domingo, 28 de setembro de 2008

Uma Carta Para Mim


Dede continuou me escrevendo as suas cartas lá no seu Miradouro, mas nunca mais tive tempo de trazê-las para cá, muito menos de respondê-ls como bem merecem. Esta teve a sorte de ser trazida e vai inclusivamente ser respondida.


Caro Nelson
Antes de mais, saudo-te na companhia dos demais familiares, amigos e colegas. Eu vou indo aos poucos graças à Deus. Tenho a ti dizer que este mês foi dos mais sacrificados e também dos melhores. Digo isso por causa dos afazeres afins que ofuscaram, em certa medida, a nossa produção. Mesmo assim, Nelson, o MiradourOnline conseguiu ser uma referência do Mês no Moçambique-Portugal do nosso querido amigo Albertino Silva, do que fiquei muito grato.

Setembro foi também rico em muita coisa boa e nojenta. Li nas cartas a tua Mariazinha VI (afinal quem é a Mariazinha?), preocupações legitimas (que corroboro), no que respeita ao estado das democracias internas nos dois partidos, que clamam ser maiores desta Pérola do Indico. Clamam ainda ser dos que comandam a mudança e favorecem a democracia. Este comando e favorecimento não vai pari passu com os desígnios de uma forte e verdadeira democracia, em que ao cidadão se lhe deve a última palavra. O que se nos deixou ver, no entanto, aquando das eleições internas dos candidatos à edis, foi pura e simplesmente uma vergonha, a todos os títulos. Se, por um lado, vimos uma "meia dúzia de gatos pingados" de grupos de dinamizadores, secretários e administradores da Frelimo a formarem ditas ‘bases’, acotovelando-se para ter essa última palavra (escolhendo entre pares), no lugar ou em detrimento das reais bases, por outro lado, não se pode fechar os olhos ao jogueio crasso, enfadonho e desqualificável registado na banda da Renamo. Foi, por assim dizer, lamentável saber que chefias das duas organizações partidárias se regem e refugiam-se nos seus estatutos (caducos) (por acaso, tens a última versão dos mesmos para me passares?) e na tristemente famosa disciplina partidária. O fito único, destes dirigentes , foi e continua ser o de roubar direito do cidadão ao voto.

Agora, Nelson, que não nos venham dizer que na Frelimo foi sempre assim! Ela primou por isto e aquilo desde os primórdios anos de 1962! Que não nos venham dizer que na Renamo a democracia se impõe desde 1977! A única ditadura que devemos reconheçer é a do voto legitimo, intransmissível, secreto, pessoal e exercido livremente pelo cidadão. Se se escolhem entre vós à ilharga do eleitorado, quando é que chegará a vez deste? Só pode ser no dia do são nunca, as ‘bases’ assim sustentam! Para ti dizer a verdade, Nelson, o teu edil, na Beira, deve ter puxado o cordão umbilical para direcção certa para que se lhe corte adequadamente, deitando fora o que resta! Eng. Simango deve ter acabado, mas não eliminado por completo, aqueles que julgam que são os donos da verdade; aqueles que acreditam que o sol gira a volta da terra e não o contrário.
Como se não bastasse, já que a mentira teve pernas curtas com jus nestas eleições internas, a 'fabriqueta de cenas bombásticas' se desviou e trouxe-nos novo rumo, como se fosse uma pirueta de uma andorinha. Nisso, o piloto-aviador, de nome Almerinho/Almerino Manhenje, ministro durante cerca de 10 anos no governo de Joaquim Chissano está a conta com a justiça por ter feito piruetas a mais. Alegadamente, ele é acusado de desvio de 220 milhões de Mts (AF) dos cofres do MINT! O tipo e outros oito comparsas vêm o sol aos quadradinhos na cadeia civil do Maputo, ali na Kim-Il-Tsung, próximo do Seminário Pio X (antigo Centro 8 de Março). Manhenje exerceu quase que em simultâneo três cargos ministeriais para a infelicidade de Joaquim Chissano que veio ao terreiro defender que ele devia estar fora do cárcere. Veja, Nelson ele, não só, foi ministro na presidência para os assuntos de segurança, como tambem, foi chefe da casa militar, e do Interior. Daí a designação de super-ministro! Super-ministro para pescar cerca de 8 milhões de dolares americanos para fora do OE.

No entanto, três razões se apontam para o antigo ministro ter ido em plena sala de aulas levado aos calabouços: Uma, sendo a de ser uma manobra desenhada para divertir os doadores, que já vêm ao encalço do Governo a relativamente muito tempo, tentando a obrigá-lo a arredar o pé a letárgia no combate contra a corrupção e nepotismo. A outra razão prende-se com a busca de um reconhecimento público, de que Governo pode prender, a quem quer que seja, que faça a gestão danosa do erário público, e por via disso, calculosamente conquistar e alargar a confiança de potenciais votantes num cenário de eleições. Uma outra razão pode ainda ser o exercício do poder, com condão samoriano (o que chamam algures ‘re-samorização’ governativa) para eliminar da jogada pessoas consideradas perigosas pelos ‘camaradas’ no exercício governtivo. Das três uma, mas, eu fico-me a com a primeira razão, que certamente deixou o Governo de rastos, ao ver 14 dos 19 doadores, que garantem mais de 50% dos Orçamento do Estado, manter ou reduzir as suas contribuições para 2009.

Com este andar, não temos mais senão esperar, para ver o contorno do sólido dessa geometria política (periclitante), cujo epicentro repousa sobretudo nos partidos e no governo.
Um abraço
Dede

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