segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sérgio Vieira nervoso com futuro da Frelimo manda recados a Guebuza

“Sucessor de Guebuza deve ser uma pessoa que com as mãos limpas, e sem negociatas por baixo da mesa, não sacrifique, nem deixe sacrificar o interesse nacional a favor dos seus negócios ou de familiares e apaniguados” – Coronel Sérgio Vieira, veterano da Luta Armanda de Libertação Nacional

“O dirigente que só deseja louvores, rejeita qualquer observação crítica, se mostra incapaz de dialogar e aceitar que existe quem saiba mais do que ele, até politicamente, arrisca-se a grandes desaires.” - idém

Maputo (Canalmoz) – O debate da sucessão do actual presidente da Frelimo, Armando Guebuza, entra na sua fase decisiva com a aproximação do X Congresso do partido que tem estado no poder desde a independência nacional. As especulações aumentam de tom e o nervosismo também porque todo o processo terá implicação directa com a continuidade do presidente do partido na Presidência da República. Sérgio Vieira, veterano da Frelimo que chegou a ocupar importantes cargos como a de director do gabinete de Samora Machel, governador do Banco Central, ministro da Segurança, etc. e foi exonerado recentemente do extinto Gabinete do Plano do Zambeze que chefiava, refere que se não houver crise o sucessor de Guebuza deve, entre outras coisas, ser alguém que não sacrifique os interesses nacionais, ou seja, o Estado para favorecer negócios pessoais, da sua família e dos seus acólitos.
Sérgio Vieira deixa essas referências na sua coluna semanal publicada no semanário Domingo, intitulada “Carta a muitos amigos”, “Sobre os Sucessores”.
A opinião do veterano da Frelimo vem numa altura em que em vários círculos de opinião se critica a promiscuidade dos negócios do actual chefe de Estado e dos seus ministros com o Estado, chegando-se mesmo a confundir os limites dos seus apetites empresariais com os da coisa pública.
Na crónica, Sérgio Vieira adianta o perfil do sucessor de Armando Guebuza chamando a atenção para vários aspectos como, por exemplo, a abertura em relação à crítica e diversidade de opinião, coisa que não tem sido bem vista pelo actual Governo moçambicano. Mas, para um juízo mais independente, o Canalmoz publica nos próximos parágrafos, na integra, a parte final da crónica do coronel na reserva, com a devida vénia:
“Nas conversas de café, nos jornais nos círculos, mais diversos, com a aproximação, do X congresso da Frelimo muito se especula sobre a secessão do presidente da República em 2014. Pouco se fala das teses do Congresso [do Partido Frelimo], do que necessita o País. Uns pretendem que a revisão constitucional alargue o mandato de cinco para sete anos, outros, que a eleição do chefe de Estado se faça pela Assembleia da República como na África do Sul e Angola. Acrescento que as candidaturas que a imprensa vai lançando em nada representam ou influenciam a opinião do País real.
Guebuza publicamente afirmou que não pretende rever a Constituição para se recandidatar. Não trairá a palavra dada, violando a honra, e tornando-se mais um desses que se apega ao poder. Respeitem a história do Homem, que merece. Parece-me mais útil uma mudança para que o que já se previa em 1999, separar as funções do chefe de Estado que supervisa a política externa, a defesa e segurança, das funções de chefe de Governo que sancionado pela Assembleia da República, nomeia o Governo e dirige a política económica, social e a administração pública.
Mais do que especular sobre nomes, importa que se discutam as questões essenciais que vão enfermar a política da Frelimo e depois a do Governo no período pós 2014 até 2019.
Devemos buscar critérios que assegurem uma governação eficiente e ao serviço do povo, a definição de políticas e estratégias, pôr termo aos zig-zag e o dito por dito, aos prazos que só servem para não se cumprirem.

“Acredito e salvo crise”

Acredito e salvo crise, que a Frelimo optará por um candidato a chefe de Estado que:
Muito provavelmente virá das fileiras da Comissão Política;
Esteja nos cinquenta anos e com boa saúde;
Com experiência de trabalho nos distritos, províncias, e nível central, que haja feito tarimba, adquirido experiência e também, que possua uma mundo-vivência, não descubra a SADC, a África, a comunidade internacional depois da eleição.
Um candidato que com as mãos limpas, e sem negociatas por baixo da mesa, e não sacrifique, nem deixe sacrificar o interesse nacional a favor dos seus negócios ou de familiares e apaniguados.
Tão importante como o candidato surge a equipa que ele dirige, quer no partido como no Estado. Os critérios essenciais da capacidade de trabalho, coordenação horizontal e vertical, experiência e idoneidade devem sempre prevalecer. O Conselho de Ministros e cada ministério não podem funcionar com eficiência sem definição prévia das estratégias e políticas, sem um plano integrado, sem diálogo no seio com o povo. Um comandante sem tropas e comando organizado caminha para improvisação e o desastre. Quando existe um plano coordenado se há que improvisar, faz-se a táctica, a acção concreta funcionam bem neste caso.
Entendo que numa equipa há que haver lealdade, a lealdade não significa obediência, mas frontalidade para analisar, discordar e expor os pontos de vista.
O dirigente que só deseja louvores, rejeita qualquer observação crítica, se mostra incapaz de dialogar e aceitar que existe quem saiba mais do que ele, até politicamente, arrisca-se a grandes desaires”.(Matias Guente)

Fonte:CanalMoz

Carta ao meu amigo, Nelson: Da demanda ao exercício livre da cidadania e democracia plena no Malaui, à derrapagem económica nos EUA: uma fatalidade [“back to black”] e a [Nova Libra do Sul do Sudão]

Dedé voltou e dessa vez comprimiu uns tantos assunto para me "produzir" mais uma carta. Esta difere-se das outras, por tratar que questões que não sejam necessariamente sobre Moçambique embora como é óbvio, se possa aprender muito com elas ou no caso do assunto americano ser até afectado.
 
"O primeiro presidente da FRELIMO, Eduardo Mondlane, jamais teria sido um ditador se tivesse continuado em vida, pois era um académico e um diplomata, com uma visão estratégica global, que queria uma independência responsável e, se possível, negociada para o seu país e não estabelecer um regime revolucionário de obediência ideológica'" [in Debates & Devaneios]


Olá Nelson,

Votos de uma boa saúde! Vou indo graças a Deus. Agradeço a tuas insistentes e dissecante s notas a volta das ‘minissaias’, prostituição, pós-modernidade e o exercício da cidadania em Moçambique, despoletada pela edilidade de Lichinga. Ora bem, hoje sem deixar de reflectir nesta importante temática, gostaria que passássemos em revista do que se passa na região e no mundo.

