sábado, 6 de agosto de 2011

QUANTO DE FACTO CUSTA O NOSSO ESTADO E ONDE DEVERÍAMOS FAZER CORTES JULGADOS OPORTUNOS?

Num fórum do qual faço parte, Ismael Mussá deputado do MDM na AR, postou o texto abaixo e espero que ele suscite um grande e bom debate, tal como acontecia aqui na blogosfera, nos tempos que lá se foram. O assunto é pertinente!

Penso que o Erik Charas, o jornal a Verdade, o Beula e o Jornal Savana têm razão quanto ao questionamento que fazem em relação aos gastos dos deputados da Assembleia da Republica mas julgo que o problema é muito mais complexo, como bem diz o meu caro amigo e ex-colega de vários momentos da vida, o ilustre Manuel de Araújo. Se de facto queremos contribuir para uma maior contenção das despesas públicas e uma melhor realocação do Orçamento do Estado para áreas prioritárias então, teremos mesmo de ter a coragem e a vontade necessária para fazer um exercício mental há muito adiado: ANALISAR QUANTO DE FACTO CUSTA O NOSSO ESTADO E ONDE DEVERÍAMOS FAZER CORTES PERTINENTES? De contrário, estaríamos a fazer um mero populismo politico que até pode servir para a obtenção de ganhos políticos imediatos e alguma contenção de momento mas que pouco irá contribuir de facto para a melhoria de vida dos nossos concidadãos e do desempenho da nossa jovem democracia no geral.
Neste contexto, julgo pertinente fazer-se uma reflexão profunda sobre o nosso modelo de representação politica e sobre o modelo de Estado que queremos nesta fase da nossa história. Por exemplo penso que valeria a pena reflectirmos sobre: Quantos deputados o parlamento deveria ter? Não valeria a pena reduzirmos para 125 o número actual de deputados? Qual deveria ser o perfil do deputado para esta fase de desenvolvimento? Quanto estaríamos dispostos a arcar para termos um Parlamento a funcionar decentemente e a produzir resultados a altura das nossas necessidades? Será que os deputados devem continuar a ser eleitos por listas partidárias ou deveriam passar a ser eleitos nominalmente ou ainda por listas mistas? Como fazer com que os deputados votem em consciência e não pela disciplina partidária? (por exemplo introduzir-se o sistema de votação electrónica de modo a tornar o voto secreto em todas as decisões), qual o rácio deputado/funcionário parlamentar seria o ideal para o nosso contexto? Tendo em conta que os maiores círculos eleitorais estão localizados no centro e no norte do país, o que acarreta elevados custos de deslocação dos deputados para a Cidade de Maputo, será que não valeria instalar a sede da Assembleia da Republica na região centro ou norte?
Deveríamos ainda reflectir sobre a utilidade e a necessidade de mantermos as Assembleias Provinciais tendo em conta a produtividade actual. Deveríamos analisar a pertinência de termos um Governo da Cidade de Maputo havendo também um Governo Municipal para a mesma cidade e com competências que por vezes conflituam. Será mesmo necessário termos Secretários permanentes a todos os níveis? É mesmo necessário a figura de Vice-ministros ou poderíamos adoptar a figura de Secretários de Estado? Qual deveria ser o tamanho do nosso Conselho de Ministros, tomando em conta que a Holanda por exemplo tem 12 ministros e nós temos 27? Deveríamos ou não manter o actual sistema de pensões para os titulares de cargos públicos que cessam as funções? Até quanto o Estado poderia suportar em pensões para os dirigentes superiores do Estado? O deputado ou outro titular de cargo superior do Estado que ao cessar funções tenha menos de trinta e cinco anos de idade deverá ou não beneficiar da pensão de reforma? Qual deveria ser o modelo de gestão dos fundos de desenvolvimento, tomando em consideração ao actual modelo em que temos vários fundos (Fundo de Estradas, Fundo de desenvolvimento agrícola, Fundo de água, fundo de energia, fundo de fomento habitação, fundo do ambiente, fundo do turismo, etc. e cada um deles com um Presidente do Conselho de Administração e vários administradores? Não seria mais rentável e produtivo entregar-se a gestão destes fundos todos a um banco ou criar-se uma única instituição financeira para a sua gestão, cabendo ao Estado a definição dos critérios de acesso aos mesmos e o tipo de juros e outras modalidades de reembolso? Será que devemos manter o actual modelo de gestão e filosofia dos famosos fundos de desenvolvimento local? Devemos continuar a alugar helicópteros para as deslocações do chefe de estado ou devemos comprar helicópteros para a Força Aérea que sirvam ao Estado em geral (protecção civil, viagens do chefe de estado, etc.)