segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sérgio Vieira nervoso com futuro da Frelimo manda recados a Guebuza

“Sucessor de Guebuza deve ser uma pessoa que com as mãos limpas, e sem negociatas por baixo da mesa, não sacrifique, nem deixe sacrificar o interesse nacional a favor dos seus negócios ou de familiares e apaniguados” – Coronel Sérgio Vieira, veterano da Luta Armanda de Libertação Nacional

“O dirigente que só deseja louvores, rejeita qualquer observação crítica, se mostra incapaz de dialogar e aceitar que existe quem saiba mais do que ele, até politicamente, arrisca-se a grandes desaires.” - idém

Maputo (Canalmoz) – O debate da sucessão do actual presidente da Frelimo, Armando Guebuza, entra na sua fase decisiva com a aproximação do X Congresso do partido que tem estado no poder desde a independência nacional. As especulações aumentam de tom e o nervosismo também porque todo o processo terá implicação directa com a continuidade do presidente do partido na Presidência da República. Sérgio Vieira, veterano da Frelimo que chegou a ocupar importantes cargos como a de director do gabinete de Samora Machel, governador do Banco Central, ministro da Segurança, etc. e foi exonerado recentemente do extinto Gabinete do Plano do Zambeze que chefiava, refere que se não houver crise o sucessor de Guebuza deve, entre outras coisas, ser alguém que não sacrifique os interesses nacionais, ou seja, o Estado para favorecer negócios pessoais, da sua família e dos seus acólitos.
Sérgio Vieira deixa essas referências na sua coluna semanal publicada no semanário Domingo, intitulada “Carta a muitos amigos”, “Sobre os Sucessores”.
A opinião do veterano da Frelimo vem numa altura em que em vários círculos de opinião se critica a promiscuidade dos negócios do actual chefe de Estado e dos seus ministros com o Estado, chegando-se mesmo a confundir os limites dos seus apetites empresariais com os da coisa pública.
Na crónica, Sérgio Vieira adianta o perfil do sucessor de Armando Guebuza chamando a atenção para vários aspectos como, por exemplo, a abertura em relação à crítica e diversidade de opinião, coisa que não tem sido bem vista pelo actual Governo moçambicano. Mas, para um juízo mais independente, o Canalmoz publica nos próximos parágrafos, na integra, a parte final da crónica do coronel na reserva, com a devida vénia:
“Nas conversas de café, nos jornais nos círculos, mais diversos, com a aproximação, do X congresso da Frelimo muito se especula sobre a secessão do presidente da República em 2014. Pouco se fala das teses do Congresso [do Partido Frelimo], do que necessita o País. Uns pretendem que a revisão constitucional alargue o mandato de cinco para sete anos, outros, que a eleição do chefe de Estado se faça pela Assembleia da República como na África do Sul e Angola. Acrescento que as candidaturas que a imprensa vai lançando em nada representam ou influenciam a opinião do País real.
Guebuza publicamente afirmou que não pretende rever a Constituição para se recandidatar. Não trairá a palavra dada, violando a honra, e tornando-se mais um desses que se apega ao poder. Respeitem a história do Homem, que merece. Parece-me mais útil uma mudança para que o que já se previa em 1999, separar as funções do chefe de Estado que supervisa a política externa, a defesa e segurança, das funções de chefe de Governo que sancionado pela Assembleia da República, nomeia o Governo e dirige a política económica, social e a administração pública.
Mais do que especular sobre nomes, importa que se discutam as questões essenciais que vão enfermar a política da Frelimo e depois a do Governo no período pós 2014 até 2019.
Devemos buscar critérios que assegurem uma governação eficiente e ao serviço do povo, a definição de políticas e estratégias, pôr termo aos zig-zag e o dito por dito, aos prazos que só servem para não se cumprirem.

“Acredito e salvo crise”

Acredito e salvo crise, que a Frelimo optará por um candidato a chefe de Estado que:
Muito provavelmente virá das fileiras da Comissão Política;
Esteja nos cinquenta anos e com boa saúde;
Com experiência de trabalho nos distritos, províncias, e nível central, que haja feito tarimba, adquirido experiência e também, que possua uma mundo-vivência, não descubra a SADC, a África, a comunidade internacional depois da eleição.
Um candidato que com as mãos limpas, e sem negociatas por baixo da mesa, e não sacrifique, nem deixe sacrificar o interesse nacional a favor dos seus negócios ou de familiares e apaniguados.
Tão importante como o candidato surge a equipa que ele dirige, quer no partido como no Estado. Os critérios essenciais da capacidade de trabalho, coordenação horizontal e vertical, experiência e idoneidade devem sempre prevalecer. O Conselho de Ministros e cada ministério não podem funcionar com eficiência sem definição prévia das estratégias e políticas, sem um plano integrado, sem diálogo no seio com o povo. Um comandante sem tropas e comando organizado caminha para improvisação e o desastre. Quando existe um plano coordenado se há que improvisar, faz-se a táctica, a acção concreta funcionam bem neste caso.
Entendo que numa equipa há que haver lealdade, a lealdade não significa obediência, mas frontalidade para analisar, discordar e expor os pontos de vista.
O dirigente que só deseja louvores, rejeita qualquer observação crítica, se mostra incapaz de dialogar e aceitar que existe quem saiba mais do que ele, até politicamente, arrisca-se a grandes desaires”.(Matias Guente)

Fonte:CanalMoz

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