Ainda na ressaca da sua "mediatizada” entrevista, me dei hoje com
“As lamentações do Dr. Elísio Macamo”. Uma interessante postagem de título original “Do uso inflacionário dos rótulos”, onde no seu estilo característico, Elísio Macamo se “queixa” mais uma vez do “estado viciado” da esfera pública moçambicana, ou usando suas palavras, “as deficiências dos críticos”. Digo “mais uma vez” porque faz tempo que Elísio Macamo vem denunciando as “fragilidades” da esfera pública moçambicana.
A “dureza” do texto, reconhecida pelo autor “sei que este texto é bastante duro, mas por vezes tem que ser” fez me voltar ao artigo de Paul Fauvet e aos vários do Zambeze pois foram a génese da postagem de Elísio Macamo embora “Do uso inflacionário dos rótulos” represente um “sentimento” que ele traz faz tempo.
Começo por supôr que o Zambeze esteja mesmo numa campanha de difamação como afirma Paul Fauvet no seu artigo e Elísio Macamo “concorda” quando o texto lhe parece plausível. “Supôr” porque não cometerei a “ingenuidade” de afirmá-lo só por que Fauvet e Macamo a fazem e dai me pergunto porque razao o Zambeze faria isso, pois teria que ter alguma. Me pergunto também porque não faria?
Quando leio os já vários artigos do Zambeze acusando o Tribunal Supremo de estar sob controlo político e tráfico de influências, me impressiono pela “revelações” que faz a volta de certos casos. São, penso eu, essas reveleções que usa para edificar a sua “conclusão”. Doloroso para mim é não poder provar a veracidade/falsidade do que o Zambeze tem escrito. E sendo assim não poder como Fauvet e Macamo, considerar de difamação os artigos do Zambeze. Doloroso porque se espera que eu tenha uma posição, que eu esteja dum ou doutro lado. Se espera que eu saiba.
No segundo paragráfo de sua postagem, Elísio Macamo apresenta uma interessante convicção sua, segundo a qual, “pior do que um governo mau é uma esfera pública tomada de assalto por indivíduos com um falso sentido crítico”. Discordo com ele pois a não ser que a “nocividade” do falso sentido crítico afecte apenas a esfera pública e nunca o governo. Tenho para mim que um governo seria igualmente tão mau quanto uma esfera pública com indivíduos com um falso sentido crítico, se o carácter “mau” desse governos incluísse o facto de ser composto por membros com um falso sentido crítico, ou nesse caso autocrítico. Dessa conviccção e dos termos comparados nela me questiono ainda quem afectaria quem e em que proporção, se houvesse(se é que não haja) alguma interdependência entre um governo e a esfera pública?
A definição de falso sentido crítico que Elísio Macamo usa, a saber “a suposição de que dizer o que está mal faz de nós bons” é quanto a mim interessante. É oque vejo por todos cantos e até certo ponto revoltante. Algumas abordagens com que nos cruzamos por ai são mais que ridículas, especialmente se as associarmos aos graus académicos dos seus autores. Fica difícil falar disso sem pensar em aspectos como, deficiente formação, os “polémicos” curículos, as políticas de educação e por ai.
A não ser que eu tenha sido selectivo( não tive opurtunidade de ler série de artigos publicados no jornal Notícias), não me lembro de ter lido um artigo onde Elísio Macamo, explora com profundidade os circunstancionalismos que propiciam a existência da esfera pública como a que temos.
Eu já tive cá uma ideias que bem “estranhas” que bem podem ir para a categória de “teoria de conspirção” hehehehe.
Oque me ocorre com frequência e a cultura. Existimos num meio onde não se encoraja questionar, onde o questionar é facilmente tomado por afronta especialmente se estamos diante de figuras de autoridade. Eu penso que essa passividade, essa cultura do “sim senhor” nos deixa na “obrigação” de concordar com tudo que vem de quem devemos. Parecendo que não, essa situação nos deixa com essa “necessidade” de encontrar respostas para tudo mesmo onde elas não existem ou pior ainda onde nem nos são exigidas. Temos que ter uma posição. Ainda não lemos o primeiro parágrafo todo dum texto de dez parágrafos e já temos uma “opnião” formada sobre o texto que vezes sem conta tem mais a ver com oque sabemos do autor ou do jornal em que vem inserido do que propriamente o conteúdo do texto. Pego no semanário Domingo e antes de folheá-lo já sei oque traz, compro um Zambeze ou Savana e já estou pronto para ver as “farpas” que lançam contra esse e aquele.
