domingo, 5 de abril de 2009

A ENTREVISTA DO Dr. ELÍSIO MACAMO

De quatro amigos recebi o texto com a entrevista do Dr. Elísio Macamo acompanhado de diferentes comentários. Tal como lá na Bantulândia(http://bantulandia.blogspot.com/2009/04/elisio-macamo-em-entrevista-discussao.html) blog do Josué Bila, onde a entrevista foi originalmente publicada, procura-se destacar o facto de Elísio Macamo ter respondido a “ perguntas cruciais” com simples “não sei...também não sei”.
Depois de ter lido a entrevista toda, passando pelos “não sei” , “também não sei”, “não tenho a mínima ideia” do Dr. Elísio Macamo, fiquei com uma vaga ideia do porque do tanto “surruro” com essa entrevista.
É que fica-se claramente com a impressão que Elísio Macamo não responde às perguntas como gostaria o entrevistador(e talves até muito de nós inclusos). Ai me pergunto porque.
Porque é que Elísio Macamo não respondeu à essas “perguntas cruciais” com a “crucialidade” que se esperava dele. Mas me pergunto também como então devia ele responder e porque é que ele devia necessariamente responder como se esperava. Por que é que não podia como fez, usar da liberdade de responder como bem lhe apetecia responder?
Me parece que entrevistador(e talves até alguns de nós inclusos), se sentiu “incomodado” com os pelos “não sei” , “também não sei”, “não tenho a mínima ideia” do Dr. Elísio Macamo. Fica-se com a sensação que pelo que é e pela forma como tem tratado outros assuntos, Macamo tinha a “obrigação” de responder “melhor” do que fez, seja lá oque fosse que esse “melhor” signifique.
Para quem já lê Elísio Macamo a algum tempo, talvez seja o caso do entrevistador e dos que me enviaram o texto, e está habituado à forma profundamente elaborada como ele apresenta seus argumentos, talves tenham se sentindo de ”defraudados” pelo facto de no caso das perguntas tidas como “cruciais” ele não tenha “encontrado” formas de responder com gostariam. Por outro lado pode ser o facto de estarem familiarizado com o “esforço” que ele tem feito em responder as questões que de diversas formas lhe são apresentadas, as vezes de forma “complicada” e ou “polémica”
Mas no fim do dia o Dr. Elísio Macamo tem como qualquer um de nós, o direito e liberdade de ser suficientemente humilde e dizer que não sabe oque não sabe, mesmo em caso em que sabe ou muitos acham que devia saber.
Oque não consigo negar é que fica no ar a sensação, repito sensação que Elísio Macamo “evita” dar respostas às “perguntas cruciais” apresentadas pelo entrevistador e mesmo que essse seja realmente o caso, não há pecado nenhum nisso pois, não saber responder e confessá-lo, é sempre melhor que responder errado.

11 comentários:

Anónimo disse...