? Devemos manter o actual sistema de atribuição de casas aos titulares de cargos públicos com opção de compra? Devemos manter o actual sistema de atribuição do subsidio de renda de casas aos mesmos? Não será preferível construir-se casas protocolares onde o dirigente possam residir durante a vigência do seu mandato e as mesmas mantém-se como património do Estado? Qual o tipo de carros que deveríamos atribuir aos diversos titulares de cargos públicos? Será que devemos continuar a atribuir carros da marca Mercedes Benze aos ministros, vice-ministros, juízes conselheiros do Tribunal Administrativo, Supremo e Constitucional, aos Procuradores-gerais Adjuntos, aos Reitores e Vice-reitores das Universidades e Institutos Superiores Públicos, aos Presidentes dos Conselhos de Administração, aos governadores provinciais, aos chefes das bancadas parlamentares, etc.? Será que devemos manter a opção de alienação dos carros de afectação atribuídos aos vários titulares dos cargos públicos, incluindo directores nacionais e chefes de departamentos centrais na função pública? Será que devemos manter o sistema de atribuição de isenção de direitos aduaneiros na importação de carros para os diversos titulares de cargos públicos, incluindo deputados, ministros, vice-ministros, juízes conselheiros, procuradores-gerais adjuntos, membros do conselho de Estado, Membros da CNE, Membros do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, Conselheiros do PR, PAR. PM, directores nacionais, directores nacionais-adjuntos, chefes de departamentos centrais dos ministérios, institutos públicos, universidades e institutos superiores, aos funcionários públicos com o nível de mestrado e com a categoria de especialista? Será que é possível saber-se qual é de facto o número de viaturas protocolares pertencentes ao Parque Oficial do Estado e quanto custa a aquisição e manutenção das mesmas?
É Importante reflectir-se também sobre as isenções fiscais atribuídas as fundações e outras organizações não-governamentais, muitas das quais geram rendimentos. Será que as mesmas deverão continuar a beneficiar de isenções fiscais mesmo aquelas que constroem condomínios para revenda ou aluguer? Será que as isenções do Imposto sobre o Rendimento de Pessoa Singular (IRPS) atribuídas a funcionários estrangeiros que trabalham nas organizações não-governamentais estrangeiras a operarem em Moçambique deverão se manter? Será que os trabalhadores estrangeiros nos megas projectos deverão continuar isentos do pagamento de impostos? Será que os Mega Projectos a operar em território nacional deverão continuar a beneficiar de isenção fiscal global?
Outro aspecto que merece reflexão é o das isenções atribuídas aos partidos políticos na importação de carros e outros bens. Será que os partidos políticos devem continuar a beneficiar de isenções ilimitadas na importação de bens e serviços mesmo sabendo-se dos excessos e oportunismos que alguns habitualmente praticam? Porque não pensar-se na introdução de um limite máximo de viaturas sujeitas a isenção por ano ou por campanha eleitoral?
Respondidos estes e outros questionamentos podia-se de forma fria contabilizar quanto de facto custa o actual modelo de Estado e quanto se pouparia em cada um dos cenários alternativos e ai sim poderíamos ponderar quanto as melhores opções a serem adoptadas para tornar o Estado menos oneroso aos olhos do cidadão e dispor-se de mais recursos para se investir em áreas prioritárias de desenvolvimento do nosso país.
Penso estar lançado o debate e peço para que entendam esta minha modesta abordagem como contributo para uma reflexão mais profunda.
Um abraco a todos e bom fim de semana, Ismael Mussa.