Um outro aspecto que me passa pela cabeça tem a ver com, como disse antes, a formação académica. Que somos mal formados é um facto mesmo que me custe prová-lo. Há lacunas lamentáveis no nosso sistema de ensino e aprendizagem. Pegas um estudantes da décima segunda classe, por tanto, na entrada do ensino superior, e procuras assistir-lhe num “trabalho de investigação”. Uma autêntica tragédia. É claro que não vamos generalizar mas há muito que fazer. Raros são os estudantes universitários que se podem debruçar sobre assuntos fora da sua área de formação. Vamos falar de cultura de leitura. Quem lê além dos manuais escolares? Um romance interessante, umas lindas poesias?
Já me passou pela cabeça também que depois de Junho de 1975 instalou-se um sistema em que não havia espaço para “questionar” sem ser rotulado de reacionário. Esse “querer ser ouvido” que andou reprimido por muito tempo pode estar por detrás dessa “má gestão” das opurtunidades que hoje temos de se fazer ouvir. Enfim são minhas “contemplações” que podem ter sua origem no medo de pensar mais dolorosamente, pois, pensar doi mesmo.
Bem, eu alinho com as lamentações do Dr. Elísio Macamo mas não sou tão exigente. Não espero tanto da nossa esfera pública e não me “frustro” com os seus deslizes.
15 comentários:
Caro Nelson,
Ainda não tinha lido o debate aqui no Meu Mundo sobre o assunto embora eu tivesse lido o texto aqui em referência - uma reaccão implícita. Na minha opinião Elísio Macamo não podia ter muito tempo para escrever texto em referência, mas faltar-se o de explicar-nos sobre o que ele queria dizer com direitos ser um assunto abstracto. A continuar defender-se desta maneira é ele quem mais perde porque começa-se a ver ele como uma pessoa não séria.
Nelson,
Eu começaria com algumas perguntas: acha que a nossa esfera pública é saudável? O nível de debate é mesmo bom? Quem é que deve influenciar a quem: a esfera pública ou o Governo?
Mesmo que o Dr. Macamo não tenha ainda explorado "com profundidade os circunstancionalismos que propiciam a existência da esfera pública como a que temos" o nosso sentido crítico é capaz de definir os circunstâncialismos que propiciam a existência de uma esfera pública como a que temos desde (em minha opinião):
- a cultura da unanimidade (a ideia de que todos temos que concordar com tudo e questiona é distoar dessa unanimidade, trazida dos primeiros anos de independência);
- a postura de certos intelectuais e acadêmicos (que se acham as sumidades, os deuses, os donos da verdade, cujos escritos, por mais aberantes que sejam, não devem NUNCA ser questionados sem que te perguntem "quem és tu" e te lembrem "quem eles são" e quantos cabelos brancos tem incluindo os sacos de arroz já consumidos);
- o seguidismo (resultante de não querer estar fora da orbida das sumidades, dos deuses, dos donos da verdade mencionados acima);
- a ideia de que criticar é dizer mal do Governo (os corruptos, ladrões cuja mascote adoptada actualmente é o Azagaia);
- a incapacidade de nessa "crítica" analisar: o circunstancialismo, contrapôr ideias alternativas etc;
- a ideia de que temos sempre que tomar posição (mesmo quando não temos os dados todos);
- a ideia de que criticar é estar contra e a ROTULAGEM (quem critica a FRELIMO é porque está contra ela e só pode ser do MDM - já agora)
- etc.
O nível de debate é mau. Sabe, meu amigo, há dias pus me a pensar nas vantagens e desvantagens dos nossos encontros anunciados. Fiquei com medo de, devido a algumas das coisas que disse acima, o nível de debate entre nós, pelo compadrio que se criará, começar a decrescer, por medo de nos contrariarmos. O medo morreu porque estamos a falar de pessoas cultas (espero) e deu lugar ao optimismo, de que talvez melhore. Apesar de amigos não temos que pensar todos da mesma forma e, pelo menos de mim, quem meter água VAI LEVAR.
