quarta-feira, 10 de novembro de 2010

FELIZ ANIVERSÁRIO MAPUTO


Maputo completa hoje, mais um ano de sua elevação à categoria de cidade. Para todo citadino de Maputo boas festa.

Olá Maputo!
No dia dos teus anos, muitas palavras são poucas para falar de tua grandeza. A grandeza real adquirida ao longo do longo tempo que por ti passou e a grandeza almejada, essa que mora na alma de todos que te querem grande, maior do que já és, grandeza que acaba sendo bem maior.
123 anos pesando sobre teus ombros, é muito e pouco tempo. O tempo tem ,feliz ou infelizmente essa coisa de relatividade. Cada um, como quer, coloca nele a “fita métrica” e lhe determina o tamanho. Para mim pouco ou muito, é tempo suficiente para teres uma existência sólida, uma história por contar.
Os que por ti passaram, grandes e pequenos(outra relatividade) deixaram certamente suas marcas, e os que hoje, usando diversas armas lutam por ti, também vão certamente colocando mais um tijolo na parede das tuas paredes. És mãe de muitos filhos.
Eu que bem de longe te vejo completar mais um ano só me resta desejar tudo de bom para ti e para teus filhos.

sábado, 6 de novembro de 2010

Renamo: passado não é futuro

O maior problema da Renamo é ela mesma. Por isso, se quiser fazer parte do futuro, tem que aprender a ver os seus próprios erros antes dos erros dos outros.
A política doméstica foi, esta semana, surpreendida com a notícia de que a Comissão Política da Renamo reuniu-se em Nampula, na presença do seu líder, e deliberou constituir uma Comissão para renegociar com o Governo moçambicano alguns aspectos do Acordo Geral de Paz. A primeira grande novidade desta notícia é a Comissão Política da Renamo reunir-se, de tão inusitado que é, efectivamente, um órgão social deste partido reunir-se formalmente. A segunda grande novidade é o líder do partido orientar essas mesmas reuniões. Na verdade, já há muito que Afonso Dhlakama se demitira de liderar o seu partido. Nós os outros, pensávamos mesmo que Dhlakama se estava a proporcionar um período sabático, que era, mais ou mesmo, um ensaio de um abandono destas coisas de política.
Por tudo isto, o facto mais relevante da reunião de Nampula da Comissão Política da Renamo é mais o encontro em si do que propriamente o quer tiver sido decidido. Em abono da verdade, Afonso Dhlakama transformou-se num líder da oposição sui generis, que merece ser estudado pelos melhores cientistas políticos deste país. Foge da capital, do protagonismo e do poder de uma forma absolutamente impressionante para quem aspira(va) governar.
Se é certo que o maior vitorioso desta desarticulação da Renamo e a ausência prolongada do seu líder é o partido no poder, não é menos verdade que o maior perdedor desta decadência é a nossa democracia. Enquanto fez política a sério, e não agora que se enclausurou numa inexplicável prisão domiciliária em Nampula, Afonso Dhlakama era, para todos os efeitos, mesmo com disparatadas intervenções amiúde, um mal necessário para a nossa política. É um líder como poucos: tem carisma e um extraordinário dom de arrastar multidões para um líder que perde 4 eleições consecutivas. O problema é que nunca ninguém, dentro do seu partido, conseguiu tirar proveito das suas qualidades. A consequência disso é que os defeitos se sobrepuseram em demasia às virtudes e mataram, precocemente, um político, que deveria ter dado mais do que se permitiu dar.
