sábado, 5 de julho de 2008

Carta para um pecador

Ja me confessei leitor assíduo do blog Carta e Verso do I.R. Tem la lindo poemas mas gosto mais é de lhe ler as cartas que escreve para um sem numero de destinatários interessantes. Ja cá antes trouxe outras veja aqui a dirigida ao ser humano e aqui a dirigida a um desconfiado.
Achei mais uma aqui e decidi traze-la para o nosso mundo. Desfrutem

Carta para um pecador

Buenos Aires, 26 de Junho de 2008.

Prezado Pecador,

Antes de mais nada, quero dizer que esta não é uma carta para criticá-lo. Longe de mim tal atitude. Não sou o dono da verdade, não quero ser, não sou melhor do que ninguém. Para ser sincero, e por mais que você ache estranho, esta é uma carta para me confessar como membro do seu clube.

O pecado faz de nós verdadeiros seres humanos. Todos pecamos (entenda-se este verbo como presente e como pretérito perfeito). E quase todos gostamos de pecar. Um ser humano sem pecado não é um ser humano, é um Deus ou uma deusa, mas não pode ser chamado de humano.

Atire a primeira pedra quem não comeu aqueles dois bombons a mais só por gula. Atire duas pedras aquele que sabendo que deveria se levantar não ficou mais 15 ou 20 minutos na cama. Atire 5 pedras o homem que não olhou para uma mulher na rua com olhos gulosos. Ou a mulher, que tendo visto o homem com uma bunda bonita não andou um pouco mais rápido para ver se o rosto também era bonito ou só a região glútea. Atire 16.000 pedras quem um dia não sentiu uma ponta de inveja do vizinho, do actor da TV, de um desconhecido na rua, do colega de trabalho ou até do BBB que ganhou um milhão de reais da Rede Globo.

E por aí vai, senhor Pecador. Nenhuma pedra pode e será lançada. Todas ficarão onde estão. Todas as pedras, caprichosamente, no lugar. Porque todos pecamos. E isso não faz de nós piores pessoas, apenas mostra como somos, imperfeitos, humanos, feitos de um barro meio tosco, mal cozidos, diria eu.

Agora, meu amigo Pecador, não nos deixemos enganar. Somos pecadores, sim, mas isso não significa que queremos o mal dos outros. Pecar não nos faz filhos da puta (com o perdão da trabalhadora, cujos filhos nem sempre são más pessoas). Porque sentir preguiça, por exemplo, não é a mesma coisa que não fazer nosso trabalho, esperando, querendo, exigindo, que outro o faça. Olhar uma pessoa com olhos gulosos não é o mesmo que estuprar alguém. Sentir uma pontada rápida de inveja não é a mesma coisa que fazer o possível e o impossível para prejudicar alguém ou para roubar o lugar de um colega. Fazer uma pequena fofoca em casa não é o mesmo que fazer intriga, fuxico.

Pecador, o mundo está cheio de Escrotos. E precisamos ter cuidado para não sermos confundidos, postos na mesma sacola. Todos temos caras de seres humanos, todos parecemos iguais como um caminhão cheio de ocidentais (claro... os orientais também acham que somos todos iguais). Mas não somos. Os Escrotos riem da desgraça alheia.

Os Escrotos fazem chacota com a miséria humana, fazem piada com o sofrimento das pessoas. Cuidado com os Escrotos!

Deus me livre e guarde dos Escrotos, e me garanta cada vez mais no meio da humanidade dos pecadores.

Um abraço,

I.R.

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