Por: Ericino de Salema
A Televisão de Moçambique (TVM), a [denominada] estação pública de televisão do país, mostrou, no seu ‘Bom Dia Moçambique’ desta quarta-feira, 22 de Junho de 2011, uma reportagem que documentava a visita que a Primeira-Dama de Moçambique, Maria da Luz Guebuza, está – ou estava – a efectuar ao distrito da Moamba, na província do Maputo.
Nessa sua visita, Maria da Luz Guebuza mostrou-se, uma vez mais, como “mãe de todos” os petizes deste país, ao evidenciar que dá muito enfoque, nas suas visitas – que alguns já catalogam de ‘Presidências Abertas Paralelas’ – ao amparo à criança, sobretudo aquelas cujos progenitores tenham perecido por causas diversas, e que, por força disso, se aliam aos inúmeros moçambicanos que conjugam constantemente, mesmo sem se darem conta, o verbo sofrer. Ou sobreviver.
Maria de Luz Guebuza é, de longe, muito activa quando comparada com Marcelina Chissano, que foi Primeira-Dama de Moçambique durante 18 anos, ou seja, de 1986 a 2004. A questão que se pode colocar, por ora, é se esse activismo é compatível com princípios basilares que corporizam a i) democracia liberal e a ii) separação de poderes. A indagação se estenderia à austeridade que se espera na gestão dos países que vivem apelando à caridade pública internacional, e não só, sobretudo nos actuais ‘dias de peste’.
Permito-me começar com uma ‘viagem ao passado’. Há três anos, manifestei a minha indignação, em jeito do exercício do ‘direito à razão – que se não deve confundir com ‘o ter razão’, por ser, tão-somente, o constitucional direito à liberdade de expressão –, em artigo publicado nas páginas do semanário SAVANA, com o título “O show-off ‘off’ de Maria da Luz Guebuza”, com a forma como as suas ‘Presidências Abertas Paralelas’ estavam a ser realizadas; o que sucedeu foi que, quando viajava, num certo dia de 2008, a Inhambane, tive a sorte de cruzar com a sua comitiva algures em Quissico, no que pude ‘contabilizar’ mais de 50 carros, muitos deles só com os seus condutores, o que se me afigurou como um desnecessário esbanhamento de recursos.
Para não cansar a ‘santa paciência’ dos que investem o seu precioso tempo em me ler, retomo ao leit motiv desta pequena prosa: a peça inserta no ‘Bom Dia Moçambique’ referida acima, na qual a Primeira-Dama era a ‘figura de cartaz’.
Numa das passagens dessa reportagem, Maria da Luz Guebuza deu, de viva voz, orientações a quem ela chamou de ‘Camarada Administrador’, para que este arranjasse ocupação para o menino de 14 anos com quem ela interagia, pois aquele, órfão de pais, estudava de noite e “tem que fazer algo de dia para ajudar no sustento da família”, tal como fez questão de frisar a Primeira-Dama de Moçambique, a quem Manuel de Araújo certa vez denominou de “vice-Presidente da República [de Moçambique]”.
Talvez equivocado, fiz, de mim para comigo, muitas perguntas após ter ouvido o que dela registei atrás, e que se resumem no seguinte:
· Que legitimidade tem a Primeira-Dama de dar ordens a um administrador distrital?
· Estava ela, naquele momento, em actividade do seu partido ou do Gabinete da Esposa do Presidente da República – financiadas, portanto, por fundos públicos, que tem os nossos impostos como uma das fontes – a ponto de tratar o administrador de ‘camarada’? [não sou ingénuo para se apelar à ‘polissemia’ da palavra camarada…]
· Será que aquele petiz de 14 anos precisa de emprego ou de uma vaga no ‘diurno’, podendo estar, talvez, num centro internato duma escola pública, com uma bolsa do Estado? A que horas descansará e revirá a matéria aquele menino, se de dia procurar renda e de noite ir à escola?
· Diz a Lei do Trabalho que os menores que tenham entre 12 a 15 anos só podem aceder a um emprego depois que tenham sido autorizados pelos seus pais ou tutores. Quem é a Primeira-Dama para ‘obviar’ esse imperativo legal?
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