Come on, Sr. Livingston! Se todos decidirmos fazermo-nos de parvos, até que pode dar um grande gozo. Mas só se for mesmo para gozar uns com os outros. Doutro modo, não vamos fazermo-nos de parvos e ingénuos.
O Sr. vem em defesa do "não sei" de Elísio Macamo, com se as pessoas que têm estado a reagir com cepticismo ou chacota, estivesse a negar-lhe o direito de dizer “não sei”.
É claro que Macamo tem todo o direito (e mais algum) de dizer “não sabe”. O que não tem direito é de fazer dos leitores parvos. Macamo criou e tem uma reputação a defender. Desejo-lhe boa sorte, se continuar assim não vai ser fácil.
Macamo conquistou uma tão grande reputação de que sabe tudo; tamanha fama professoral, por vezes uma engenhosa capacidade de recorrer à retórica até à exaustão, incluindo para defender violadores direitos de nossos “brothers” só porque no passado lutaram pela libertação e a independência.
Não acha, Sr. Livingston, para exprimir tanto “não sei” era melhor que não tivesse dado a entrevista? Nesse aspecto, pessoas muito menos articuladas como Lina Magaia e Brazão Mazula, foram mais sensatos. Simplesmente não aceitaram dar a entrevistas, porque o entrevistador, perspicaz e astuto que é, podia perguntar-lhes coisas que não convinha responder, mas ficaria suspeito ficarem-se pelo “não sei”. Macamo aceitou expor-se à chuva; quando percebeu que estava a molhar-se, tentou usar o “não sei” como guarda-chuva.
Uma pessoa que nos convenceu que tudo sabe, afinal, quando se trata de direitos humanos em Moçambique, sabe assim tão pouco?
Apesar das pessoas não serem tão articuladas como o Professor em causa, engana quem pense que são burras ou ingénuas. Macamo respondeu como se fosse um estrangeiro; como se não tivesse vivido e acompanhado os métodos e acções dos donos da Frelimo. Aí, como diz o ditado, “pela boca morre o peixe”.
Tão articulado e engenho que ele é, incluindo em assuntos onde um “não sei” lhe teria ficado melhor, como tomá-lo a sério, quando diz que a questão dos direitos humanos em Moçambique é assunto abstracto, para que tenha utilidade no nosso contexto? … “uma posição ética que dificulta o debate político”? Só pode a querer gozar com a inteligência e bom senso comum!
Pois é. Saiu-lhe a boa para a verdade. Essa coisa de ética é mesmo uma praga, não é? Que chatice! Lá está ela a atrapalhar a política das conveniências. Não haverá maneira de acabar com essa coisa da ética na sociedade?
Quando se apercebeu que a chuva molha, o Professor ainda tentou sair seco. Só que afirmações como a seguinte molham mais do que enxugam: “ o país precisa de política … e não de certezas que fecham a discussão”? O bom senso não suporta tamanha petulância!
Faz lembrar o autor do “Voo Rasante”. Alguém se convenceu que aquele bufo escreveu tudo o sabia? Mas há uma grande diferença entre um bufo e um professor com pretensões de intelectual. Do bufo espera-se conversa de conveniência. Mas de um Professor, com pretensões de intelectual íntegro, espera coerência e franqueza. Principalmente se esse Professor ensina na Alemanha, já que em Moçambique, ética e integridade, são daquelas “coisas” chatas do “desenvolvimento” de que Macamo tem escrito.
Se Macamo foi genuinamente honesto com todos os seus “não sei”, vai ter que pensar bem, por que razão as pessoas não o tomaram a sério.

Elísio Macamo disse...

caro nelson, obrigado pelas suas observacoes. nao me tinha apercebido do mal estar que a minha incapacidade de responder a certas perguntas causou. de facto, nao tenho resposta para aquelas perguntas por mais ou menos cruciais que sejam. em alguns momentos tentei especular, mas nos outros nao deu, por isso preferi dizer que nao sabia. talvez seja bom acrescentar que a entrevista foi feita por escrito. o entrevistador nao teve a oportunidade de me explicar melhor o sentido de algumas das suas perguntas. geralmente, é melhor que a gente se pronuncie só sobre coisas sobre as quais acha ter opiniao ou crê ter percebido. mais uma vez, esta reaccao de incompreensao por parte de algumas pessoas revela quao profundamente viciada está a nossa esfera pública. acho pena, mas por isso mesmo agradeco-lhe a clarificacao (e peco-lhe desculpas pela falta de acentuacao). cumprimentos

Nelson disse...

Caro Anónimo !
Se lhe pareceu que com a postagem eu tencionava “defender” Elísio Macamo, acho que não passou disso, pareceu, pois eu só quis procurar “entrar dentro” das questões envolvidas na entrevista incluindo os “não sei” e as razões por detras deles. Depois de ter lido o comentário dele fique quase com certeza que mais do que não saber responder Macamo evita responder antes de ter certeza que oque entendeu da pergunta, é exactamente oque oque o entrevistador pretende saber com ela, e pensando dessa maneira não vejo como é que ele nos fez de parvos.
Discordo contigo quando dizes que não ter dado a entrevista seria melhor que “exprimir” tantos “não sei”, pois no entender, com a entrevista mesmo “recheada” de tantos “não sei” pelo menos ficamos a saber entre outras coisas que por exemplo para Elísio Macamo “a discussão sobre direitos humanos parece abstracta para o contexto Moçambicano”. Oque ele quis dizer eu ainda não entendi por isso vou-lhe pedir para se esclarecer.
Que houveram e continua havendo graves violações de direitos humanos na nossa história é algo que duvido que alguém podesse discordar, seja lá qual fosse o conceito de direitos humanos que quisesse usar e quão “engenhoso e articulado” fosse. Os factos são evidentes demais para tal.