Nelson, olhando em direcção nordeste e saltando a fronteira, repousa a República de Malaui que nos dias que correm vive momentos tremendamente tristes. Tudo começa a  quando organizações cívicas locais submeteram ao chefe do estado malauianos pontos específicos que afectam negativamente os malauianos nomeadamente: a boa governação, corrupção, e a penúria económica. Mas o Governo de Bingu Wa Mutharika não deu passos tangíveis para resolver a situação. Na semana antepassada rebentam os protestos que culminaram na morte de 18 pessoas pelas forças policiais. Wa Mutharika não ficou por aí e decretou a ‘caça às bruxas’, sobretudo aos ‘mentores’ da greve em quase todo o Malaui. Um dos alvos é Rafik Hajad, director de uma organização cívica e um dos organizadores dos protestos contra Wa Mutharika, que teve que procurar ‘refúgio’ para evitar cair nas ‘garras’ dos agentes do Wa Mutharika. E prática comum no Malaui prender pessoas às sextas-feiras para que não tenham acesso aos tribunais. “O que vai acontecer a si durante o fim-de-semana muda o seu semblante e a história para os dias que se seguem” – disse Hajad. Resta saber se tal situação não vai transbordar para este lado da fronteira, Moçambique. Seria uma ‘encesto’ metodológico, se comparássemos o incumbente presidente Bingu Wa Mutharika com o ditador Doutor Hastings Kamusu Banda ‘Nguasi’ para não resolver esta situação já de si, ‘vitima’ da retirada de financiamento do Reino Unido e complicações recentes com Moçambique.

Já nos United States of America, Nelson, com uma semana que promete ser de muita movimentação política, os Republicanos e Democratas americanos se desdobram em ‘guerras’ apaixonadas sobre a dívida soberana. Aliás O Presidente Obama (cf. The Global & Mail) saiu ao público para sugerir que apoiaria uma decisão para a redução de despesas públicas. A questão é saber se os republicanos, apologéticos por governo pequeno e o ‘indivíduo’, irão concordar com a ideia. Resta saber se o dólar vai deixar de ‘derrapar’ nos principais mercados financeiros. Resta ainda saber se os USA não serão depois da Grécia, Portugal e Irlanda a declarar falência. O certo é que, se o elefante sentir febril o que será de nós! 

No pretérito fim-de-semana, o mundo foi apanhado de surpresa com o desaparecimento físico duma estrela da música música britânica, Amy Winehouse. Já vais ter aquela voz meio salpicada, meio trémula mas audaz que a caracterizou. Fiquei eu tocado sobremaneira porque na altura em que fazia a minha pós-graduação, além de viver em casa dum senhorio judeu, não poucas vezes passava a música de Amy. Álcool e droga a apoquentaram na verdade e presume-se que seja isso que ‘deu cabo’ da vida da menina dos seus 27 anitos. Entre nós, os menos incautos já saborearam ou tiveram o encanto dos temas da diva no bem sucedido e mais vendido álbum ‘back to black’.

Vou terminar, mas prefiro não me esquecer de ti dizer que em 1980 (16 de Junho) foi bonito e quase interessante testemunhar a entrada em vigor das novas notas do Metical. Samora Machel, ao que se diz, aparece a içar a bandeira nacional lado-a-lado com combatentes que passaram a ser seus detractores. Nelson era mais nem menos para não falar da entrada em vigor da nova moeda do da República do Sul do Sudão, a Nova Libra!

Um abraço

Dedé Moquivalaka

domingo, 24 de julho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ainda acerca da Madeira apreendida em Nacala, Helder Xavier questiona?

Porque será?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Carta Para Dede(12): E essa agora? As mini saias foram ou não proibidas em Lichinga?

Amigo Dedé,
Depois do sururú que ouviu em torno das medidas recentemente tomadas em Lichinga, anda rodando por ai, um email contendo o suposto esclarecimento do Conselho Municipal de Lichinga em torno da propalada proibição de saias curtas. Vou passá-lo aqui na íntegra:

" Cumpre-nos esclarecer que no dia 05 de Julho de 2011, o conselho municipal propôs à Assembleia Municipal a análise da Mendicidade, Prostituição Infantil e Poluição Sonora na cidade de Lichinga, onde a Assembleia Municipal , pela resolução nº 28/AMCL/SO/2011, DELIBEROU O SEGUINTE :

1. PROIBIÇÃO DA PRÁTICA DA MENDICIDADE NOS ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS E A APLICAÇÃO DE UMA MULTA DE 200.000,00MT (DUZENTOS MIL METICAIS) AOS INFRACTORES.

2.PROIBIÇÃO DE ACOLHIMENTO DE PESSOAS PARA A PRÁTICA DE PROSTITUIÇÃO INFANTIL NAS CASAS DE HOSPEDES E PENSOES , AOS INFRACTORES APLICAÇÃO DE UMA MULTA DE 150.000,00MT ( CENTO E CINQUENTA MIL METICAIS)

3. PROIBIÇÃO DA POLUIÇÃO SONORA NA CIDADE DE LICHINGA DE 2ª -5ª FEIRA DEPOIS DAS 20HORAS E AOS DOMINGOS DEPOIS DAS 24HORAS , AOS INFRACTORES A APLICAÇÃO DE MULTA DE 100.000,00MT ( CEM MIL METICAIS).

Portanto as medidas tomadas para o combate a mendicidade, prostituição infantiol e poluição sonora foram as que acabamos de citar , não constituindo verdade qualquer outra diferente destas três.
Assim gostariamos de reiterar mais uma vez que não constitui verdade que o municipio de Lichinga pretende banir a circulação de sais curtas na nossa cidade de Lichinga.
PELA ATENÇÃO, MUITO OBRIGADO

Lichinga 14 de Julho de 2011
Assina Presidente " 
Como se pode entender, na mensagem o conselho municipal de Lichinga apresenta oque realmente foi decidido e deixa claro que o assunto de saias curtas não fazia parte das decisões tomadas pela sua assembleia. Supondo que essa seja a “verdadeira verdade”, não me contive em questionar onde é que os orgãos de informação(Rádio moçambique, STV, O País, Domingo) que publicaram a proibição de saias curtas em Lichinga, foram trazer a história? Fizeram-no simplesmente apartir duma fofoca, sem ter ao menos contactado o municipio de Lichinga? Se esse foi o caso, estamos diante duma brincadeira de muito mau gosto desta vez protagonizada pelos nossos jornalistas. Desta vez, porque já tivemos outras brincadeiras de mau gosto protagonizadas por outros grupo de quem se espera trabalho sério. Entretanto amigo, antes de simplesmente “atirar pedras” aos jornalistas vale a pena explorar outros elementos.
Há quem diz que tudo não passou duma desinformação das mais barata, dos que estão interessados a desacreditar os esforços que tem sido levados a cabo pelos governantes no sentido de melhorar a vida das populações nos mais variados canto desse nosso belo Moçambique. Dedé, no vocabulário político “moderno” diríamos simplesmente que foi obra dos “apóstolos da desgraça” mas será? Temos que concordar que a ideia de acabar com a mendicidade, a prostituição infantil entre outros males que enfermam a nossa sociedade, é inequivocamente nobre, entretanto há que procuarar entender profundamente as raízes que sustentam esses males, antes de vir tomar decisões precipitadas e populistas que logo a primeira vista se mostram ineficientes. Se reparares para os valores das multas por exemplo que rondam em centenas de milhares de meticais dá para perceber que estamos diante duma simples propaganda que visa mostrar que a edilidade está mesmo preocupada com a situação mesmo que no fundo ela mesma não acredite a possibilidade de cobrar e ser paga essas multas. Em jeito de brincadeira alguém questionou se não era o caso do Municipio de Lichinga estar ainda a usar o metical da antiga família o tal recheado de zeros?
A falta de clareza nas medidas é outro aspecto que merece nossa atenção Dedé. Por exemplo no NÚMERO 1 vale a pena questionar se é só nos estabelecimentos comerciais onde se pratica a mendicidade. Já agora deixa-me perguntar oque acontecerá os que se recusarem a pagar essas astronómicas multas. Vão à cadeia?
Para terminar amigo Dedé, ando desconfiado que o municipio tenha mesmo decido proibir o uso das saias curtas mas sem contar com o barulho que isso criaria e vem agora depois de perceber os “danos” tentar “apagar o fogo”, aliás se esse for o caso, essa atitude de dizer e logo asseguir “desdizer” está se virando moda nos dias que correm, exemplos não nos faltariam.