Os líderes dos partidos são determinantes para a sua afirmação, são o farol das organizações, mas  um partido que faça do seu líder um monarca, que tudo sabe e sozinho decide, não tem como se afirmar. Este foi o erro da Renamo. Viveu sempre à sombra do seu líder e nunca percebeu que um partido é a soma das partes que o constituem, partes essas que são os seus membros.
A Renamo, na verdade, foi sempre o partido do Sr. Afonso Dhlakama. Tudo sempre girou em torno do líder e está difícil acordar disso. Os seus membros sempre estiveram mais divididos do que mobilizados à volta do seu líder. Sempre se sujeitaram a clientelismos e a jogos de pequenos poderes e influências para ganharem a simpatia do líder e assim se manterem, mais ou menos, em lugares privilegiados no partido. Os que a isto resistiram, as gentes capazes, honestas e bem intencionadas que havia no partido, a seguir ao fim da guerra, sucumbiram. Aparelhos partidários como estes são assim mesmo: premeiam os caciques e mantegueiros e castigam ou amulam gente capaz.
Qual senhor feudal, com esta estratégia, Afonso Dhlakama tem sobrevivido politicamente como líder do partido, mesmo que isso seja às custas do próprio partido e do sacrifício de quadros competentes. Desaparece um tempo prolongado e, num ápice, reaparece com discursos populistas, que desviam o verdadeiro debate que se impõe dentro do partido: a necessidade de uma reflexão interna profunda que há muito deixou de existir na Renamo. Até agora, tem dado certo. São sempre os outros a caírem e o líder a sobreviver, sem nunca ter surgido uma oposição interna séria e credível para lhe fazer face.
Mas o certo é que o tempo urge para a Renamo. Ela já esperou tudo o que havia a esperar de Afonso Dhlakama. Agora, é momento de perceber que acabou o tempo de viver dos devaneios políticos do seu líder. É tempo de começar a encarar a sua própria realidade, por mais dura que seja; é tempo de perceber que o seu maior problema não é a Frelimo, não é a partidarização do Estado, da Polícia, das Forças Armadas, como propala todos os dias. O maior problema da Renamo é ela mesma. Por isso, se quiser fazer parte do futuro, tem que aprender a ver os seus próprios erros antes dos erros dos outros.
A Renamo anunciou a criação de uma comissão para renegociar com o Governo os termos de alguns aspectos do Acordo Geral de Paz. É um absurdo político 18 anos depois querer reavivar Roma. É negar todo o percurso feito pelo país desde 1992. Ao longo deste 18 anos, enquanto a Renamo adormecia, o país criou uma ordem jurídica e política própria que, felizmente, funciona e é exemplar em África. Esta ordem deve ser respeitada por todos, sem nenhuma exclusão. Não pode haver cidadãos ou instituições que se regem pela ordem normal vigente e outros pelo Acordo Geral de Paz. Mesmo que essas instituições sejam partidos políticos que lutaram e “libertaram” o paz. O AGP é agora apenas uma parte marcante da história deste país. Nada mais do que isso.
Ao evocar o AGP, hoje, a Renamo e o seu líder mostram que vivem ainda ancorados ao seu passado. Os seus discursos, invariavelmente, só sabem evocar o passado. Do presente, e sobretudo do futuro, nada se ouve deles. Um partido assim não se pode constituir alternativa de poder!