“Se Macamo foi genuinamente honesto com todos os seus “não sei”, vai ter que pensar bem, por que razão as pessoas não o tomaram a sério”. Eu penso que esse foi a génese da minha postagem. Porque é que Macamo respondeu como respondeu? Como devia responder ou melhor como esperavamos que respondesse? Porque devia responder como esperávamos, enfim.

Nelson disse...

Caro Elísio!
A informação relativa à naturaza escrita da entrevista pode ajudar a entender a limitação que tiveste em entender as perguntas. Depois desse “input” gostaria de ter um esclarecimento nem que tivesses que “trocar isso em centavos” em relacção à natureza “abstracta” da discussão sobre os direitos humanos no contexto Moçambicano. Fica-se com a impressão que essa tal discussão não te parece prioritária e se esse for o caso has-de ter as razões que igualmente gostaria de ter claramente apresentados.
Quanto a “reação de incompreensão” eu acho justificável, pelas razões que apresentei no quinto parágrafo do meu post a saber o “hábito” que os leitores tem de suas argumentações. E quanto ao estado “profundamente viciado” da esfera pública, te acho com “falsas expectativas” ou exigindo demais dessa tal esfera pública. Não acho realístico se esperar que todos abordem os assuntos no “estilo” fazes, e se esse for o requisito para se fazer da tal esfera pública, temos que muitos de nós estaremos do lado de fora.
Estou postando asseguir a reação do Josué Bila do bantulândia. Ele foi uma das pessoas de quem recebi o email e lhe mandei em anexo o texto da postagem.

Nelson disse...

De Josué Bila recebi a seguinte “reação” à minha Nelson postage:

“Obrigado pela reaccão a entrevista. Sem colocar a sua opinião no passeio da estrada do debate de ideias, Macamo foi infeliz por nao ter aproveitado a oportunidade de responder/debater questoes que dificilmente a nossa mídia/intelectuais as levanta (radiografia da nossa história com relacao aos direitos humanos). Dizer, por exemplo, que "a discussao sobre direitos humanos parece-me abstrata para o contexto mocambicano" é pura ingenuidade e desinteligência. Ou o formulador desta opiniao (Macamo) não entende o que são direitos humanos ou quis sentenciar que a discussão sobre direitos humanos não é prioritária. Esse é um equívoco que um intelectual pode ter. O Professor Macamo é um intelectual que se apropria da liberdade de expressão. Liberdade de expressão é um filho dos direitos humanos. Como é que, então, os direitos humanos podem parecer-lhe abstratos para a nossa realidade, se a sua popularidade intelectual também depende deles? Como é que a discussão sobre direitos humanos parece abstrata, se temos centenas de mortes materno-infantis (violacao do direito a saude da mulher e da crianca)? Como a discussão sobre direitos humanos parece-lhe abstrata, se centenas de criancas/ mulheres são violadas sexual e/ou fisicamente? Como a discussão sobre direitos humanos parece-lhe abstrata, se a maior parte das mulheres mocambicanas nao podem adquirir título de propriedade da terra, sem a presenca dos esposos? Como a discussão sobre direitos humanos parece-lhe abstrata, se a nossa esperanca de vida não vai além de 42 anos? Como a discussão sobre direitos humanos parece-lhe abstrata, se a exclusão social é real?