Mia Couto: Clima de impunidade torna inútil iniciativas de educação ambiental em Moçambique

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Sul-africano espanca agente da PRM


Depois de ler, mesmo sem detalhes, não consegui me conter de levantar algumas questões:

- As patrulhas já não são feitas aos pares, trios, etc etc e não individualmente?
-O camarada espacado estava sozinho? Se sim porque?
-O espancador foi dominado por quem? Outros agentes?
-Só o dominaram depois de já ter espancado "estupidamente" no agente?
-O agente estava armado?
-É possível que estivesse embriagado?
-Reparando para o porte físico dos agentes da nossa polícia é mesmo possível que isso tenha acontecido(ironia)?
Muitas outras questões podiam ser levantadas em torno desse assunto mas melhor mesmo é esperar por desenvolvimentos.

Conjecturando sobre a compra de novos autocarros da TPM

Como se pode ler abaixo, o amigo Dedé voltou a escrever-me mais uma carta. Dedé fala dos transportes públicos com enfoque na aquisisção de nvos autocarros.

Entro de rompante aos teus aposentes mais cedo que o habitual para exprimir-lhe meu desagrado quanto aos novos autocarros dos TPM, Nelson!

Nelson, você sabe que o País não tem uma política de transportes públicos tão pouco normas que norteiem o desenvolvimento deste sector importantíssimo sobretudo para o moçambicano pacato.

O vazio legal e regulação apropriada dos transportes é airosamente usado pelos camaradas no poder para um sem fins de situações embaraçosas que culminam num autêntico rodopio,
  • seja em compras de autocarros e mercado pouco de reconhecida reputação comercial com o grosso a destinar-se ao turismo, seja em aumentos pouco sóbrios que de repente são abortados;
  • seja em compras mais recentes ainda de outros autocarros, por assim dizer, numa jornada de festivais de defraudações ao estado em pretensas sub/sobre/facturações para comprar viaturas de pouca qualidade;
  • seja ainda numa demissão desenfreada do PCA daquela empresa de transporte público e seu colectivo, alegadamente por desobediência ao governo.
 Nelson, tal como aconteceu aos concursos de fornecimento de energia para a Vila de Vilanculos em que o alto magistrado tinha infiltrado sua empresa num concurso público e que veio se a saber que a tal era de facto sua empresa, obrigou a instituição credora internacional ao projecto a interpelá-lo, tendo a retirado cabisbaixo e desavergonhadamente, hoje constam notícias de que as mais de meia centena de autocarros dos TPM foram fornecidos aos estado por uma das empresas de que é dono o chefe do estado. Tal empresa ganhou o concurso de fornecimento dos autocarros! Você pode se rever neste chefe do estado caso isto constitua uma verdade? As minhas preocupações, Nelson, continuam a ser esta/s:
  • Ausência da política de transportes
  • Interferência dolosa e danosa das figuras de proa em empresas pública
  • Aparente apatia do público diante da alta corrupção
  • Leis pouco relevantes que, antes de mais, defendem os detentores de cargos mais altos de gestão da coisa pública em prejuízo do estado e da população.
Se tal acontecesse enquanto o transporte público servisse a cada vez mais moçambicanos nos distritos e localidades deste país, ao menos. Agora não! Mais teria dito. Um abraço

Dedé Moquivalaka

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Prostituição e (pós-)modernidade: em Moçambique

Como se pode ler abaixo, o amigo Dedé voltou à carga e dessa vez com o polémico caso da proibição das sais curtas lá pelas bandas de Lichinga. Sobre esse assunto vale a pena seguir a série "A proibição das saias curtas em Lichinga" do Dr. Carlos Serra no seu Diário de um Sociólogo.
 
Amigo Nelson,

Muito obrigado pela recente missiva. Vejo que ti aborreceste com a problemática do COJA quanto à organização dos Jogos Africanos Maputo 2011. É triste ver como as entidades oficiais deste país embarcam numa jornada de contradições e em público sobre os processos de construção da vila (olímpica?) dos jogos. Entristece mais porque também nessas entidades não há integridade suficiente para vir ao público e redimir-se dos seus erros e, ao mesmo tempo, informar ao público sobre a quantas vão os preparativos dos jogos. A imagem do País é que está em causa depois do desaire com o Campeonato Mundial de okey em patins muito recentemente. Ora, não me vou deter nisto. Vou é falar da postura e como aparecer em público por parte das mulheres em Moçambique; ou seja, em Lichinga/veja o elo.

Em tempos atrás (década 70, 80 e meados de 90), imbuídos da doutrina socialista sobre o homem novo, as meninas (por vezes rapazes), foram vítimas da tirânica decisão do governo do dia, de proibir o uso de sapato de salto alto, minissaias, maquilhagens de qualquer natureza, entre outros. Assistimos a formalização duma lei anti-minissaia pelo então parlamento mono-partidário e ratificada e até operacionalizada pelos agentes da Frelimo. Deu no que deu. Nunca foi acatada. Ficou letra morta por ser contra os direitos mais elementares do cidadão e, sobretudo, das mulheres.
 
Nos dias que correm, Nelson, voltamos à vaca fria, com o Conselho Municipal de Lichinga quer legislar a proibição do uso de minissaias sob pretexto de lutar contra a prostituição naquela região do país. Essa notícia está correr mundo, meu Deus! Imagine de quão  lisonjeiro pela negativa é ao País inteiro. Sabe-se que a prostituição é uma profissão sui generis e das mais antigas que há memórias. Daí que em muitos países é uma actividade perfeitamente legal como outra. Me lembro que já estive na Malásia no curso desta década. Nelson, em pleno coração de Kuala-lumpur vi com os meus próprios olhos esta actividade a ser exercida e emprestando, como qualquer outra, o respeito que se impõe. Malásia é, diga-se de passagem, um dos países onde a religião conta e cerceia a vida das pessoas entre os países do sudeste asiático a seguir a Indonésia.