É tão mau o nível de debate que, não poucas vezes, debatemos pessoas e não ideias; fugimos do essencial para o periférico. E parece que ainda nem sabemos o que é que devemos debater com maior profundidade e que efeitos queremos dos nossos debates.
Nós, desta esfera pública que uma vez o Dr. Macamo se referiu a ela como "onde se forma a opinião" é que devemos INFLUENCIAR o governo com as nossas ideias e visão alternativa sobre o desenvolvimento do país. Não devemos deixar isso aos partidos que podem não fazer o seu trabalho. São as nossas ideias que devem definir o rumo. Os Governantes são nossos empregados, esperar que eles nos influenciem é inverter o sentido normal e natural do curso das coisas. Eles não são nossos chefes apesar de os tratarmos como tal...
Ola Mutisse e Reflectindo. Brigado por terem passado por aqui. Tou no corre corre da sexta feira e logo que tiver mais ar nos pulmoes prometo dizer algo.
Desde ja, bom weekend pra todos vcs,
“Na minha opinião Elísio Macamo não podia ter muito tempo para escrever texto em referência, mas faltar-se o de explicar-nos sobre o que ele queria dizer com direitos ser um assunto abstracto”
Oh Reflectindo!
Vou ter que concordar com tua opnião embora não conheça as “prioridades” de Elísio Macamo. Não sei se ele dá à questão a mesma importância que eu dou. Não sei se ele sabe que para mim entender oque ele quis dizer com o “abstracto” da discussão sobre os direitos humanos no contexto mçambicano, é como uma “chave” para entender as entrelinhas da entrevista que concedeu. Pois se por exemplo significa que não é prioridade discutir os direitos humanos, dá para perceber o “esforço” que Macamo não faz para “responder” às questões “cruciais” que lhe são colocadas. Não lhe conheço o nível de compromisso em se esclarecer especialmente quando “rogado” por “leigos” como eu. Já cheguei a pensar que pode ser até um “incomodo” esses nossos pedidos de esclarecimento especialmente quando se pensa que antes de virmos para cá deviamos saber um pouco de tudo.
Eu cá vou continuar a acreditar na integridade do Dr. Elísio Macamo, acreditar no seu compromisso com um debate de ideias onde os intervenientes procuram entender-se como eu estou procurando entender-lhe,vou continuar a esperar que ele me diga nem que seja numa única frase oque ele quis dizer, sob risco de como dizes achar que ele é “não sério.” Onde “não sério” significaria apenas que não se importa em fazer-se entender.
Tenha um bom final de semana
Oi Mutisse!
Felicidade minha , mais cedo do que imaginei, consegui vagar para voltar à conversa.
Deixa-me começar pelas perguntas que colocaste.
- Acha que a nossa esfera pública é saudável?
- O nível de debate é mesmo bom?
Para mim já é um “pecado mortal” achar ou deixar de achar que a esfera pública é saudável ou doentia, sem estar munido de critérios claros para tal. Preciso dum “measuring stick” para medir o nível de debate. Penso que deviamos todos estar munido desses critérios que nem tenho certeza se os tenho se os conheço. Pessoalmente não acho prudente “setenciar” a esfera pública só porque alguém o faz. Deve ser por isso que insisto, “exijo” que o Dr. Macamo nos leve ao passo seguinte.
Quando “minimizas” a necessidade não só do Dr. Macamo mas de todos nós de explorar com profundidade os circunstancionalismos que propiciam a existência da esfera pública como a que temos e dizes que “o nosso sentido crítico é capaz de definir os circunstâncialismos que propiciam a existência de uma esfera pública como a que temos”, sigo logo me questionando a que grupo te referes quando dizes NOSSO. É que eu não vou contar com o “sentido crítico” de qualquer um. Alguns são meio suspeitos. Não acha ariscado contarmos com o sentido crítico de “críticos viciados” de uma esfera pública como a que temos? Há que ter muito cuidado. Muito mesmo.
