Moçambique passou a ter mais um semanário. Chama-se Jornal Público. Sai às segundas feiras ao preço de 20 meticais. Li as duas primeiras edições e me senti compelido a escrever ao director.
Senhor Director!
Um dos perigos da arte de escrever, reside na possibilidade de sermos lidos entendidos e interpretados de forma completamente diferente da que pretendiamos. Homens de diferentes côres,tamanhos e sabores, chegam aos nossos escritos munidos de vários saberes e intenções, por isso senhor director, é quase natural que nos interpretem de formas diferentes. Para evitar o risco de ser mal interpretado por si sr. Director e ou por todos que tiverem acesso a essa carta, quero deixar bem claro que o meu único objectivo é contribuir para a melhoria da qualidade do jornal que o Senhor dirige.
Quero começar por elogiar genuinamente a iniciativa e sua coragem de estar a frente desse empreendimento. Parabens! “Boas vindas e longa vida Jornal Público”.
É sempre com essa atitude que deviamos encarar o nascimento de um novo jornal, novo partido político, instituição de ensino secundário geral/superior privada ou estatal, uma nova empresa, etc. Multiplicam-se as alternativas na escolha do produto a consumir, surge competitividade que resulta em melhoria de qualidade e acabam-se com certos monopólios que geram arogância.
Elogiar genuinamente a um produto novo como me propus a fazer, diferente de “puxar o saco/lamber bota”, deve incluir se necessário, uma crítica construtiva onde se apontam as fragilidades do produto e se sugerem soluções.
Li com a devida atenção as duas primeiras edições do jornal e achei-o com muitos erros de diferentes natureza, contradições, exageros e “inverdades”.
Para não ser generalista e subjectivo, lembre-se, senhor director que o objectivo é melhorar o produto, vou aqui apontar alguns aspectos dos mais gritantes:
Um dos títulos da primeira edição dizia, “Deputada protegia Todinho”. No corpo da notícia fala-se do parententesco da deputada Açucena Duarte com Todinho, parentesco que eu gostaria que fosse aprofundado e apresentado. Acho que não custava muito. Me preocupou ainda falar-se de Açucena Duarte como ex-ministra da justiça. Senhor director, não consegui me lembrar do momento em que Açucena Duarte desempenhou a função de ministra da justiça como o artigo afirma. A minha curta memória se lembra de Esperança Machavele, José Abudo e Ossumane Ali Daudo como antecessores da actual Benvinda Levi.
Havendo realmente parentesco, que como já disse, não custava nada averiguar e incluí-lo no artigo, Açucena não tinha que deixar de dar “último adeus” ao seu parente pelo facto de ter sido um foragido e perigoso cadastrado, e nem pelo facto dela ser governante ou ex-governante. Os condenados a pena capital nos países onde essa pena é aplicável, tem tido o direito à funerais decentes acompanhados pelos familiares seja lá quem forem e que cargos governamentais ocupem.
Senhor director, o argumento da contestação da presença da imprensa por parte de Açucena Duarte é quanto a mim bastante frágil. Por se tratar dum momento de muita dor e consternação acho razoável que os familiares se sintam no direito de interditar a presença dos jornalistas que despidos de qualquer solidariedade pelo defunto ou pelos enlutados, se fazem ao local, pura e simplesmente para produzir e posteriormente vender notícia. Me lembrei senhor director que a cerimónia fúnebre do grande músico sul africano Lucky Dube, foi restrito à familiares, alguns amigos e vedado à imprensa. É uma questão de respeitar a dor dos enlutados eu penso.
Outro grande título tinha a ver com as negociações de rendição de Chaúque. Achei estranho, muito estranho que a vossa fonte tenha dito oque disse sob anonimato. Dizer de boca cheia, com toda autoridade que “ nós não prometemos nada, pedimos que se apresentasse numa das esquadras...nós garantimos que nada de mal iria acontecer” e sob anonimato me deixou com ”uma pulga atrás da orelha” e a foto de José Weng Comandante da PRM da Cidade de Maputo estampada tanto na capa como no artigo, faz-me pensar se não teria sido a fonte. Se não qual é a relevância?