Qual é o motivo que leva o Conselho Municipal de Lichinga a lançar-se nestas medidas draconianas? Fosse isso numa Beira, por exemplo, não imagino qual seria a reacção. Muita pena que isto atente à liberdade da mulher (e homens) nesta profissão secular por falta de juízo de quem manda na coisa pública. Resta saber com que cara ficam pintados todos. Mais teria dito,
 
Um abraço
 
Dedé Moquivalaka

Ainda acerca da suspensão do Conselho de Administração dos TPM

O caso da suspensão pelo Ministro dos Transportes e Comunicação, do Conselho de Administração dos Transportes Públicos de Maputo (TPM), alegando a usurpação de competências, parece continuar a açimentar muitas reflexões em torno do funcinamento das instituições. Essa manhã "cruzei-me" com o editorial da versão electrónica do Jornal Notícias que vale a pena ler:

O MINISTRO dos Transportes e Comunicações (MTC) anunciou esta semana a suspensão do Conselho de Administração dos Transportes Públicos de Maputo (TPM), alegando a usurpação de competências, ao tomar e publicitar decisões sobre a gestão da tarifa, consideradas prerrogativas da hierarquia superior. Na óptica do MTC e até dos utentes do serviço de transporte público de passageiros, esta decisão trouxe um final feliz ao imbróglio.
Maputo, Sexta-Feira, 15 de Julho de 2011:: Notícias
Para os utentes, o final foi feliz, pois as tarifas de passagem não mais iriam subir. A acontecer certamente que geraria uma situação insustentável para a maioria dos cidadãos.
Um agravamento da tarifa dos TPM legitimaria que os operadores privados de transporte de passageiros, nomeadamente os “chapa”, aumentassem também as suas tarifas, tornando a situação ainda mais difícil para o público utente.
Assume-se aqui que os “chapa” estão sempre atentos às oportunidades e procuram aproveitar cada deixa do mercado para aumentar as suas receitas e, por via disso, fazer face aos custos de operação e melhorarem o seu negócio.
Na verdade, um aumento das tarifas dos TPM poderia gerar uma instabilidade social, com a consequente agitação que, potencialmente, poderia eclodir.
Vale a pena recordar pelo menos duas ocasiões num passado ainda recente em que o aumento da tarifa dos transportes públicos de passageiros foi motivo de agitação social, quando o custo subiu de 500 para 1000,00 meticais (da antiga família), e na altura que a 5 de Fevereiro de 2008 os operadores tentaram agravar a tarifa de cinco para sete meticais e meio.
Já na óptica do MTC, a suspensão do Conselho de Administração dos TPM foi um final feliz da história, porque se repôs o que parecia ser uma desordem administrativa gerada pela suposta usurpação de competências. Tudo isto configura apenas um lado da história.
Portanto, independentemente de tal usurpação de competências, parece razoável questionar se são ou não reais as preocupações levantadas pela Administração dos TPM, as tais que determinariam o aumento da tarifa. Sobre isto ficamos a saber muito pouco, ou quase nada do MTC, pelo menos até agora. Por outro lado, e assumindo que o objectivo central daquela Administração era garantir sustentabilidade nas operações da empresa, o mínimo que se podia esperar era que o colectivo procurasse respostas para os vários constrangimentos que se interpunham à gestão das operações.
Reconhecemos o esforço que o Governo faz para importar autocarros, assumindo o seu papel enquanto provedor de serviços públicos para os cidadãos. No entanto, também sabemos que é alta a percentagem de autocarros fora de circulação devido a avarias.
Ou seja, não basta ficarmos satisfeitos com a reposição da ordem administrativa nos TPM. É preciso ir para além dessa usurpação de competências e procurar desconstruir o nível de frustração de quem gere uma empresa insustentável por razões que não dependem nem da empresa, muito menos da sua própria capacidade de fazer as coisas acontecer.
A menos que acreditemos na teoria de conspiração e nos limitemos a assumir que ao pretender propor o agravamento das tarifas a intenção da Administração dos TPM era provocar agitação. Esta pode até ser a visão mais fácil de adoptar mas, seguramente, apenas situacional.
Mais do que isso, a ideia da usurpação de competências deixa a descoberto algumas preocupações, nomeadamente a falta de coordenação entre as instituições, o que pode derivar da falta de clareza sobre a natureza da autonomia das empresas públicas, no caso dos TPM.
A nossa percepção é que o serviço de transporte público urbano de passageiros precisa de ser melhor estruturado, profissionalizado e sobretudo dispor de oficinas autónomas de assistência técnica, devidamente equipadas com homens competentes e acessórios.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Carta Para Dede(11): X JOGOS AFRICANOS, e essa agora quem esta a faltar a verdade?


Amigo Dedé,
Tive mesmo que voltar à questão do X Jogos Africanos. Estão próximos demais para nos deixarmos tranquilos só por conta dos discursos bonitos e exageradamente optmistas que continuam por ai. Queria poder habituar-me à essas coisas de “disse, não disse”,  que ultimamente parece estar a virar moda. Mas simplesmente não consigo. E não deixa de ser preocupante ver como andam desarticuladas as várias instituições nesse nosso Moçambique.
Como bem te deves lembrar, na semana passada ouvimos com preocupação, que o Comité Organizador dos Jogos Africanos (COJA) debatia-se com um considerável défice orçamental na ordem dos 68% para a organização dos X Jogos Africanos, e agora vem o ministro  dizer que não é do seu conhecimento. E essa agora? Em que ficamos especialmente quando se diz que a informação sobre o défice constava no relatório conjuntamente elaborado pelo COJA)e pela Missão Moçambique apresentado ao governo? De que governo se trata senão do qual o ministro Pedrito Caetano integralmente faz parte? Tenho para mim que, mesmo que por alguma razão, o ministro tivesse  “gazetado” ao encontro em que o relatório foi apresentado, por se tratar de assunto sério e de seu total interesse, afinal ele é o número um dos desportos, haveria sempre de ter conhecimento nem que fosse pela imprensa.
Diante dessa “confusão” sou de opnião que urge questionar.
Quem está a faltar à verdade? O COJA acerca do défice ou o ministro acerca da falta de conhecimento da existência do défice?

