sexta-feira, 15 de julho de 2011

Prostituição e (pós-)modernidade: em Moçambique

Como se pode ler abaixo, o amigo Dedé voltou à carga e dessa vez com o polémico caso da proibição das sais curtas lá pelas bandas de Lichinga. Sobre esse assunto vale a pena seguir a série "A proibição das saias curtas em Lichinga" do Dr. Carlos Serra no seu Diário de um Sociólogo.
 
Amigo Nelson,

Muito obrigado pela recente missiva. Vejo que ti aborreceste com a problemática do COJA quanto à organização dos Jogos Africanos Maputo 2011. É triste ver como as entidades oficiais deste país embarcam numa jornada de contradições e em público sobre os processos de construção da vila (olímpica?) dos jogos. Entristece mais porque também nessas entidades não há integridade suficiente para vir ao público e redimir-se dos seus erros e, ao mesmo tempo, informar ao público sobre a quantas vão os preparativos dos jogos. A imagem do País é que está em causa depois do desaire com o Campeonato Mundial de okey em patins muito recentemente. Ora, não me vou deter nisto. Vou é falar da postura e como aparecer em público por parte das mulheres em Moçambique; ou seja, em Lichinga/veja o elo.

Em tempos atrás (década 70, 80 e meados de 90), imbuídos da doutrina socialista sobre o homem novo, as meninas (por vezes rapazes), foram vítimas da tirânica decisão do governo do dia, de proibir o uso de sapato de salto alto, minissaias, maquilhagens de qualquer natureza, entre outros. Assistimos a formalização duma lei anti-minissaia pelo então parlamento mono-partidário e ratificada e até operacionalizada pelos agentes da Frelimo. Deu no que deu. Nunca foi acatada. Ficou letra morta por ser contra os direitos mais elementares do cidadão e, sobretudo, das mulheres.
 
Nos dias que correm, Nelson, voltamos à vaca fria, com o Conselho Municipal de Lichinga quer legislar a proibição do uso de minissaias sob pretexto de lutar contra a prostituição naquela região do país. Essa notícia está correr mundo, meu Deus! Imagine de quão  lisonjeiro pela negativa é ao País inteiro. Sabe-se que a prostituição é uma profissão sui generis e das mais antigas que há memórias. Daí que em muitos países é uma actividade perfeitamente legal como outra. Me lembro que já estive na Malásia no curso desta década. Nelson, em pleno coração de Kuala-lumpur vi com os meus próprios olhos esta actividade a ser exercida e emprestando, como qualquer outra, o respeito que se impõe. Malásia é, diga-se de passagem, um dos países onde a religião conta e cerceia a vida das pessoas entre os países do sudeste asiático a seguir a Indonésia.

Qual é o motivo que leva o Conselho Municipal de Lichinga a lançar-se nestas medidas draconianas? Fosse isso numa Beira, por exemplo, não imagino qual seria a reacção. Muita pena que isto atente à liberdade da mulher (e homens) nesta profissão secular por falta de juízo de quem manda na coisa pública. Resta saber com que cara ficam pintados todos. Mais teria dito,
 
Um abraço
 
Dedé Moquivalaka

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