Na página 8, senhor director, me dei com o artigo “ Sonho perdido”. Achei incrível como dum texto curto se podem “coleccionar” mais de vinte erros desde ortográficos, concordância e de estrutura gramatical.
Na página 20, senhor director, no artigo com “Moticomo aposta na música Tradicional” segue-se um parágrafo que nada tem a ver com o artigo, aliás é repetição do artigo da página 12, que trata de fabrico, venda e consumo de bebidas de fabrico caseiro.
Na segunda edição temos a manchete “ Pacheco exprime genreral Pinto”. A imagem, senhor director, sugere “espremer” e não exprimir, embora no corpo da notícia dificilmente se ache algo sobre exprimir ou espremer. Me perguntei se terá o redactor seguido a linha do humorista Castigo Muchanga que numa das galas do Show de Talentos, falou de “exprimir sentimentos” enquanto fazia gestos de espremer o coração. Até que a “confusão” humorística de Castigo fez sentido, se tomarmos em conta que os sentimentos “moram” no coração, há que espremê-lo para exprimí-los(os sentimentos). Erro gritante como esse, senhor director, me coloca na duvida se estamos perante casos de distracção ou pura ignorância.
A carta da página 5 com título “violência nos programas televisivos” debruça-se entre outros assuntos, acerca da imoralidade. Esse assunto é retomado no Editorial, onde se fala de “filtração de imagens imorais, promoção do nú, e cenas de sexo em horas de convívio familiar. Achei pura hipocrisia condenar-se tudo isso no jornal e na mesmíssima edição termos um cantinho para “consultas sexuais” onde a Dr. Maria Matsinhe nos empresta o seu saber sexual. Não vejo muita diferença, senhor director, entre ver e ler uma cena de sexo.
Senhor director para terminar fui analisar o texto da sms que sustenta as ameaças recebidas pelo autor do artigo sobre Açucena Duarte. Não sou perito em seja lá oque for, e nem pretendo negar que tenham havido tais ameaças, quero apenas apontar as fragilidades da prova. O texto começa por uma saudação, quanto a mim, carinhosa demais para ser dum ameaçador. “Oi, tudo bom? Eu tou óptima...”. Vamos mesmo senhor director acreditar que num ambiente de hostilidade como o de ameaça teria o autor tempo de perguntar pela saúde da “vítima” ? Para mim a sms vem duma amiga do autor(a palavra “óptima” e não óptimo como por distracção ou propositadamente transcreveram, me sugere uma remetente). Pretendia a remetente, alertar o autor dos possíveis riscos pelo artigo.
Senhor director, por estes e outros aspectos cheguei à conclusão que o jornal precisa melhorar. E tenho certeza que pode melhorar bastando um pequeno esforço. Teremos que ter mais cuidado na revisão. Continuarmos a ter erros graves como os que aqui apontei, pode significar como alguém disse “desmazelo, falta de bom gosto, falta de brio, de exigência, falta de vontade de fazer bem as coisas que infelizmente, cada vez mais caracteriza a nossa sofrida sociedade”. Erros cometemos todos mas, por favor senhor director, nessa minha carta por exemplo podem existir alguns.
Senhor director, não lhe peço que publique essa carta no jornal, mas também não o proibo. Queria muito, o entanto, que o conteúdo fosse compartilhado com seus redactores.
Com os melhores comprimentos.
Nelson Livingston
P.s: Vou deixar uma cópia no meu blog site. Meu Mundo: http://meumundonelsonleve.blogspot.com
2 comentários:
boa nélson,
o meu amigo rui não quer aprender. já o tinha falado com relação às suas verdades absolutas.
Queria muito ter tido a reacao dele nem que fosse para me mandar pros diabos mas ta tudo calmo. Um thanks pelas "tiradas" nao lhe fariam mal, mas pronto cada um 'e feito da "massas" que 'e feito.
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