terça-feira, 12 de julho de 2011

Manifestações para além do custo do pão


“Quanto mais conhecermos as causas da violência social, mais capazes seremos de a prevenir”. Este é o posicionamento de Carlos Serra, cujas percepções sobre a vida e o quotidiano do moçambicano são espalhadas pela  blogosfera...
Com “Chaves das portas do social (notas de pesquisa e reflexão)”, Carlos Serra, um dos mais intervencionistas sociólogos, volta à ribalta para analisar a sociedade moçambicana com base numa receita de culinária científica. Serra leva-nos pelos corredores das ciências sociais, enquanto se prepara para – próximo ano – se estrear no romance. “Afinal, um poema, um romance, um conto são, rigorosamente, janelas de acesso ao social, como a sociologia, a linguística, a história ou a antropologia.” Para o professor, não há dúvidas que “a morte e pesquisa combinaram-se no sentido de me permitirem reflectir sobre o nosso país, sobre a fantástica complexidade da nossa pátria, não no sentido do fantástico à Garcia Marques, mas num certo sentido moçambicano à Émile Zola, num certo tipo de realismo enxertado numa via descritiva que creio não ter sido ainda usada”. Nesta entrevista, o cientista social revisita as manifestações de 2008 e 2010, que para ele são merecedoras de pesquisa aturada. Nesta viagem pelo “político-social”, que incidiu sobre os “cismos sociais”, passando pelos linchamentos, desafios dos nossos políticos e intelectuais, assim como pela questão da insegurança e direitos humanos, Serra esclarece que as suas abordagens não consistem em defender as “massas” acusando os governantes. “Apenas sou porta-voz das minhas hipóteses e do meu trabalho de pesquisa”. Além de actuar como professor titular na Universidade Eduardo Mondlane, no seu endereço mais famoso “Oficina de Sociologia (www.oficinadesociologia.blogspot.com)”, trata de actualidades, faz análises sociais, observa a imprensa nacional e, muita das vezes, termina algumas de suas postagens com ponto de interrogação.
Aquando das manifestações de 1 e 2 de Setembro de 2010, o povo culpou o Governo pelo custo de vida e, por sua vez, o governo atirou as culpas ao seu povo. Qual a interpretação que se pode fazer deste fenómeno?
Proponho que se considerem dois tipos de manifestações, seja em 2008, seja em 2010: as do que chama povo e as dos analistas. Umas e outras são merecedoras de pesquisa aturada. existe muito material rico, quer nos arquivos dos jornais, das rádios e das televisões, quer na memória das pessoas. O que por agora é possível fazer, na minha opinião, é lançar ideias e hipóteses sobre ambos os tipos manifestacionais. Como sabe, foi regra sustentar que as pessoas se manifestaram contra o custo de vida. Mas talvez seja possível ver mais longe do que o perímetro do custo de vida, do custo do “pão”. No  capítulo “O Grande Inquisidor”, do romance “Os Irmãos Karamozov” de Dostoievsky, o inquisidor diz: “Vês estas pedras neste árido deserto? Transforma-as em pães e a humanidade seguirá os teus passos, como um rebanho dócil e reconhecido, mas sempre com medo que a tua mão se retire e que o pão se lhe acabe.” O que quero dizer? Quero dizer que podemos sempre correr o risco de dotar a comida, o pão, a pobreza material em si, as necessidades biológicas do dia-a-dia, de um valor causal absoluto, de um valor explicativo total. Então, defendo que temos de considerar também fenómenos como a incerteza, a busca de identidade, o respeito, a decência, a liberdade, o direito à palavra, a liberdade de ser, a pretensão de fazer do futuro, do presente, etc. Os nossos jovens não são “biológicos”, são pessoas que aspiram ao bem-estar, e bem-estar é uma coisa que vai muito para além do “estômago”, porque poligonal. Que sabemos nós de como vivem os nossos compatriotas nos subúrbios? que sabemos nós dos seus sonhos, das suas tristezas, das suas ambições? Falamos deles e fazemos projectos para eles sem os contactarmos, sem os ouvirmos. Temos a coragem de dizer que neles pensamos no preciso momento em que praticamos um autismo sem fim. Dizem alguns, no cimo da sua arrogância, que os jovens das periferias são irracionais quando se manifestam. Irracionais? Não há pessoas mais racionais do que outras, há apenas pessoas com racionalidades diferentes. O nosso grande problema é darmos curso exclusivo às nossas manifestações discursivas – forma racional de uma certa irracionalidade -, injectando nos outros, os das periferias, os nossos prejuízos, a nossa moral de ocasião, a nossa caixa de ferramentas domesticadoras. Não foram os manifestantes acusados de vandalismo? Não temos a convicção, directa ou indirectamente exposta, de que as pessoas são pacíficas por natureza e que só uma mão externa as pode desequilibrar? Amamos dizer que os “vândalos” são violentos. Já realmente estudámos a violência e as suas causas para além da régua condenatória e do nosso papel de habitantes das ilhas de bem-estar? Quanto mais conhecermos as causas da violência social, mais capazes seremos de a prevenir. A violência social não se combate com cruzadas de falsa moral nem com tiradas de criminalização barata, mas com o conhecimento rigoroso e honesto das infra-estruturas sociais e mentais que a ela conduzem ou podem conduzir. De nada serve mostrar em inúmeras instâncias de debate e persuasão que a violência é desnecessária e nociva se não forem desarmadas as condições sociais que continuamente armam as mentes. O primeiro vandalismo a ser posto em causa habita nas manifestações analíticas, nos prejuízos, na desqualificação, na preponderância cognitiva que concedemos ao “centro” decisional contra a “periferia” dos deixados-por-sua-conta.
“Sou porta-voz das minhas hipóteses”
Em suas abordagens, nota-se mais a preocupação em defender as massas e não os governantes. Assume-se como porta-voz das massas?
O problema não consiste em defender as “massas” e em acusar os governantes. Evidentemente que apenas sou porta-voz das minhas hipóteses e do meu trabalho de pesquisa. O problema consiste em analisar fenómenos e em teorizá-los, em nos furtarmos ao que o sociólogo americano Howard Becker chamou “sentimentalismo”, a operação que, segundo ele, consiste em introduzir “os nossos julgamentos morais nas definições para as colocar ao abrigo das verificações empíricas”. O problema começa quando se confunde pesquisa científica com exercício de moral, com posições casuísticas. Há quem pense que quando estudamos, quando analisamos seriamente um fenómeno, estamos a justificá-lo. Infelizmente, são mais moralistas do que estudiosos. Afastar o espesso monte de ideias-feitas, de clichés e de convicções prontas-a-vestir do dia-a-dia, ir à cavidade dos fenómenos, enfrentá-los de frente, levando o imediato do “deve ser” a ceder o lugar ao construído do “é” e do “está a ser” não é tarefa fácil. “O pensamento científico contemporâneo começa por colocar entre parêntesis a realidade” – escreveu um dia o filósofo Gaston Bachelard. 

