quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Defendendo a Corrupção e Violação dos Direitos Humanos

“Despindo” aos poucos a última edição do semanário Magazine Independente cruzei-me com o artigo de Josué Bila “Sociedade civil e comunicação social, Onde está a vossa moral?”. No referido artigo o autor aponta a falta de moral na sociedade civil e nos órgãos de comunicação social, moral que segundo ele legitimaria as "denuncias de actos de corrupção e de violação de direitos humanos, cometidos pelo estado, grupos económicos privados e ou singulares". Com muito tacto fala das técnicas propagandistas dessa dupla(sociedade civil, comunicação social), aponta como exemplo o caso da denuncia de exploração de trabalhadores na Moamba, acusa incoerências por essa dupla não praticar oque dita ao estado, grupos económicos privados e ou singulares. Afirma não pretender defender “vícios resquícios esclavagistas do ex-ministro” mas sim “dizer abertamente que na comunicação social e sociedade civil moçambicanas a probabilidade de existência de moral suficiente para acusar e responsabilizar seja quem for por actos de corrupção e actos de violação de direitos humanos é menor” Sugere à sociedade civil e a comunicação social, “um exame de consciência sobre as acções”.

O autor faz e faz bem, tudo e mais alguma coisa. Oque não faz (acho que devia) e não faz mesmo é apresentar um exemplo claro mesmo sem provas, de algum caso de tal corrupção e ou violação dos direitos humanos por parte da sociedade civil e comunicação social.

Minha dificuldade em entender deve ter sido gerada pelo facto de não ter clara a definição do conceito sociedade civil(alguém pode me dar?).

No meu deficiente entender a falta de moral por parte da sociedade civil/comunicação social pode tirar legitimidade das denuncias mas não tira de jeito nenhum a veracidade dos actos denunciados. Havia esclavagismo na Moamba sim. Isso é verdade e continuaria sendo mesmo se tivesse sido denunciado por algum outro esclavagista(sem moral para denunciar). Se por não terem a moral exigida pelo autor a sociedade civil e a comunicação social serem privados desse direito quem o fará até que se reúnam todos os itens da tal moral? Devem a corrupção e a violação dos direitos humanos continuar até que a era da moral chegue? Precisa-se realmente ter moral... Mas alto ai....Nada de tirar mérito ao pouco que dificilmente se faz...

2 comentários:

Reflectindo disse...

Boa observaão Nelson. Para além de moral, há que haver coragem nessa coisa. Imagino que o autor do artigo saiba alguma coisa que o impulsionou escrever, mas faltou-lhe coragem.

Anónimo disse...

Queridíssimo Nelson,
Tu sempre levantas questões muito importantes para reflexão. Estás de parabéns.
Ora, indo para o teu comentário, lamento não ter lido o comentário do autor que citas neste texto. Mas a tua explanação deixa alguma ideia.
Perguntas se alguém pode te dizer o que é a sociedade civil. Quem sou eu para te trazer uma noção tão complexa como essa? Mas vou aqui deixar uma ideia que, um dia dei aos meus estudantes de direito quando me exigiram a noção da sociedade civil. Para mim, sociedade civil seria o conjunto de todas as forças vivas da sociedade, despidas de ideais políticos.
Porém, a definição do Centro para a Sociedade Civil da London School of Economics é bastante ilustrativa e diz que "Sociedade civil se refere à arena de acções colectivas voluntárias em torno de interesses, propósitos e valores. Na teoria, suas formas institucionais são distintas daquelas do estado, família e mercado, embora na prática, as fronteiras entre estado, sociedade civil, família e mercado sejam frequentemente complexos, indistintos e negociados. A sociedade civil comummente abraça uma diversidade de espaços, actores e formas institucionais, variando em seu grau de formalidade, autonomia e poder. Sociedades civis são frequentemente povoadas por organizações como instituições de caridade, organizações não-governamentais de desenvolvimento, grupos comunitários, organizações femininas, organizações religiosas, associações profissionais, sindicatos, grupos de auto-ajuda, movimentos sociais, associações comerciais, colisões e grupos activistas".
Será que te satisfiz? Não sei, foi o melhor que encontrei nas minhas pesquisas para te trazer.
Ora, eu concordo em parte com o autor do texto que citas. Na verdade, falta moral e ética na sociedade civil e na comunicação social e essa falta de moral, tira sim a legitimidade das suas denúncias. Porque? Explico-me. Se a sociedade civil ou a comunicação social não tem moral suficiente, não é isenta e imparcial, como vamos acreditar nas denúncias que apresenta? Quem pode nos assegurar que tais denúncias são verdadeiras, e por isso, dignas de credibilidade?
Um jornalista não pode informar em função da conveniência de alguém ou em defesa de interesses particulares. A sociedade civil não pode actuar e denunciar em função de determinados interesses. E digo-te porque: não temos neste país uma sociedade civil e comunicação social isentas e imparciais. Tudo está politizado e se informa, se manifesta em função de interesses partidários ou outros. Há muita ganância e muita desonestidade.
Por isso se afirma que quem quer denunciar a corrupção ou alguma violação de direitos humanos, preciso não ter rabo-de-palha. Se um jornalista recebe dinheiro de uma pessoa ou entidade para divulgar uma informação falsa ou deixar de divulgar uma notícia, está a cometer a corrupção e este tipo de jornalista não merece credibilidade e todas as suas notícias são suspeitas que sejam falsas, daí a sua ilegitimidade, no meu ponto de vista.
É legítima uma denúncia falsa de corrupção ou violação de direitos humanos, divulgada para prejudicar alguém, porque recebeu-se dinheiro ou outro favor de uma contra-parte? Já estou a ver-te a dizer com toda a dignidade que "NÃO".
Não quero discutir a questão de Moamba, porque não gosto me meter em assuntos que não tenho conhecimentos sólidos, nem provas materiais, talvez por força da minha profissão.
Parabéns Nelson, pela sua intervenção social e coragem em chamar as coisas pelos seus próprios nomes, mas também acho que precisas um dia despir a capa de defensor e se por na outra posição e criticar as posições demasiadamente radicais. Tudo é relativo, como diz alguém e tu o disseste um dia.
Abraço.