Nota: Abaixo seguem a reação de Basílio Muhate à proposta de debate de Mussá, e a de Manuel Araújo à reação de Muhate. Finalmente a minha reação às reações de Muhate e Araújo.

Mussa, belo debate e reflexão que lanças, mas que tal se antes de pensarmos nessa máquina burocrática e institucional sigamos meu pobre intelecto que manda-me de reflectir sobre a produção de comida, desde a agricultura de subsistência, passando pela comercial e depois a industrial que não chega para todos e não permite-nos fazer todas outras reformas subsequentes.

Antes a barriga e o estomago, depois a política... o parlamento pode ter até mil deputados, ou mesmo 50 apenas, mas as pessoas, o povo, querem saber como irão se alimentar e vestir no dia seguinte, e como irão manter-se saudáveis. A Terra ainda não está a ser potencialmente aproveitada por todos nós...há um esforço que deve ser feito ainda, muito grande, por todos... é esta discussão de base que temos que fazer na minha opinião...depois podemos avançar para as questões das instituições, dos modelos democráticos, do funcionalismo do estado, etc...Se não queremos fazer agricultura, então como é que podemos aproveitar a terra ? 

O que é prioritário afinal neste momento para o ESTADO, ou seja, QUANTO DE FACTO CUSTA O NOSSO ESTADO E ONDE DEVERÍAMOS FAZER CORTES JULGADOS OPORTUNOS???? Afinal de que cortes precisamos para nos mantermos sustentáveis ?
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Estou triste! Muito! Quando meu amigo Basilio, dirigente da juventude de um partido que está no poder desde a independência nacional pensa como pensa! Alguém poderá dizer que ele está aqui como indivíduo mas eu pertenço a uma escola em que os indivíduos são tão importantes quanto os ideais bem como as instituições que representam!

Preocupa-me o pensamento raquítico do Basilio que acha e pensa como se pensava no século VI! Primo manjare depo filosofare! Mano estamos no século XXI! O manjare e tão importante quanto o filosofare! Não nos podemos dar ao luxo de pensar que primeiro temos que produzir comida para depois filosofarmos! Afinal filosofamos sobre quê? Temos sim e que filosofar sobre como produzir comida! Qual é o melhor mecanismo para produzir comida? Quais as melhores técnicas! Que instituto jurídico devemos seguir para potenciar o valor intrinseco da terra! Como transformar a terra num bem económico com valor que possa ser transaccionado no mercado dos factores de produção! Como hernandosotorizar os assets que temos e que não nos beneficiam?

Mano, definitivamente não te perdoo porque tens responsabilidades acrescidas! Não és um Basílio qualquer, és um Basílio que tem a missão de iluminar e formar os próximos quadros que irão gerir este país! Eu que tenho o privilégio de ser teu amigo estaria a trair-te e a trair a minha pátria se me mantivesse calado! Do mesmo modo que não me mantive calado quando vi que certas situações em certos partidos não ajudavam na construção de democracia em Moçambique! Brinquemos sim, mas não brinquemos com assuntos sérios!

Manjemos, filosofando e filosofemos manjando! Eu não quero ajudar a criar mais Malema's!

Um abraço e bom fim de semana! Mano!

Manuel de Araujo
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 Caro Manuel, todos temos direito à uma opnião por mais “raquítica” que seja como chamas a do Basílio.
Eu não a achei nada raquítica, mas tenho alguns questionamentos que até podem ser considerados raquíticos:

  • Quem decide sobre produção de comida?
  • Quem decide sobre agricultura de subsistência, agricultura comercial e depois industrial?
  • Não é essa tal “máquina burocratica e institucional” que no fim do dia “decide” se o camponês produz milho ou jatrofa, e bem antes disso, decide que percentagem do OGE será alocado para a agricultura e se esse dinheiro será usado na irrigação, compra de insumos agrícolas ou será para “apetrechar” as direções provinciais e distritais com mais 4x4 e etc?
  • Será mesmo verdade que não faz diferença nenhuma a quantidade de deputados que o nosso parlamento tiver? Que “pode ter até mil deputados, ou mesmo 50 apenas” e as coisas continuam na mesma no nível do povo que quer “saber como irão se alimentar e vestir no dia seguinte”?
  • Como não é agora que devemos “avançar para as questões das instituições, dos modelos democraticos, do funcionalismo do estado” se são essas instituições que desenham as políticas cujas consequências recaem sobre o pobre camponês?
   Acho que tenho mais questões, mas vou ficar por aqui. 
Um excelente final de semana para todos.

Nelson Livingston

3 comentários:

Reflectindo disse...

Caro Nelson

O problema até não é de se ter ideias raquíticas, mas pelo que tenho notado é de certas pessoas acharem quem devem decidirem os modelos políticos e de governacão enquanto que o resto é só pegar na enxada de cabo curto e irem cultivar a terra. Se notares, em muitas intervencões, dizem essas pessoas que é politiquice discutir tudo o que já está decidido. Isso só me fa lembrar o sistema colonial.
Não quero acreditar que haja entre nós quem não entenda apenas o emanado no título: ANALISAR QUANTO DE FACTO CUSTA O NOSSO ESTADO E ONDE DEVERÍAMOS FAZER CORTES PERTINENTES?

Será que não se entende que por exemplo, dissolvedo o governo da Cidade de Maputo haveria dinheiro para alocar na Agricultura se se definisse como a prioritária? Ou quer-se dizer que o problema da agricultura é da falta do xibalo?

Na minha opinião, há mesmo que discutirmos com seriedade sobre o nosso Estado muito onoroso à custa de ajuda externa.

Nelson disse...

De tão pertinentes que são as questões levantadas, lamento muito que lá no fórum o texto não tenha gerado um grande e bom debate como eu esperava, mas também entendo que estamos diante de assuntos incómodos que podem mexer com a "estabilidade" de alguns.

Reflectindo disse...

Nelson, essa é a minha sensão. É isso que tenho notado.

Acho eu que a única maneira de se provocar uma boa e forte discussão é a oposicão apresentar um manifesto com um governo menos onoroso.