Os aspectos que apontas são interessantes, mas o amigo Mutisse “bateu o mato pelas folhas” eu penso.
• CULTURA DE UNANIMIDADE
Há cultura de unanimidade sim mas porque é que existe? Qual é o risco, a sentença o preço para quem não alinha com os outros? Vale a pena pagar esse preço? Olhando para a história(primeiros anos de independência como afirmas), que factores podem ser considerados responsáveis para o nascer e florescer dessa cultura? No actual contexto sócio-político, oque encoraja tal cultura? Se fossemos “reducionista” e quisessemos simplificar o problema ao nível de um culpado, quem ou oque seria ?
• SUMIDADES- A POSTURA DE CERTOS INTELECTUAIS E ACADÊMICOS
Aque podiamos começar por olhar para o “perfil” desse intelectuais. Há como lhes extrair alguns “traços” coincidentes? Tem a ver com sua geração? As academias por onde passaram? Algo relacionado com o “ramo” de sua intelectualidade? Oque faz com que ajam como agem? Porque sentem a necessidade de agir assim? Será que ignoram que esse agir só acabam “atrofiando” os intelectuais “emergentes” nas suas áreas de intelectualidade? Olhando para as academias existe algo que pode ser considerado responsável na formação desse compartamento?
• SEGUIDISMO
Porque me sinto “compelido” a concordar com o Dr. Macamo mesmo quando não concordo com ele ou pior ainda nem sequer o entendo? Qual é a vantagem de “gravitar” nos “grandes”. Outro resultado não vejo senão atrofiar o nossa capacidade que “investigar” e criar pensamento próprio. Como é que o “donos do saber” devem se posicionar para desencorajar os “discípulos”?
• CRITICAR É DIZER MAL DO GOVERNO
Donde vem esse “ódio” pelo governo que se revela no “falar mal” pensando que se está a criticar? Qundo e como é que surge essa tendência? Oque há de “verdade” no mal que se fala? Quais seriam as outras formas de “let the steam out”...
Como vê amigo, eu insisto que esteja mal como estiver a nossa esfera pública, resta-nos mais é procurarmos as causas do que apontar-lhe os males que me parecem evidentes demais.
A questão de debater pessoas vem penso do facto de se “rotular” as pessoas. Quando “deixamos” que as nossas reflexões sejam partidarizadas fica difícil. Quando olhamos para algo com que nos simpatizamos e não conseguimos ver com a mesma perpicácia as ”gritantes” fragilidades do que temos hábito de facilmente ver no que nos é antipático, perdemos a oportunidade de nos chamarmos ”íntegros e honestos”.
Bem quanto aos encontros eu penso que para o negativo poderão contar nada. Porque no meu entender, o seguidismo tem nada a ver com amizades. Os que gravitam em torno do Dr. Macamo ou Serra(só para dar dois exemplos) nada tem a ver com amizade. Fazem-no por acharem que se identificam com a linha de pensamento desses homens. De igual modo os que discordam com tudo e todos não ofazem por inimizades.
Bem acredito que podemos melhorar, acredito que podemos mudar. Eu acredito.
"A falta de informacao sempre da' aso a especulacao"!
Digo isso a proposito da pergunta feita ao Dr. Macamo e que julgo, sem querer me intrometer na sua "pesada" agenda, ja' teve alguma ocasiao para responder! Essa forma de debate, pode ser "especulada" como "fuga para frente"! Este aqui pode ser "especulado" como um "problema de debate na nossa esfera publica"! As respostas precisam de ser dadas para evitar dar campo a "especulacao"!
Concordo plenamente com o Mutisse quando refere que "Nós, nesta esfera pública é que devemos INFLUENCIAR o governo com as nossas ideias e visão alternativa sobre o desenvolvimento do país. Não devemos deixar isso aos partidos que podem não fazer o seu trabalho. São as nossas ideias que devem definir o rumo. Os Governantes são nossos empregados, esperar que eles nos influenciem é inverter o sentido normal e natural do curso das coisas. Eles não são nossos chefes apesar de os tratarmos como tal..."
Mas, o que seria entao "debater ideias"?? Nos nao podemos estar aqui a "falar do vazio"! Temos que falar de "coisas concretas"!