Fonte: O País

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Búfalos vindos de Marromeu

O May be man

Existe o “Yes man”. Todos sabem quem é e o mal que causa. Mas existe o May be man. E poucos sabem quem é. Menos ainda sabem o impacto desta espécie na vida nacional. Apresento aqui essa criatura que todos, no final, reconhecerão como familiar.
O May be man vive do “talvez”. Em português, dever-se-ia chamar de “talvezeiro”. Devia tomar decisões. Não toma. Sim­plesmente, toma indecisões. A decisão é um risco. E obriga a agir. Um “talvez” não tem implicação nenhuma, é um híbrido entre o nada e o vazio.
A diferença entre o Yes man e o May be man não está apenas no “yes”. É que o “may be” é, ao mesmo tempo, um “may be not”. Enquanto o Yes man aposta na bajulação de um chefe, o May be man não aposta em nada nem em ninguém. Enquanto o primeiro suja a língua numa bota, o outro engraxa tudo que seja bota superior.
Sem chegar a ser chave para nada, o May be man ocupa lugares chave no Estado. Foi-lhe dito para ser do partido. Ele aceitou por conveniên­cia. Mas o May be man não é exactamente do partido no Poder. O seu partido é o Poder. Assim, ele veste e despe cores políticas conforme as marés. Porque o que ele é não vem da alma. Vem da aparência. A mesma mão que hoje levanta uma bandeira, levantará outra amanhã. E venderá as duas bandeiras, depois de amanhã. Afinal, a sua ideolo­gia tem um só nome: o negócio. Como não tem muito para negociar, como já se vendeu terra e ar, ele vende-se a si mesmo. E vende-se em parcelas. Cada parcela chama-se “comissão”. Há quem lhe chame de “luvas”. Os mais pequenos chamam-lhe de “gasosa”. Vivemos uma na­ção muito gaseificada.
Governar não é, como muitos pensam, tomar conta dos interesses de uma nação. Governar é, para o May be Man, uma oportunidade de negócios. De “business”, como convém hoje, dizer. Curiosamente, o “talvezeiro” é um veemente crítico da corrupção. Mas apenas, quando beneficia outros. A que lhe cai no colo é legítima, patriótica e enqua­dra-se no combate contra a pobreza.
Mas a corrupção, em Moçambique, tem uma dificuldade: o corrup­tor não sabe exactamente a quem subornar. Devia haver um manual, com organograma orientador. Ou como se diz em workshopês: os guidelines. Para evitar que o suborno seja improdutivo. Afinal, o May be man é mais cauteloso que o andar do camaleão: aguarda pela opi­nião do chefe, mais ainda pela opinião do chefe do chefe. Sem luz verde vinda dos céus, não há luz nem verde para ninguém.
O May be man entendeu mal a máxima cristã de “amar o próximo”. Porque ele ama o seguinte. Isto é, ama o governo e o governante que vêm a seguir. Na senda de comércio de oportunidades, ele já vendeu a mesma oportunidade ao sul-africano. Depois, vendeu-a ao portu­guês, ao indiano. E está agora a vender ao chinês, que ele imagina ser o “próximo”. É por isso que, para a lógica do “talvezeiro” é trágico que surjam decisões. Porque elas matam o terreno do eterno adiamento onde prospera o nosso indecidido personagem.
O May be man descobriu uma área mais rentável que a especulação financeira: a área do não deixar fazer. Ou numa parábola mais recen­te: o não deixar. Há investimento à vista? Ele complica até deixar de haver. Há projecto no fundo do túnel? Ele escurece o final do túnel. Um pedido de uso de terra, ele argumenta que se perdeu a papelada. Numa palavra, o May be man actua como polícia de trânsito corrup­to: em nome da lei, assalta o cidadão.
Eis a sua filosofia: a melhor maneira de fazer política é estar fora da política. Melhor ainda: é ser político sem política nenhuma. Nessa fluidez se afirma a sua competência: ele e sai dos princípios, esquece o que disse ontem, rasga o juramento do passado. E a lei e o plano servem, quando confirmam os seus interesses. E os do chefe. E, à cau­tela, os do chefe do chefe.
O May be man aprendeu a prudência de não dizer nada, não pensar nada e, sobretudo, não contrariar os poderosos. Agradar ao dirigen­te: esse é o principal currículo. Afinal, o May be man não tem ideia sobre nada: ele pensa com a cabeça do chefe, fala por via do discurso do chefe. E assim o nosso amigo se acha apto para tudo. Podem no­meá-lo para qualquer área: agricultura, pescas, exército, saúde. Ele está à vontade em tudo, com esse conforto que apenas a ignorância absoluta pode conferir.
Apresentei, sem necessidade o May be man. Porque todos já sabíamos quem era. O nosso Estado está cheio deles, do topo à base. Podíamos falar de uma elevada densidade humana. Na realidade, porém, essa densidade não existe. Porque dentro do May be man não há ninguém. O que significa que estamos pagando salários a fantasmas. Uma for­tuna bem real paga mensalmente a fantasmas. Nenhum país, mesmo rico, deitaria assim tanto dinheiro para o vazio.
O May be Man é utilíssimo no país do talvez e na economia do faz-de- conta. Para um país a sério não serve.