplo, mas é debaixo que vem a força.

Unamo-nos pois numa comunidade dos Não-Xiconhocas!

Nelson disse...

Ximbi realmente uma ganda reflexão. Micas tens razão quando dizes que temos que olhar também na gente alias o autor sugere isso quando " inocenta" os presidentes. Ha que cada um buscar a sua parte nessa historia.