Esta coisa de "rotulos" e' algo, fantastica! "A ideia de que criticar é dizer mal do Governo": e' um "rotulo" dos mais "rotulados" que temos aqui na nossa esfera publica! Este e' o "rotulo" da "expurgacao" ou seja "se voce critica o Governo, voce nao esta' a debater"! A partir dai, "nega-se o debate" e "nega-se o problema"!
O Mutisse pergunta bem quando diz que "temos que saber o que estamos a debater"!! Isso e' verdade, porque praticamente todo o tempo ainda e' dispendido neste "jogo de negacao" e ao fim e ao cabo, a ideia de debate, de geracao de ideias para a resolucao de "problemas" particulares e "concretos", se ve diluida completamente!!
A pergunta e': "Sera' que vivemos numa nacao sem problemas"? Entao, como e' que apontar um problema, "nao e' debater"? Se nao for debater, ninguem pode negar que esse seja um passo fundamental para que se comece o debate! "Nao se pode falar do vazio"! O "trabalho" que tem estado a ser feito, e' exactamente esse da criacao de mecanismos para rejeitar o debate!! Alias, Daviz referiu isso no seu discurso da Assembleia Constituinte: que devemos primeiro reconhecer os nossos problemas, para depois debate-los com franqueza, para que, como nacao, encontremos na "diversidade" solucoes apropriadas!!
Mas "o tempo e' mestre" como gosta de dizer a minha avo! Tenho certeza que quase todos nos viveremos e assistiremos a mudanca de regime neste pais! Nessa altura veremos, pela "linha editorial de cada um", se os grandes intervenientes e proponentes de determinadas formas de debate, se vao reger pelos mesmos principios! Nessa altura veremos quem agora esta' aqui a "discutir Mocambique com honestidade e franqueza" ou esta' meramente a navegar em mares altas e turvas da politiquice partidaria!
Bom final de semana a todos!
caro nelson, acho o teu texto interessante e relevante para a discussao das questoes. aceito de bom grado qualquer conclusao que se virem obrigados a tirar a meu respeito pela ausência de resposta. escrevi vários textos a abordar estas temáticas, andam espalhados pelos vários meios de comunicaçao (blogue e jornais). sobre o estado da esfera pública sugiro ainda o livro "trepar o país pelos ramos" (primeiros dois capítulos) e ainda "um país cheio de soluçoes" sobretudo o texto "quando o fim da credibilidade fomenta a irracionalidade" (págs.117-121). no jornal notícias publiquei as séries "os nossos compatriotas zangados", "por uma cultura de responsabilidade", "o poder da frelimo" que se debruçam sobre este assunto explorando as razoes e motivaçoes. no primeiro plano do mesmo jornal publiquei também "crítica social e desabafo" (também no blogue); no blogue sugiro várias rubricas (xithlangu, direito à razao, fenómeno da bicha e caixa de ferramentas do sociólogo). deploro bastante a qualidade da nossa esfera pública e insisto, com o júlio, que só uma esfera pública que valoriza a crítica é que pode interpelar o governo com utilidade. quem faz o governo somos nós, por isso nós devemos ser mais exigentes connosco próprios e isso passa por uma maior preocupaçao com os méritos das questoes. tenho escrito sobre estas coisas, explícita ou implicitamente. sugiro que leias os textos (agora que os indiquei) e se mesmo assim tiveres a impressao de que nao dou resposta satisfatória podemos continuar a trocar impressoes. no fundo, porém, mais importante do que eu satisfazer a tua curiosidade é cada um de nós identificar lacunas na sua abordagem e compreensao e procurar por mais maneiras de as suprir no interesse de uma abordagem útil do nosso país. abraços
Oi Jonathan McCharty!
Bom te ver por cá. Obrigado pelo seu rico comentário.
Vou começar por concordar plenamente contigo quanto dizes que a falta de informação fertiliza o campo da especulação. Se todos tivesse consciência disso(se é que não tem) se preocupariam em ser mais claro possível nos seus escritos ou pronunciamentos.