Mantenhamos o contacto,
Josué Bila”

Elísio Macamo disse...

caro nelson, mais uma vez obrigado pela tua interpelaçao. infelizmente, neste momento nao disponho de tempo para fequentar a blogosfera com assiduidade. as perguntas que colocas merecem muita atençao e espaço. prefiro ficar a dever-te uma resposta no futuro. contudo, gostaria de fazer alguns reparos que me parecem oportunos. nao concordo com a ideia de que as minhas expectativas seriam "falsas". nao espero dos que participam no debate público conhecimentos para além do que um indivíduo normal tem. espero, contudo, um interesse pelas regras mínimas de discussao pública. tu observaste essas regras ao perguntar o que quero dizer com a sugestao de que a discussao sobre os direitos humanos seja abstracta. nao definiste "abstracçao" à tua maneira, nem tem puseste a criticar a tua própria definiçao. perguntaste o que quero dizer com isso para teres a certeza de que percebeste e, se for o caso, depois criticares. nao creio que isto seja uma "falsa expectativa". é o mínimo que devemos esperar de nós próprios se queremos de facto ser úteis ao país. nao te puseste a supor que eu tivesse medo de alguém ou que eu estivesse a tentar encobrir coisas. perguntaste. perdemos muito tempo com teorias de conspiraçao que nao nos levam a sítio nenhum. um abraço e feliz páscoa!

helder disse...

Oi Nelson. So vim deixar-te um oi

Nelson disse...

Caro Elísio!
Antes de vir prá cá li o teu “Do uso inflacionários dos rótulos” e “Afinal, infelizmente, a sociologia serve para alguma coisa!”. Interessantes!!!!!
É muita infelicidade mesmo que neste momento não te disponhas de tempo para frequentar a blogosfera com assiduidade e tratares “muita atençao e espaço que merecem” as perguntas que coloco. Fico assim “dolorosamente” esperando por sua resposta que pode não chegar nunca. Dolorosamente porque “me faz falta”.
Eu insisto nas expectativas pois a não ser que eu tenha sido selectivo ao te ler, não me lembro de ter lido algo onde vais além de apontar os males da esfera pública moçambicana. Eu ia querer ver te a explorar um pouco mais as circunstâncias que “geram” o tipo de esfera pública que temos. Porque será que existe essa “ânsia” de apontar o dedo e falar mal do está mal?

Nelson disse...

Obrigado Helder pela visita. Volta mais vezes

Elísio Macamo disse...

caro nelson, para certos tipos de texto preciso de mais tempo (inclusivamente de leitura) do que para outros. o tipo de texto que eu teria de escrever para satisfazer a tua curiosidade é um desses que precisam de mais tempo. nao é que nunca me tenha debruçado sobre o assunto, mas sao ideias soltas que precisariam de ser juntadas num argumento mais coerente. no meu blogue já publiquei textos sobre "a palavra", sobre a "inteligibilidade do político" e sobre a "esfera pública", entre outros, que afloram este assunto. abraços

Julio valente macamo disse...

Em primeiro lugar gostaria de felicitar a parspicacia com que os anteriores leitores e correspondentes do Blogsfera do dr. Elísio Macamo têm elaborado as suas perguntas e em seguida louvar a maneira inteligente e céptica com que o Professor Sociólogo encontra para tecer as suas réplicas para quem o corresponde.
Fiquei impressionado tambem com a reserva na sua atitude de elaborar textos de outra natureza que exigem mais tempo de leitura e de reflexao, tambem concordo, afinal só se tem a habilidade de se escrever coisas de tamanha envergadura quando se lê com assiduidade e nao sao leituras quaisquer.
Por esta via vou tambem pedir ao Professor para que nas proximas ocasioes deixe pelo menos uma pequena opiniao acerca de certas perguntas mesmo que se exija um pingo de coragem para enfrentar as desconfiancas que o interlocutor traz consigo ou mesmo o mundo tem apos a leitura dos seus argumentos porque para a sua reputacao tambem vale um pouco de descontraccao. E porque o mundo é feito dessas tendencias viciadas de querer sempre ouvir algo a mais dos que sabem, entao oferecamos um pedaco de pao a quem deseja um inteiro mesmo que saibamos que nao podemos nem a metade. Obrigado