Como analisa o facto de a concentração da população registar-se em Maputo?
Num livro de Hegel há uma nota de rodapé na qual critica aqueles que entendem que as pessoas afluem às cidades “porque” são atraídas por elas, como se por um magnetismo especial. É habitual pensarmos com essa ideia-feita, a ideia da atracção em si, como que por geração espontânea. Ora, a parte mais rica do nosso país é Maputo, Maputo-cidade mais do que Maputo-província. é aqui onde se concentram as maiores fontes de riqueza. A guerra terminada em 1992, por um lado, as dificuldades de sobrevivência rural, por outro, podem ser dois dos mecanismos geradores da imigração. Talvez se possa dizer que as pessoas que se fixam em Maputo querem dar realidade aos seus sonhos de bem-estar social e mental. Para eles, é em Maputo onde habita a riqueza e moram os seus símbolos. Têm razão.
Nas grandes cidades, nota-se que as residências estão gradeadas, o que nos remete a uma ideia de insegurança, contrariamente ao campo. Que leitura se pode fazer, tomando em conta que os linchamentos ocorrem grandemente na “periferia” e não nos grandes centros urbanos? Será que a população do subúrbio é perversa?
Gradear significa desconfiar e proteger. Maputo contém elevadas doses de desigualdades sociais e quando mais bem-estar se possui mais a concepção “gradeal” é forte. Moradias e condomínios – enclaves fortificados em grande desenvolvimento - estão cada vez mais protegidas por muros altos, cercas electrificadas, portões especiais de acesso, segurança electrónica, interfonia, guarda privada, etc. Sabe, no primeiro período da segregação espacial, que podemos situar entre a segunda metade do século XIX e 1975, a cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo, estava claramente dividida em duas partes: a parte “branca” dos colonos e a parte “negra” dos colonizados, com uma zona intermediária destinada aos colonizados amanuenses integrados (“assimilados”, dizia-se). No seu livro de 1961 intitulado “Os Condenados da Terra”, Frantz Fanon escreveu o seguinte: “Regidas por uma lógica puramente aristotélica, obedecem ao princípio da exclusão recíproca: não há conciliação possível, um dos dois termos está a mais”. Acho que não seria má ideia pesquisar sobre se o que Fanon escreveu sobre a exclusão recíproca se mantém ou não. Por outro lado, pesquisas por mim conduzidas mostraram que existe um clima de insegurança nas periferias da cidade. Mas os linchamentos não podem ser mecanicamente associados a isso, no sentido de se dizer que porque há muitos malandros, logo linchamo-los. Os linchamentos peri-urbanos (há outros tipos de linchamentos, como os por acusação de feitiçaria e os por morte social) têm uma causalidade poligonal, como procurei mostrar em dois livros a eles dedicados. Sobre a perversidade: não, as pessoas das periferias não são perversas, são apenas pessoas que procuram viver melhor. Tal como no passado colonial, continuam críticas, combativas, bem mais críticas e combativas do que pensamos quando unicamente nos baseamos nas manifestações de protesto e em seu peso mediático. Estas pessoas estão confrontadas com níveis muito elevados de bem-estar, níveis duplamente gradeados, física e mentalmente. Confrontadas e atentas.
Voltando à questão do nível de gradeamento de casas nas cidades, o facto não revela em parte a ineficiência da polícia e a privatização da segurança?
O gradeamento físico e mental tem que ver com duas coisas básicas: com o nível de propriedade possuído e com o desemprego, ambas as coisas reenviando para um determinado modo de produção e de reprodução da vida. A eficiência ou a ineficiência da polícia tem que ver com ambas as coisas e, potencialmente, com outras mais. A privatização da segurança – fenómeno massivo hoje no nosso país, especialmente na cidade de Maputo... a segurança privada tem a dimensão quantitativa de um exército – é, por hipótese, ao mesmo tempo, uma crítica à polícia e uma sua protecção. Crítica porque faz o que a polícia não faz (multiplicar-se pelos locais de criminalidade real ou potencial), protecção porque isenta a polícia de trabalho.
Estado e afirmação da dignidade
Até que ponto a classe política e a massa intelectual tomam a sério o desafio que nos foi imposto pela nossa própria história de garantirmos a dignidade humana no país? O que fazem para se alargar os espaços de afirmação dessa dignidade?
Eduardo Mondlane e Samora Machel, os pais e fundadores do nosso país, colocaram de frente o seguinte problema: não basta obter a independência nacional, é preciso também obter a independência social. Mondlane escreveu mesmo que de nada serviria a independência nacional se, obtida, se mantivessem os padrões de exploração capitalista. Samora tentou aplicar Mondlane. Quanto mais uma dada classe política toma isso em conta, mais ela luta pela dignidade dos governados, mais ela é legítima. A legalidade da gestão estatal não é a mesma coisa que a legitimidade dessa gestão. Um Estado pode ser legalmente instituído, mas não ser considerado legítimo. Quando é que um Estado pode ser considerado legítimo nas percepções populares? Na minha hipótese, um Estado pode ser considerado legítimo nas percepções populares quando os seus gestores, em troca da lealdade que exigem aos cidadãos, são capazes de assegurar pelo menos cinco coisas:
1. Protecção incondicional da vida e da propriedade;
3. Provimento de bens sociais fundamentais: emprego, ensino, saúde, transporte, justiça e reforma condigna;
4. Liberdade de movimento e de expressão; e
5. Indemnização sempre que os seus cidadãos forem afectados por actos irresponsáveis e práticas lesivas decorrentes directa ou indirectamente da governação.
A gestão de um Estado pode ser avaliada através da composição orgânica da política. Esta depende da relação entre o capital de dominação (conjunto de procedimentos que concernem à coerção física directa) e o capital directivo (conjunto de procedimentos destinados a obter a adesão e/ou o amorfismo político dos cidadãos). Quanto mais os gestores de um Estado investirem nos aparelhos repressivos e na repressão, mais alta será a composição orgânica da política e menor, portanto, a taxa de lucro político, quer dizer, menor a legitimidade de quem domina.
A discussão sobre direitos humanos parece abstracta demais para ser de alguma utilidade no nosso contexto. Acha que no país já houve alguma manifestação séria sobre esta temática?
Tanto quanto julgo saber, nunca houve no país algo que se parecesse com uma identificação plena, o mais pleno socialmente falando, sobre direitos humanos. Creio que existem em nós fortes coeficientes de aceitação de certas coisas (direito à liberdade de expressão, por exemplo) e de recusa de outras (direito ao casamento gay, por exemplo). Certos fenómenos, certas práticas, certos tipos de educação conservadora do nosso passado plantaram em nós muitas armas mentais, muita intolerância, muito verniz superficial. Direitos humanos são, para mim, algo bem mais vasto do que o direito individual de cada um à liberdade a vários níveis. Direitos humanos são para mim direitos socialmente considerados e promovidos em permanência, tendo em vista os desfavorecidos, os privados de bem-estar. Lá onde houver quem morra de fome, quem viva na rua ao frio e à chuva, lá onde alguém é ostracizado por pensar de forma diferente, lá não há direitos humanos. Não há história onde não há questionamento social. Homens doentes não fazem história: sofrem-na. Homens tristes não vão para a frente, mas para trás. O verdadeiro sentido da história não está nos museus, mas nos actos que ainda não vieram. 
Que percepção se pode ter do fosso entre ricos e pobres, numa altura em que o Governo cancelou a cesta básica sob alegação de que o país está no “bom caminho”?
Desenvolvimento é uma palavra abre-latas que é continuamente empregue aos mais variados níveis e nos mais variados quadrantes. Quanto mais o país se desenvolve num certo sentido macroeconómico, mais se procura evitar uma discussão sobre a fractura social, sobre as desigualdades sociais. mais riscos corremos se quisermos dizer que os pobres são preguiçosos - interessante uma certa tese oficial sobre a ociosidade popular -, que, se trabalharem, poderão um dia entrar na estrada da riqueza. Creio que as revoltas populares de 2008 e 2010 tornaram o nosso Estado bem mais atento aos riscos da fractura social e não é por acaso que dois fenómenos se sucedem, melhor, se apoiam, por um lado, a multiplicação de medidas destinadas minimamente a evitar o encarecimento da vida dos mais pobres e, por outro, o apelo à não realização de manifestações. Sobre “cesta básica”, preciso ainda de mais tempo para avaliar o real sentido do cancelamento. Para já, apenas tenho uma ideia preliminar, muito pobre, de que a cesta básica era uma cesta política destinada a evitar a reedição das revoltas de 2008 e 2010.
O Governo virou “campeão” em matéria de recuo nas decisões tomadas. São exemplos a inspecção obrigatória de viaturas, o registo de cartões SIM e os preços de bilhetes biométricos. Em que situação moral se encontra o executivo hoje, numa altura em que demonstra falta de coerência nas decisões tomadas?
Sem dúvida que desde 2008, pelo menos desde 2008, várias medidas têm sido tomadas com uma velocidade decisória acima do normal; digamos que a uma velocidade frenética, muito política, muito guebuziana, quando comparada com a velocidade chissaniana. Acontece que a velocidade reactiva popular é diferente, é bem mais “antropológica”. Mas tudo isso precisa de ser pesquisado e analisado. Pequeno detalhe imagético: Guebuza é Samora abraçado a Chissano. Do primeiro recebe o impulso, do segundo os limites; Samora era o pai fundador do socialismo moçambicano, Guebuza é o continuador de Chissano no reforço do capitalismo de Estado que colhe em Samora a tinta que sobrou da casa socialista; Guebuza é uma bissectriz, é uma antífrase, é, para fazer uso da física quântica, uma “desordem” samoriana regida pela “ordem” chissaniana.
Historiador que é, de certa forma exilado na sociologia, como é que analisa o silêncio à volta da revisão da constituição, olhando para a Frelimo que trouxe a revolução; a Frelimo que trouxe o marxismo; a Frelimo que trouxe o PRE e a Constituição multipartidária de 90?
A Constituição será certamente alterada, mas hoje ainda não sabemos o que vai ser alterado. Dispondo do voto maioritário na Assembleia da República, gerindo o Estado, a Frelimo tudo fará para que o que tiver de ser alterado esteja em consonância com o seu papel histórico de guia. Por outras palavras, abdicando da leitura ética: a Constituição é um recurso de poder e a Frelimo tudo fará para manter o seu papel de guia, de partido gestor do Estado, fechando as portas ao assédio político contrário.
Sob que prisma se pode olhar para o papel da nossa oposição e da sociedade civil na discussão sobre a alteração da constituição?
Creio que se nota apreensão ao nível de certos círculos produtores de opinião pública. Mas oposição e sociedade civil são termos muito genéricos, a todo-o-terreno. Tenho para mim que existem quatro tipos de partidos no país: o partido dominante no poder, os partidos da oposição estrito senso, os partidos cavalos de tróia e os partidos gelatinosos-hibernadores. Como vê, não é fácil ter uma ideia unitária. Por outro lado, são múltiplas as instâncias das organizações da chamada sociedade civil, umas reais, outras fictícias, muitas confinadas aos fundos e ao está-tudo-bem, etc.
Severino Ngoenha diz que ser intelectual não é ser enciclopédia ambulante. Será que os intelectuais estão a fazer o seu papel?
O Professor Severino Ngoenha é um intelectual que tem para mim uma grande virtude: a de conjugar a reflexão científica e filosófica com o engajamento público, fugindo em permanência ao conforto académico, às bizantinices, aos sofismas enganadores e às neutralidades politicamente úteis. Em todos os seus livros, mas também nas suas mais recentes intervenções, Severino é um sólido pensador engajado, que, afinal, em meu entender, recupera e amplia a questão matricial de Mondlane e Samora: como obter a independência social. Como escreveu um dia o escritor congolês Henri Lopès, “nenhuma sociedade progrediu sem fazer a sua própria crítica, sem que os seus criadores e pensadores se metessem contra a corrente dos bem-pensantes”.
Precisamos de mais Severinos, de pensadores fortes de suco gástrico capazes de, pela crítica frontal, pela evacuação do seguidismo oportunista, ajudarem a criar problemas analíticos para que melhor os problemas físicos sejam analisados e eventualmente resolvidos. O falecido sociólogo Pierre Bourdieu tem duas frases que muito amo reproduzir: “politizar as coisas cientificando-as” e “pensar a política sem pensar politicamente”.
Os próximos voos de Carlos Serra
Para breve sai mais um livro seu, no âmbito das suas reflexões científicas. Pode dar-nos alguns detalhes sobre esta obra?
“Chaves das portas do social (notas de pesquisa e reflexão)” – esse é o título. Existem múltiplas maneiras de analisar a sociedade, não há uma maneira única, uma maneira baseada numa receita de culinária científica. E ainda bem que assim é. Eu irei apresentar as minhas, baseadas em anos de pesquisa, reflexão e pesquisa. Quero acreditar que o livro poderá ser especialmente útil aos estudantes de ciências sociais, não por lhes apresentar as minhas ideias, mas por acreditar que eles podem criar ideias bem melhores.
E por falar em novas obras, sabemos que está em vista a sua estreia no campo do romance, com uma obra que ficará pronta nos primeiros meses do próximo ano. O que o leva a explorar esse novo campo literário?
Sim, esforço-me por sair dos carris das ciências sociais e entrar nos carris do romance. Sabe, passei alguns anos da minha vida a estudar documentos antigos, borolentos, amarelecidos. Sempre me interroguei sobre a morte daqueles que os escreveram, sobre a maneira como escreveram, sobre o que assinaram, etc. Sempre tive a ânsia de vencer a morte através das palavras. Esse é um aspecto. O outro é que eu tenho tido muitas experiências de pesquisa e penso que elas podem ser úteis para eu criar um mundo embutido naquele que é o meu habitual trabalho. Afinal, um poema, um romance, um conto são, rigorosamente, janelas de acesso ao social, como a sociologia, a linguística, a história ou a antropologia. Então, morte e pesquisa combinaram-se no sentido de me permitirem reflectir sobre o nosso país, sobre a fantástica complexidade da nossa pátria, não no sentido do fantástico à Garcia Marques, mas num certo sentido moçambicano à Émile Zola, num certo tipo de realismo enxertado numa via descritiva que creio não ter sido ainda usada. Em tempo devido, procurarei mostrar tudo isso, próximo ano. 