“Tenho certeza que quase todos nos viveremos e assistiremos a mudanca de regime neste pais! Nessa altura veremos, pela "linha editorial de cada um", se os grandes intervenientes e proponentes de determinadas formas de debate, se vao reger pelos mesmos principios! Nessa altura veremos quem agora esta' aqui a "discutir Mocambique com honestidade e franqueza" ou esta' meramente a navegar em mares altas e turvas da politiquice partidaria” Interessante. Vamos viver para assistir
Nelson, Nelson,
O processo histórico moçambicano propiciou uma multiplicidade de coisas, uma multiplicidade de comportamentos. Infelizmente 30 anos depois da independência e 19 desde a abertura à democracia multipartidária ainda não conseguimos nos livrar de certas coisas.
Se a falta de escolarização da maioria dos nativos bem como a sua situação no xadrez político colonial era uma limitante, após a independência fomos alinhados num ideal único e colocados numa situação de fazer coro aos ditos do partido libertador e guia daquela revolução da qual todos tínhamos que nos sentir parte. Não fazer coro era estar contra.
Infelizmente Nelson, este sentimento me parece que ainda prevalece. Infelizmente prevalece também num espaço onde nem se quer deveria existir; no campo do debate de ideias como, por exemplo, estes que criamos com os nossos blogs. Aliás, num destes blogs, e do seu autor, já vi um comentário meu ser refutado não na validade dos argumentos que apresentava mas no QUEM ERA EU para ousar questionar, o QUE É QUE EU já tinha produzido para vir e questionar etc. Acabou-se resvalando para se discutir meu irmão que já foi mais activo nos blogs e que nos últimos tempos é menos activo com acusações e tudo.
Esta é uma das razões porque acho que a nossa esfera pública e o nível de debate são baixos.
Depois, meu caro, eu acho que ainda não definimos claramente uma série de coisas, ainda não capitalizamos muito do que dizemos nestes debates para transformá-lo em algo útil que pode ajudar a mudar o rumo das coisas. Parece que nos esforçamos por demonstrar que temos razão sem nos preocuparmos com o que de positivo pode ser tirado do que outra pessoa que tem uma ideia diferente diz ou pensa.
A cultura de unanimidade de origem histórica portanto; o seguidismo é uma reminiscença dessa cultura de unanimidade.
Acho que vale a pena olhar as pessoas de frente e dizer-se o que se pensa SEMPRE, fazendo valer-se da sua competência e da sua capacidade. Os tempos estão a mudar e é sempre bom antecipar o período que vem em que a competência será um grande valor e muito acima de sentimentos de pertença.
Mais, quando digo nós ou nosso, refiro-me ao que um professor meu sempre chamou de Minoria esclarecida da nação. A massa intelectual formada nas nossas universidades e escolas superiores que tem a obrigação de pensar o país e as soluções dos seus problemas de uma forma diferente.
Sabe, meu caro, eu acho que não existe uma orientação para ostracisar quem pensa diferente vindo do topo da hierarquia frelimista. Penso até que o Tio Guebas gosta de ouvir opiniões diversas... prova disso são os recados que vai dando para dentro do próprio Partido contra os intriguistas e afins que minam o andar da carruagem com mensagem aparentemente vindas do topo quando na verdade são os seus proprios pensamentos e medos que os atam.
É possível criticar o Governo. Ainda bem que este está estruturado em pelouros diferenciados. É possível pegar no Ministério das Finanças e dissecá-lo apresentando as suas boas e más realizações sem generalizar a actuação deste pelouro (boa ou má) sobre outros que podem estar a agir diferentemente (tb no sentido bom ou mau). Dou lhe um exemplo, a Ministra Benvinda Levy, está ciente da superlotação das cadeias sob sua gestão e já apontou uma solução possível; e não é a única, podemos pegar nos planos do sector e olharmos se, para além dessa medida existirá outra que ajude a diminuir tal superlotação e o risco de incidentes como o de Mogicncual e outros. Eu pelo menos não vejo nada. Serão só problemas orçamentais, oq ue é possível fazer? Ou será incapacidade de planificar a longo prazo?
Então, é possível dizer o que vai mal sem chamar nomes as pessoas, sem necessariamente ter que falar das casas onde vivem etc. Quando chegamos ai já é falar mal, não criticar... rotular como bem dizes.