Entrevista retirada daqui

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Kamikazes infiltram estado, Nelson!

 A maneira antiga, quando eu o amigo Dede trocavamos corespondências reflectindo sobre alguns assuntos de nossos Moçambique, em reposta da minha carta publicada aqui e depois aqui, em jeito de resposta vai a carta que Dede me escreveu, igualmente publicada aqui

 “O Estado de Direito é especialmente importante para os membros mais fracos da sociedade, porque assim são assegurados de que poderão viver em segurança…” …”O Estado sou eu” dizia Luís XIV. 

De volta à tua companhia, Nelson. Agradeço a tua recente missiva ao respeito da aquisição de autocarros pelo Presidente da República para depois os vender ao Estado. Fizeste um reparo pontual e que se impunha fazer sobre o assunto. Quo vadis, Guebuza!

Nelson, ainda que possamos acreditar que o nosso estado é de direito e por essa via governado segundo o regime que o postula, mas temo-lo como é; ou seja, atropelado pelas vicissitudes do momento dos agentes que o infiltram. O nosso estado está infiltrado e saqueado pelos mesmos agentes que se dizem ser o seu guardião, o seu garante e o que (não) fizeram e (des)fazem (por) (d)ele.

O simples facto de lá estar infiltrado sem guarda algum que os denuncie é preocupante e, pior que isso, os agentes não admitem conversa nem o pestanejar de olhos a ilharga com vista voltada ao estado.

Nosso governo é kamikaze, Nelson, porque encontrou um estado passivo (sempre o foi) que não se protege. Os agentes e os seus «protegés» o oneram, o fazem o que quiserem em nome do (maravilhoso) povo.

Não espanta nem ao menos incauto que os agentes venham “vender autocarros” ao Estado com o mesmo dinheiro que tiraram dele. É ético isto para um magistrado público apossar-se da pataca das nossas contribuições e fazer o que bem entende?

Fico-me por aqui por enquanto Nelson e lembrar-te que há mais coisas por falar desses kamikazes na próxima correspondência. Que tal se reflectirmos sobre o facto dos kamikazes e seus protegés teimarem com o despesismo das ditas presidências abertas e inclusivas? Espero. Um abraço de sempre.

Dedé Moquivalaka – 10.07.2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

NOVOS INQUILINOS NO PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA

O acampamento de Chitengo parou completamente na tarde desta Sexta feira para assistir a chegada de Chitas, aumentando assim, o número de espécies existentes no Parque Nacional da Gorongosa.
A emoção começou logo que a avioneta que transportava os animais aterrou no aerodromo do Chitengo, e para supresa de muitos, os animais não vinham enjaulados mas apenas sedados oque aumentou ainda mais a adrenalina. Foram dai "desembarcados" para duas viaturas do Departamento da Conservação e ainda passou-se por um momento de agitação quando aparentemente, um dos animais "quis saber onde se encontrava", agitando-se com alguma violência. Dai rumaram para o santuário onde vão passar por um periodo de adaptação antes de passarem a conviverem com o restante dos "habitantes" da Gorongosa. 

Reintroduzir as várias espécies outrora existentes no Parque e introduzir novas que facilmente se adaptem à Gorongosa, é um dos desafios do Projecto de Restauração da Gorongosa que ao longo do período que já esta está em implementação, dentre outras espécies, já trouxe para Gorongosa, elefantes, búfalos e hipopótamos.

A Chita, também conhecido como guepardo, lobo-tigre, leopardo-caçador ou onça-africana, (Acinonyx jubatus),é um animal da família dos felídeos (Felidae), ainda que de comportamento atípico, se comparado com outros da mesma família. É a única espécie vivente do gênero Acinonyx. Tendo como habitat a savana, vive na África, Península Arábica e no sudoeste da Ásia. Físicamente, é significativamente parecido com o leopardo. As almofadas das patas da chita têm ranhuras para tracionar melhor em alta velocidade, e sua longa cauda serve para lhe dar estabilidade nas curvas em alta velocidade. Cada chita pode ser identificada pelo padrão exclusivo de anéis existentes em sua cauda, tem uma cabeça pequena e aerodinâmica e uma coluna incrivelmente flexível, são habilidades que ajudam bastante na hora da perseguição.

É um animal predador, preferindo uma estratégia simples: caçar as suas presas através de perseguições a alta velocidade, em vez de tácticas como a caça por emboscada ou em grupo, mas por vezes, pode caçar em dupla. Consegue atingir velocidades de 115 a 120 km/h, por curtos períodos de cada vez (ao fim de 400 metros de corrida), sendo o mais rápido de todos os animais terrestres, porém em uma certa ocasião, avistou-se um guepardo que correu atrás de sua presa por 640 metros em 20 segundos, (medidos com um cronômetro), e 73 metros em aproximadamente 2 segundos.

O corpo da chita é esbelto, musculado e esguio, ainda que de aparência delgada e constituição aparentemente frágil. Tem uma caixa torácica de grande capacidade, um abdómen retraído e uma coluna extremamente flexível. Tem uma cabeça pequena, um focinho curto, olhos posicionados na parte superior da face, narinas largas e orelhas pequenas e arredondadas. O seu pêlo é amarelado, salpicado de pontos negros arredondados, e na face existem duas linhas negras, de cada lado do focinho, que descem dos olhos até à boca, formando de fato um trajecto de lágrimas. Um animal adulto pode pesar entre 28 e 65 kg. O comprimento total do corpo varia de 112 a 150 cm. O comprimento da cauda, usada para equilibrar o corpo do animal durante a corrida, pode variar entre 62 e 85 cm.

Com a chegada desses animais o Parque Nacional da Gorongosa passa a ter mais uma atração para os turistas.

PREÇO DOS TPM AUMENTA OU NÃO AUMENTA?



Satisfação porque apesar dos argumentos usados pelos TPM para sustentar o aumento me convencerem, tenho para mim que já bastam os aumentos que andam por ai e que deixam a mair parte dos Moçambicanos com os bolsos esburacados. Preocupado porque apesar dos argumentos usados para impedir o aumento também me convencerem, deu para notar a desarticulação que existe entre os TPM e o MTC e talvéz até “desarticulado” esteja eu que sempre pensei que como empresa pública,apesar de e possivelmente algumas autonomias seja lá de que natureza forem, no fim do dia, de alguma forma, os TPM ainda “prestavam contas” ao MTC e um aumento de tarifa na ordem de uns 40 % devia ser do conhecimento do MTC antes de vir ao público. 

Com esse episódio não tive como não me lembrar da famosa história da cesta básica, do registo obrigatório dos cartões dos serviços de pré-pago de telefonia móvel entre outras onde as instituições, os governantes se contradizem de forma tão crassa que me pergunto para que servem os encontro que ouvimos falar por ai. Existe por ai alguma estratégia de comunicação? As vezes é em situações tão básicas que nem dá para falarmos “sofesticadamente” de estratégias e blá blá.

Meu medo é isso vire moda e que o povo se habitue à essas brincadeiras de dizer e “desdizer”, prometer e “desprometer” marcar e desmarcar datas, prazos para isto e aquilo e apartir dai nunca mais leve à sério as decisões que forem tomadas seja lá por quem for.

MJD DIZ QUE HOME CENTER APRESENTOU RECURSO FORA DO TEMPO E SEM CAUÇÃO

Resposta de Pedrito Caetano veio ontem depois da reportagem de “O País”.
Em carta dirigida à Home Center, o ministro da Juventude e Desportos escreveu que o recurso daquela empresa entrou no COJA três dias mais tarde do que devia.
Pedrito Caetano escreveu ainda que a Home Center utilizou, para recurso, a mesma garantia bancária que usou para suportar a sua proposta ao concurso, o que é ilegal, à luz dos artigos 141 e 143 do Regulamento de Contratação de Empreitadas, Bens e Serviços do Estado (decreto 15/2010).
 Na sequência da nossa reportagem de ontem, o ministro da Juventude e Desportos, Pedrito Caetano, respondeu ainda ontem ao recurso hierárquico da Home Center, considerando-o improcedente e, portanto, sem nenhum efeito.
Na carta dirigida ao Home Center, o ministro aponta duas razões para não validar a reclamação daquela empresa: a primeira é a extemporaneidade da mesma. Diz Pedrito Caetano que a Home Center foi notificada do resultado do concurso no dia 21 de Junho, tinha três dias para dar entrada à sua reclamação no COJA, à luz do número 2 do artigo 140 do decreto 15/2010.
No entanto, refere a nota do MJD, a reclamação da Home Center só foi recebida no COJA no dia 27, seis dias depois, contra os três que a lei estabelece.
A Home Center, no entanto, contrapõe com a cópia da carta enviada ao COJA, devidamente protocolada, indicando que a mesma deu entrada no dia 24 de Junho e com nota de recepção assinada por uma colaboradora que se identifica como Esmeralda.
Como dia 24 de Junho foi uma sexta-feira, o mais provável é que o documento tenha entrado, de facto, nesse dia, mas apenas tenha chegado ao departamento destinatário apenas na segunda-feira, dia 27.
Mesma garantia bancária
O ministro da Juventude e Desportos diz que a Home Center apresentou, para caucionar o seu recurso, a mesma garantia bancária que tinha usado para suportar a sua proposta no concurso. Nos termos dos artigos 141 e 143 do decreto 15/2010, acrescenta a nota ministerial, isso contraria em absoluto a lei.