E parece que gostámos de rótulos e como gostamos.
Jonathan,
Debater ideias é vasto. O incidente de Mogincual, infelizmente, foi demasiadamente politizado mas ele deveria ter nos dado a chance de pensarmos o nosso sistema prisional que parou no tempo. Soluções precisam-se para diminuirmos o risco de mais tragédias nas nossas cadeias e podemos todos pensar, em função das nossas experiências, soluções que podem sair de debates a diversos níveis. Porque não potenciar Mabalane por exemplo ampliando o conceito? Porque não "popularizar" as medidas propostas pela Ministra amplificando o conceito? Porque não construir mais centros de detenção não numa perspectiva meramente armazenista de pessoas mas, centros onde com trabalho podemos transformar o homem tornando útil, pondo o a produzir mesmo que privado de liberdade usando os "saberes" de cada um? Fazendo isso, creio eu, estariamos a debater ideias. Aliás, meu amigo, fizemos isso no seu blog. A partir de uma postagem sua, debatemos o que cada um de nós pensa ser a melhor forma de colocar um problema; penso que aquilo também é um debate de ideias.
Mas não podemos andar em círculos, dizer as mesmas coisas todos os dias, o debate tem que nos levar sempre a um determinado patamar, ir para além do simples comodismo de já termos dito em algum lugar alguma coisa.
Nelson,
Foi Robert Gibbs o adido de imprensa da campanha de Obama que disse que, "se tu nao contrapoes um 'smear', entao estas a dar campo para que ele seja tomado como verdade"!
No caso vertente, se a resposta do Dr. Elisio precise de ser do tamanho de uma publicacao, um "abstracto" da mesma ja' seria bastante esclarecedor!
Cada um tem a sua ideia, mas eu acho que numa "entrevista escrita" tu acabas tendo mais tempo para "elaborar" as tuas respostas, mesmo ate', consultar fontes que julgar apropriadas!!
Na ausencia de um "time-frame" para se dar a resposta, o meu conselho e' assumires a situacao mais desfavoravel (+infinito), para evitares defraudar as tuas expectativas !
Mutisse,
Sobre debate, eu nao tenho duvidas que, quando as partes a ele se entregam, o resultado e' inequivocamente, produtivo!
E' preciso percebermos que estamos aqui todos "por Mocambique"! Ilude-se muita gente que se acha "verdadeira nacionalista", "defensora acerrima e unica dos interesses nacioanis", "orgulho Mocambicano"!
Mesmo que, ao ler um artigo, nos apeteca dar um murro na mesa, por completamente dele discordarmos, o debate e' sempre um processo de aprendizagem e refinamento das nossas proprias ideias e conviccoes!
Como indiquei antes, o essencial e' que demos "chance" a esse debate e que saibamos manter o "cerne" do mesmo! Talvez pela minha formacao, eu procuro sempre ser objectivo e nao perder o foco da questao (no fim da obra, voce tem que apresentar o edificio).
Noto que, algumas pessoas procuram adoptar tecnicas sofisticadas de "sacudir o capote" (epicenter shifting tactics) e, se tu nao estas atento, a meio da conversa, ja nao sabes o que se esta' a debater!! Essas mesmas pessoas tendem a rejeitar complemente a "razao" e os "factos", ou seja, se tu dizes que "este balao e' azul" ele acciona imediatamente a sua maquinaria de debate para te convencer que tens uma forma particular de Daltonismo!
Essas sao, dentre algumas, as formas que julgo prioritarias a sanear para um debate que seja "civilizado" e "produtivo" na nossa esfera!
Abraco!
Nelson, vou "roubar" o teu comentário para transformá-lo em artigo no Reflectindo. Há muita coisa útil que falas sobre os debates em Mocambique. Há que capitalizar o que dizes.
gente boa! Ando apertadinho e como mas acho que ainda podemos continuar no papo. Assim que poder volto.
Nelson,
O Dr. Macamo, lá no seu blog, aborda as suas preocupações descritas aqui e de outros...
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Oh Mutisse! Thanks pelo toke. Ainda sem tempo. Assim que poder dou um pulo ao "Ideias Criticas" e vou ver oque o teacher escrever. Tou ansioso!
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